sexta-feira, 3 de junho de 2011

SINGULARIDADE, INCLUSÃO SOCIAL E DEVIR - ONDE ANDAM OS VENTOS DO PORVIR?...

                                                 Jorge Bichuetti

Amigos, um texto singelo para uma questão grave e valiosa... Porém, a abertura, neste espaço das nossas trocas, de um diálogo sobre a contemporaneidade e as perspectiva da história no nosso caminho de lutas e sonhos.
Perguntam: são os acampamentos da Espanha, Portugal e Grécia, uma insurgência revolucionário ou tão só são as ruminações claudicantes de uma classe média jogada no desespero da miséria?...
Antes de começar, a pensar, considero a profunda dificuldade da esquerda de entender a vida e a história, as lutas sociais e os acontecimentos, que não reproduzem seus programas dogmáticos e restritivos.Vide Che, o maio de .68, o Zapatismo, as Madres de Plaza de Mayo, a economia solidária, as lutas das minorias e novos movimentos sociais... A esquerda se prende, frequentemente, aos limites do programa sem historicizar a vida e a sociedade com suas mudanças e suas movimentações... O socius escapole ao diagrama rígido da polarização Capital/trabalho, burguesia e proletariado, e não entendendo a passagem da sociedade disciplinar para a sociedade mundial de controle e o funcionamento da globalização excludente, do império, não logram ver que a luta de classes pode fluir fora da contradição fundante, mas viva e voraz pode repercutir nas capilaridades do poder excludente e das idiossincrasias do Capital, um xeque-mate à sobrevivência e reprodução do capitalismo e do próprio Capital.
O socialismo pode nascer da incapacidade do capitalismo de conviver com a singularidade, com a inclusão social e com o devir...
O modo de existir é questionado frontalmente por estes movimentos que apontam para uma nova sociabilidade solidária e includente, libertária e desejante...impossível de se dar na subjetividade assujeitada do capitalismo.
Neste sentido, as lutas das multidões e os movimentos singulares são insurgentes, rebeldes e revolucionários... Clamam por um outro mundo possível.
Que continuará frouxo e limitado, enquanto o socialismo for a ditadura do proletariado, previamente definida, e fadada às burocratizações que a história revela reprodutoras da subjetividade capitalística...
Era essa a discussão de Che Guevara quando dizia sobre o papel do homem novo num socialismo libertário que não reproduziria o individualismo, a competição, o poder vertical, o narcisismo e a racionalidade pragmática...
As lutas que focam o direito à diferença apontam para um socialismo autogestivo que movimente-se como um rizoma solidário e plural...
Quando se nega um modelo prévio, não se nega a alma do socialismo, nega-se sua roupagem... onde este é dado e não inventado -produzido transversalmente na inter-ação das diversas subjetividades...
Muitos tenderão a ver aqui um texto teoricista... Não é texto que tenta somente dizer que estas lutas convocam a esquerda a sair do dogmatismo e entender que cabe pensar a vida e a utopia, dialogando com formulações que se lidas  sem preconceitos seriam percebidas como novidades que atualizam o que Trotsky desenhou no programa de transição...
O programa de transição via com pertinência as dificuldades de se realizar no capitalismo as tarefas burguesas - reforma agrária, estado nacional-democrático e direitos civis e sociais...
Agora, afirmativamente, vemos novos movimentos que dizem que existem na temática da singularidade, da inclusão social e do devir... reivindicações que não cabem no mundo de exploração, opressão e mistificação, no capitalismo, nem no socialismo burocrático...
O cuidar de si e dos dispositivos de Foucault; a singularidade, o rizoma, o devir, a diferença e a máquina de Guerra de Deleuze-Guattari são instrumentais que apontam para a compreensão de que o socialismo libertário, instituinte, autogestivo e autonalítico, transversal... pulsam na pele destes movimentos sociais que claramente se revelam máquinas que funcionam como sociedade de amigos, e que lutam "por uma novo Terra, por um povo por-vir.".

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