domingo, 5 de junho de 2011

ONDE ANDA O AMOR?...

                                                         Jorge Bichuetti

O amor é o pão da vida; alimento e luz... Abre clareia; cria florescências... Gera alegria, dá brilho... brilho no olhar e no próprio existir.
O amor é ternura, doação, partilha, cumplicidade, aconchego, sensualidade, solidariedade, lealdade e co-responzabilização.
Ouve-se , todos os dias, que vivemos tempos difíceis para a arte de amar.
De fato, um social que se sustenta no individualismo exacerba o narcisismo, funcionamento evitativo do amor criativo. E, assim, vive-se uma crise generalizada de solidão.
E comumente vivenciamos amores traumáticos, sofridos, shakespeareanos... Caminhos para a frustração e a desilusão.
Para o institucionalismo, toda realidade que é polarizada pelo funcionamento paranóico é realidade dura, envelhecida, conservadora, e autodestrutiva... O instituído, vida de repetição que tende à monotonia, a ossificação e ao cinzento.
O amor que movimenta-se numa dinâmica de ciúme e possessividade, de isolamento e exclusão, é amor instituído, paranóico... fadado à infelicidade.
Os amores paranóicos se tramam no espectro do édipo e manuseiam no encontro os mecanismos de projeção e introjeção, as identificações projetivas, no ondear do narcisismo e da onipotência. Amor-espelho; amor-simbiose; amor-dependente; amor-complementação... Ele é um amor asfixiado e asfixiante... Levando a uma resistência que tende a sedimentar um vínculo estereotipado ou a uma negação do movimento interno pelo corrosão do vínculo num amor líquido; sem solidez...
O amor criativo e inventivo é vincular, mas inserido numa rede de conexões de vida... Ele não esvazia a vida, ela a potencializa e a enriquece...
Então, podemos, agora, tentar olhar para vida e perguntar onde anda o amor?...
Atrás do muro da solidão e nas matas verdejantes da amizade, mora a potência amorosa criativa...
Não se consegue a vivência do amor criativo os que funcionam mobilizados pela falta e pelo ideal de uma fusão narcísica totalizadora para a ilusória construção de um imperturbável prazer oceânico.
Assim, os que suportam a solidão com criatividade, alegria, conseguindo con-viver consigo mesmo e povoando a sua solidão com tribos, floras e faunas... vinculam-se, encontram o outro sem a necessidade de engolir ou ser engolidos, pois, já conseguiram aplacar a voracidade e são continentes diante da angústia; daí, podem produzir criativamente desejando, não pela falta, mas pela abundância, excesso, afirmação ativa do amor e da vida.
Os que tecem vitalizantes e diversificadas redes rizomáticas de amigos funcionam nas ramificações das multiplicidades que nos permitem, numa sociabilidade solidária, amar sem a necessidade de redução e de focalização num único objeto, como fonte soberana e absoluta da alegria e do prazer no existir.
Por isso, acreditamos que o canto das Geraes fala das dores do amor na contemporaneidade: o medo de amar é o medo de ser livre...
Só quem inventa a própria liberdade, ama longe da paradigma da servidão...

18 comentários:

SOL da Esteva disse...

Jorge Bichuetti

Atrevo-me a plagiar o Amigo:"O amor é ternura, doação, partilha, cumplicidade, aconchego, sensualidade, solidariedade, lealdade e co-responsabilização."

Quando os sentimentos estiverem neste caminho, a harmonia e o Amor, existem e perduram.
Se forem desviantes, não há mais Amor.

Abraço

SOL da Esteva

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

SOL: amigo, essa sua reflexão me leva a pensar na escrita coletiva, que fizzemos no utopia , mas precisamos voltar; pois, sua consideração me parece... necessária. Abraços com carinho, um belíssimo poema hoje. Estive no SOL de Esteva é u'a poesia que dá vida a este singelo texto... Abraços com carinho, jorge

CLARA disse...

Impossivel não comentar este texto me fez repensar sobre alguns sentimentos que tenho arraigados em mim - li e reli várias vezes...
Bom domingo
Clara

Marta Rezende disse...

Muito bom Jorge, bebo suas palavras como se fossem escritas para mim. Sei que não são, mas tomo-as. beijo Marta

Paulo Francisco disse...

Tudo não resulta na famigerada individualidade? No não-compartilhar?
Um abraço.

Anônimo disse...

Dr. Jorge,
Acho que são varios os tipos de amor,mas o amor de mãe é incomparável.E não é que como mãe ando revoltada. Meu genro entende de amor igual eu de psiquiatria.
Estou revoltada, sofrida.Ciumento, chato,arrogante,possessivo e me maltrata discretamente.Estou um bagaço!E se eu resolver dar o troco? De

Anne M. Moor disse...

Aiiiiii Jorge, que assunto difícil esse... E tão bem descrito por ti!

beijão
Anne

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Marta, o amor é redemoinho na esquina da vida de tpdps nós; abraços com carinho, jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Paulo, precisamos superar o individualismo e descobrir o outro na ternura da partilha; abraços com carinho, jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Denise, o amor é doação, tolera e concentre-se no seu amor a seus filhos... A briga é desgaste inútil.
Abraços com carinho, jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, a grande dor de todas as vidas: o amor e seus espinhos; abraços com carinho, jorge

Adilson Shiva - Rio de Janeiro - Brazil disse...

A contemporaneidade faz insistentemente um apelo ao sexo, subverte Eros e oblitera o amor. O amor como um enigma, não se deixa enganar. O amor é mítico por excelência, não se deixa classificar, repelindo as tentativas de classificação ou definição, só permitindo uma aproximação na metáfora, ora hiperbólica, ora diminuta e sutil. Por isso e, talvez só por isso, possamos trazê-lo à palavra na poesia, um campo mítico também por excelência. Haja vista que a literatura nunca deixou de falar do amor.
Mas existe um vazio conceitual que dificulta a expressão do amor no mundo contemporâneo. A nossa humanidade caminha só, mesmo estando lado a lado com o Outro, a relação que se estabelece é superficial, de contigüidade, raramente um feliz e verdadeiro encontro. Se não há Outro, o que existe é um amor baseado na precariedade da falta, uma suplência narcísica, tentando fazer “UM”. Talvez a subversão do amor pelo sexo seja isso, uma relação objetal, num discurso que não faz laço social, que não é outro senão o discurso do capitalista, onde há sempre um objeto para o sujeito, disfarçando a impessoalidade que fundamenta essas relações, na medida em que o contato físico simula o encontro, mas não aquilo que o amor se propõe - UNIÃO

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Adilson, um belíssimo texto - u'a reflexão que desnuda o sexo num complexo evitativo do amor... Um estar não-vincular... U' coisificação do noutro que vira espelha e espelho pulveriza-se e sobra o nada.
Abraços com ternura, jorge Bichuetti

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Clara, só agora vi seu comentário... o amor nos revoluciona... imquieta e acolhe; talvez sejamos todos aprendizes... da arte de amar.
Abraços ternos, jorge

Guilherme disse...

"Só quem inventa a própria liberdade, ama longe da paradigma da servidão..."

Bravo...
Belo texto...
To zanzeando por aqui.
abraços.
guilherme

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Guilherme, o amor é espaço liso, se o estriamos nada sobra deste vento libertário; abraços com carinho, jorge

Um pouco de mim Rosi Alves disse...

Emudeci ate mesmo porque me falta
Palavras acabaram descobrir que se
Tivermos muita emoção às palavras
Alçam vôo só me resta sentir.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Rosi, é asas do ser humano... com ela voamos; jorge