quarta-feira, 15 de junho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: A VIDA VOA NAS ASAS DA LIBERDADE...

                                                              Jorge Bichuetti

Madrugada . Neblina, o gelo no ar e no coração, os vapores libertários do luar. Ontem, meu quintal, esteve na condição de aprendiz... Viu a Luínha, e ela que ama tanto a liberdade, sentindo medo, porque lhe chamamos para o quintal... e só ela não queria se aventurar. Lição da nós os velhos da racionalidade repressiva: a experimentação livre, a autogestão do cotidiano, amadurece, cria responsabilidade e dá prudência. A repressão, as proibições microfascistas que buscam governar a vida do outro infantilizam, suprime a descoberta das próprias potências e limites...Acorrenta, forjando corpos servis submissos, acovardados.
Hoje, ficamos vários minutos contemplando o quintal: seu verde e o luar.
Recordamos ao som de Chico Buarque, os tempos cinzentos da ditadura militar...E com lágrimas nos olhos, chorei nossos mortos e desaparecidos... Quanto sonho foi covardemente aniquilado nos porões da da repressão. Sozinho, eu e o orvalho que nos traz a aurora, repetimos enluarados, com dor e esperança: direitos humanos, sim; tortura nunca mais...
A voa nas asas da liberdade...
Nunca tive, como psiquiatra, dificuldade de cuidar dos que foram amados e viverem numa demasiada liberdade...
Entretanto, quanta luta, para reerguer os que machucados pela desamor e pela violência , chegam sofridos, descrentes da vida, de si mesmos e do outro...
Dos acampamentos da Espanha aos protestos do mundo árabe; da luta pela aprovação do PLC 122/06 ( lei contra a homofobia) à mobilização pela Comissão da Verdade, em tudo, escuto a vida e a vida pede passagem... A vida ama a liberdade; a senzala, os quartéis e as repressões sutis da discriminação suprimem da vida e da história a força da vida que voando, nas asas da liberdade é criatividade, altivez e ética.
Gostaria que fosse distribuído para todos o Estados do Homem de Thiago de Mello...
Fica decretado:
   "Fica proibido o uso da palavra liberdade,
   a qual será suprimida dos dicionários
   e do pântano enganoso das bocas.
   A partir deste instante
   a liberdade será algo vivo e transparente
   como um fogo ou um rio,
   e a sua morada será sempre
   o coração do homem."
Com esta emoção, eu e Luinha, vamos adia 18 de junho, às 14 horas, sob as claridades do sol, que ilumina a todos, sem exclusão, sair de casa, deixar o abrigo cálido do nosso quintal para cumprir um dever de cidadania: estaremos com dor, pelas vidas já perdidas e que pesam na lembrança, mas com muita esperança, pelas vidas que ali estarão conquistando novos passos no caminho da liberdade... Vamos marchar... Como marcham as Madres da Praça de Maio da Argentina... Vamos ousar a luta na Marcha da liberdade.
E ali nosso corpo mergulhado no espírito da paz que permeiam os sonhos de liberdade, iremos em cada passo da Marcha, sentir a dor e a esperança...
A Marcha da Liberdade, infelizmente, é uma necessidade e um dever cívico e ético...
Nós, a geração que lutamos pela anistia, pela redemocratização do país, nós que choramos nas ruas e nas praças,  a tirania que nos silenciavam e o arbítrio que mortifica o coração da vida não podemos ficar em casa...
O fascismo chega de mansinho...
E a nossa omissão se dá nos pequenos atos.
Amar a humanidade, passivamente; longe da luta que a dignifica é exercer o amor-covarde, o amor-submisso, o amor-servil; não é o amor libertário...
Mulheres machucadas, travestis apunhalados, negros marginalizados, portadores de sofrimento mental segregados, crianças vítimas do bullyng, usuários de drogas criminalizados e violados, imigrantes  estigmatizados, pobres pisoteados, os mortos do Pará... os que sofrem a violência da estigmatização e as agressões da repressão física ou mental é a humanidade crucificada.
Não lavemos nossas mãos, copiando Pilatos... Marchemos... Lutemos... Sonhemos...
A Marcha da Liberdade é ato cívico, ético é político...
Nela, canta a cidadania que já não se suportada cidadania ultrajado...
Nela, grita nossa mãe gentil que chora, diariamente, vendo seus filhos vitimizados pela opressão...
Nela, o povo diz que não deseja o desgoverno do fascismo que mora na política estatal ou na política do cotidiano, toda vez que se fere o coração da vida, negando à vida que ela floresça, brilhe e voe nas asas da liberdade.


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