Jorge Bichuetti
O amor é o pão da vida; alimento e luz... Abre clareia; cria florescências... Gera alegria, dá brilho... brilho no olhar e no próprio existir.
O amor é ternura, doação, partilha, cumplicidade, aconchego, sensualidade, solidariedade, lealdade e co-responzabilização.
Ouve-se , todos os dias, que vivemos tempos difíceis para a arte de amar.
De fato, um social que se sustenta no individualismo exacerba o narcisismo, funcionamento evitativo do amor criativo. E, assim, vive-se uma crise generalizada de solidão.
E comumente vivenciamos amores traumáticos, sofridos, shakespeareanos... Caminhos para a frustração e a desilusão.
Para o institucionalismo, toda realidade que é polarizada pelo funcionamento paranóico é realidade dura, envelhecida, conservadora, e autodestrutiva... O instituído, vida de repetição que tende à monotonia, a ossificação e ao cinzento.
O amor que movimenta-se numa dinâmica de ciúme e possessividade, de isolamento e exclusão, é amor instituído, paranóico... fadado à infelicidade.
Os amores paranóicos se tramam no espectro do édipo e manuseiam no encontro os mecanismos de projeção e introjeção, as identificações projetivas, no ondear do narcisismo e da onipotência. Amor-espelho; amor-simbiose; amor-dependente; amor-complementação... Ele é um amor asfixiado e asfixiante... Levando a uma resistência que tende a sedimentar um vínculo estereotipado ou a uma negação do movimento interno pelo corrosão do vínculo num amor líquido; sem solidez...
O amor criativo e inventivo é vincular, mas inserido numa rede de conexões de vida... Ele não esvazia a vida, ela a potencializa e a enriquece...
Então, podemos, agora, tentar olhar para vida e perguntar onde anda o amor?...
Atrás do muro da solidão e nas matas verdejantes da amizade, mora a potência amorosa criativa...
Não se consegue a vivência do amor criativo os que funcionam mobilizados pela falta e pelo ideal de uma fusão narcísica totalizadora para a ilusória construção de um imperturbável prazer oceânico.
Assim, os que suportam a solidão com criatividade, alegria, conseguindo con-viver consigo mesmo e povoando a sua solidão com tribos, floras e faunas... vinculam-se, encontram o outro sem a necessidade de engolir ou ser engolidos, pois, já conseguiram aplacar a voracidade e são continentes diante da angústia; daí, podem produzir criativamente desejando, não pela falta, mas pela abundância, excesso, afirmação ativa do amor e da vida.
Os que tecem vitalizantes e diversificadas redes rizomáticas de amigos funcionam nas ramificações das multiplicidades que nos permitem, numa sociabilidade solidária, amar sem a necessidade de redução e de focalização num único objeto, como fonte soberana e absoluta da alegria e do prazer no existir.
Por isso, acreditamos que o canto das Geraes fala das dores do amor na contemporaneidade: o medo de amar é o medo de ser livre...
Só quem inventa a própria liberdade, ama longe da paradigma da servidão...
domingo, 5 de junho de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
18 comentários:
Jorge Bichuetti
Atrevo-me a plagiar o Amigo:"O amor é ternura, doação, partilha, cumplicidade, aconchego, sensualidade, solidariedade, lealdade e co-responsabilização."
Quando os sentimentos estiverem neste caminho, a harmonia e o Amor, existem e perduram.
Se forem desviantes, não há mais Amor.
Abraço
SOL da Esteva
SOL: amigo, essa sua reflexão me leva a pensar na escrita coletiva, que fizzemos no utopia , mas precisamos voltar; pois, sua consideração me parece... necessária. Abraços com carinho, um belíssimo poema hoje. Estive no SOL de Esteva é u'a poesia que dá vida a este singelo texto... Abraços com carinho, jorge
Impossivel não comentar este texto me fez repensar sobre alguns sentimentos que tenho arraigados em mim - li e reli várias vezes...
Bom domingo
Clara
Muito bom Jorge, bebo suas palavras como se fossem escritas para mim. Sei que não são, mas tomo-as. beijo Marta
Tudo não resulta na famigerada individualidade? No não-compartilhar?
Um abraço.
Dr. Jorge,
Acho que são varios os tipos de amor,mas o amor de mãe é incomparável.E não é que como mãe ando revoltada. Meu genro entende de amor igual eu de psiquiatria.
Estou revoltada, sofrida.Ciumento, chato,arrogante,possessivo e me maltrata discretamente.Estou um bagaço!E se eu resolver dar o troco? De
Aiiiiii Jorge, que assunto difícil esse... E tão bem descrito por ti!
beijão
Anne
Marta, o amor é redemoinho na esquina da vida de tpdps nós; abraços com carinho, jorge
Paulo, precisamos superar o individualismo e descobrir o outro na ternura da partilha; abraços com carinho, jorge
Denise, o amor é doação, tolera e concentre-se no seu amor a seus filhos... A briga é desgaste inútil.
Abraços com carinho, jorge
Anne, a grande dor de todas as vidas: o amor e seus espinhos; abraços com carinho, jorge
A contemporaneidade faz insistentemente um apelo ao sexo, subverte Eros e oblitera o amor. O amor como um enigma, não se deixa enganar. O amor é mítico por excelência, não se deixa classificar, repelindo as tentativas de classificação ou definição, só permitindo uma aproximação na metáfora, ora hiperbólica, ora diminuta e sutil. Por isso e, talvez só por isso, possamos trazê-lo à palavra na poesia, um campo mítico também por excelência. Haja vista que a literatura nunca deixou de falar do amor.
Mas existe um vazio conceitual que dificulta a expressão do amor no mundo contemporâneo. A nossa humanidade caminha só, mesmo estando lado a lado com o Outro, a relação que se estabelece é superficial, de contigüidade, raramente um feliz e verdadeiro encontro. Se não há Outro, o que existe é um amor baseado na precariedade da falta, uma suplência narcísica, tentando fazer “UM”. Talvez a subversão do amor pelo sexo seja isso, uma relação objetal, num discurso que não faz laço social, que não é outro senão o discurso do capitalista, onde há sempre um objeto para o sujeito, disfarçando a impessoalidade que fundamenta essas relações, na medida em que o contato físico simula o encontro, mas não aquilo que o amor se propõe - UNIÃO
Adilson, um belíssimo texto - u'a reflexão que desnuda o sexo num complexo evitativo do amor... Um estar não-vincular... U' coisificação do noutro que vira espelha e espelho pulveriza-se e sobra o nada.
Abraços com ternura, jorge Bichuetti
Clara, só agora vi seu comentário... o amor nos revoluciona... imquieta e acolhe; talvez sejamos todos aprendizes... da arte de amar.
Abraços ternos, jorge
"Só quem inventa a própria liberdade, ama longe da paradigma da servidão..."
Bravo...
Belo texto...
To zanzeando por aqui.
abraços.
guilherme
Guilherme, o amor é espaço liso, se o estriamos nada sobra deste vento libertário; abraços com carinho, jorge
Emudeci ate mesmo porque me falta
Palavras acabaram descobrir que se
Tivermos muita emoção às palavras
Alçam vôo só me resta sentir.
Rosi, é asas do ser humano... com ela voamos; jorge
Postar um comentário