Há na vida imensa solidão quando nossa voz cala... Um imenso vazio quando nosso coração já não sonha...
Os abismos da angústia e da solidão não nascem da erosão gradativa dos nossos pântanos de lágrimas...
Nossa dor maior emerge da nossa incapacidade de caminhar... De caminhar, encontrando no coração do outro a angélica ternura que é ninho acolhedor, porto seguro...
Se o caminho é a alquimia da alegria, por que o tememos tanto?...
Tememos partir, seguir... abandonando nossa gruta.
Nossos preconceitos, nossas opiniões definitivas e inquestionáveis, nosso modo de viver repetitivo e cinzento é uma escura gruta que nos separa da vida-andarilha, da vida metamorfoseante... da vida que se encanta na poesia da mudança...
Tememos mudar... Tememos perder o ancoradouro das aprovações e triunfos do status quo.
O novo é o coração do horizonte azul que guarda consigo a magia da aurora...
Podemos mudar... O ser humano é capaz de fazer-se, desfazer-se e se refazer...
Somos Homens-travessia... Humanidade tecida no caminho...
É preciso audácia e coragem... Risco e aventura...
Urge superar nossa pequenez... nossa mediocridade...
Abrir-se para a vida é permitir descobrir-se naquilo que o outro nos ativa, nossos eus não-nascidos, que dormitam na nossa vidinha de homens comuns...
Podemos ousar... Amar e servir; compreender e perdoar...
Podemos ir adiante... Sonhar e transformar...
Muitos acreditam que o mundo é tão-somente a expressão dos rodopios viscerais da natureza...
Mas, somos divinos na nossa humanidade; humanos na nossa divindade...
Podemos criar... inventar... gerar novos modos de ser e sentir, de andar e amar...
Vivemos sob a a égide do individualismo... Somos narcísicos...
Com o narcisismo e o individualismos produzimos um mundo de miséria e guerra; dominação e exclusão...
Todavia, se abrimos nosso coração ao outro, o muro cai... e descobrimos o que pode a solidariedade e a ternura, a compaixão e o amor...
Saímos da gruta... Ganhamos asas... podemos, então, borboletear...
E, ai, a vida torna-se um jardim florido... o fora de nós, um infinito azul permeado pela beleza de um céu estrelado e das noites de luar...
Excluir a diferença é empobrecer o cotidiano, restringindo-o às normatizações inibitórias da opressão...
Incluir a diversidade é conectar-se com as potências ilimitadas da imensidão... é romper com o casulo da nossa desumanidade...
Ousemos viver a ética do Bem Comum... Ousemos voar nas asas da solidariedade...
Já dizia os velhos papiros da fé: "tudo passa, mas o amor fraternal permanecerá para sempre..."
E ressoa o Rosa, no Grandes Sertões: Veredas: " O diabo não existe. se existe, existe homem humano. Travessia..."
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