A contemporaneidade faz insistentemente um apelo ao sexo, subverte Eros e oblitera o amor. O amor como um enigma, não se deixa enganar. O amor é mítico por excelência, não se deixa classificar, repelindo as tentativas de classificação ou definição, só permitindo uma aproximação na metáfora, ora hiperbólica, ora diminuta e sutil. Por isso e, talvez só por isso, possamos trazê-lo à palavra na poesia, um campo mítico também por excelência. Haja vista que a literatura nunca deixou de falar do amor.
Mas existe um vazio conceitual que dificulta a expressão do amor no mundo contemporâneo. A nossa humanidade caminha só, mesmo estando lado a lado com o Outro, a relação que se estabelece é superficial, de contigüidade, raramente um feliz e verdadeiro encontro. Se não há Outro, o que existe é um amor baseado na precariedade da falta, uma suplência narcísica, tentando fazer “UM”. Talvez a subversão do amor pelo sexo seja isso, uma relação objetal, num discurso que não faz laço social, que não é outro senão o discurso do capitalista, onde há sempre um objeto para o sujeito, disfarçando a impessoalidade que fundamenta essas relações, na medida em que o contato físico simula o encontro, mas não aquilo que o amor se propõe - UNIÃO
AMOR
Esta flor murcha sobre a cama;
este silêncio... num canto da
vida quedou estático o sonho...
Esta lágrima que cai, lenta;
este vento... num instante,
evaporou-se o meu grito e
só... entre pedras, lamento
este vazio... nunca saberei
porque tornou-se oco e seco
o que era o sacrassanto e o
profano... sublime céu do
caminho, nosso deus vivo
de carne e osso e nome
amor... ontogenético e
cosmonauta deus... amor...
Éramos a alegria da flor... Jorge Bichuetti
- "O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar." Carlos Drummond de Andrade
- "A medida do amor é amar sem medida." Victor Hugo
16 comentários:
Infelizmente o que vemos muito hoje em dia é um amor comercial e egocêntrico. Com isso o fracasso e a decepção é só questão de tempo.
Grande abraço meu amigo e aguardo sua presença lá no Fragmentos onde voltei a fazer postagens.
Ótima semana!
Deus seja contigo
Wilson,o amor é o grande desafio do ser humano; se amammos, crescemos e somos ativados pela solidariedade. Abraços com ternura, jorge
Belo conjunto de textos neste post. Nunca acabaremos esta reflexão sobre o amor! E ainda bem :-)
beijos
Anne
O amor sim, ele nem se pode definir... Gosto da profundidade do texto, mesmo que minha capacidade mergulhadora não me permita conhecer toda a sua dimensão. Lerei de novo. Essa ideia final sobre o sexo me fez pensar num texto meu esquecido que diz algo assim:
'O sexo é uma forma maravilhosa de entrar no mundo de outra pessoa, sempre que entrar no mundo de outra pessoa não seja um caminho para o sexo' Acho que intuitivamente concordava já com o que diz o Adilson... Um abraço com ternura para a todo que ler este comentário, Concha
E que intenso o teu poema, Jorge! O amor faz que não nos sequemos como as folhas do outono... nem quando o nosso corpo morre o amor seca, o amor continua vivo em quem nos amou em vida e em quem nós amamos... Amor nós faz eternos... Abraços com carinho, Concha
Anne, o tema do amor continua; me parece também maravilhoso que persistamos tentando entender e nos mudar pra amar mais e mais profundamente... Abraços com carinho, jorge
Concha: secamos se caimos no desamor, o amor vitaliza, energiza e nos abre pra vida... O texto do Adilson, uma profunda reflexão, me pos , reflexivo... O outro deve ser nossa ponte para a mim e não u'a imerso nos redemoinhos de nós mesmos... Abraços com caroinho, jorge
Boa postagem, ótimas considerações do autor sobre o vazio do amor, atrelando um certo narcisismo ao capitalismo. Um poema belo também sobre o fim do amor. Forte abraço, meu amigo.
Gostei bastante deste post. Jorge, tua poesia é cativante. Adilson, um pequeno tratado sobre o amor nos tempos pós-modernos, tempos de Bauman. Bj.
Penso na proposta do amor ...A união, como disse o Adilson...Mas com dificuldade, posto que vivemos uma contemporaneidade imediatista de produtos e pessoas descartáveis e deletáveis, onde coisificamos tudo...onde tudo se tormou banal...Ora se o Amor é UNIÃO e tão desejado por todos, creio descabido tudo isso...entristece-me saber essas possibilidades que a vida moderna nos oferece!Contudo, ainda creio no AMOR genuíno...o qual tudo suporta, tudo espera e tudo crê !Precisamos espalhar a sementeira desse AMOR...Regá-la para que possa germinar forte e robusta!
Abraços de carinho ao Adilson e ao Jorge.
Campanella, visitarei-o pois estou com saudade da sua poesia; minha cachaça como sentia o velho drummond.
Abraços ternos, jorge
Tânia: estive até tarde resolvendo o grupo de hoje, ponta-pé inicial na nov fase da Upop-JA.
O amor é cativante.
Hoje, depois da reunião , vou fazer um café, lhe escrever e visitá-la, pois a saudade é grande, embora a sinto presente na labuta de organização da Upop-JA.
Abraços com carinhos e beijos, jorge
Este ótimo texto do Adilson vem em boa hora. Cada dia vejo mais estatísticas e menos AMOR... Fico apenas no titulo de artigo na "folha" de ontem:
07/06/2011 - 08h30
Amor acaba antes da 'crise dos sete anos', dizem estudos
GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO...
..................(amor agora tem prazo de validade, como latinha de prateleira)...........
paulo
Paulo, também, achei cheio de lucidez e um chamado pra vida do amor união,
Abraços com carinho, jorge
Ficou lindo isso ...o amor realmente faz refletir ...mesmo que às vezes de forma evanescente... Um abraço carinhoso a todos
Adilson, sempre nos oferece um clarão e um horizonte instigante e inovador; abraços com carinho, jorge
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