Fui
Houve um tempo em que fui índia
e corri descalça pelo campo
sem saber que o campo era meu
mas era
sem eu saber e sem saber o campo
-
e era livre sem saber que era
-
eu era...
sem saber que existia não ser
sem ter que achar palavra para o ser
eu era...
-
e agora ando à procura
sabedora de que eu fui
retorno à minha memória
e tudo muda de lugar como pó ao vento
inclusive aquilo que era eterno
ficou velado pelo tempo presente
sem futuro
sem pés nus
sem relva orvalhada a me inundar o espírito
...
nesse tempo que fui índia
fui água
fui rio
e fui lagoa...
sem saber que era
e agora volto a esses lugares inexistentes
e despovoam-se minhas memórias
e fui águia e amei a montanha
e ela que eu habitasse seu céu
e fui lobo a encher de som a noite
e fui lua que ama a terra
sem saber que a ama
e fui pessoa sem saber que era
-
e agora sou nada
e nem posso reter o que fui
tudo tornado areia no deserto da minha memória
sei que hei de voltar a mim
um dia
que hei de reclamar meu ser
um dia
mesmo ser eu sem saber que sou eu
mesmo ser tu sem saber que sou tu
mesmo ser pó sem saber que sou pó
Concha Rousia poeta da Galiza
e corri descalça pelo campo
sem saber que o campo era meu
mas era
sem eu saber e sem saber o campo
-
e era livre sem saber que era
-
eu era...
sem saber que existia não ser
sem ter que achar palavra para o ser
eu era...
-
e agora ando à procura
sabedora de que eu fui
retorno à minha memória
e tudo muda de lugar como pó ao vento
inclusive aquilo que era eterno
ficou velado pelo tempo presente
sem futuro
sem pés nus
sem relva orvalhada a me inundar o espírito
...
nesse tempo que fui índia
fui água
fui rio
e fui lagoa...
sem saber que era
e agora volto a esses lugares inexistentes
e despovoam-se minhas memórias
e fui águia e amei a montanha
e ela que eu habitasse seu céu
e fui lobo a encher de som a noite
e fui lua que ama a terra
sem saber que a ama
e fui pessoa sem saber que era
-
e agora sou nada
e nem posso reter o que fui
tudo tornado areia no deserto da minha memória
sei que hei de voltar a mim
um dia
que hei de reclamar meu ser
um dia
mesmo ser eu sem saber que sou eu
mesmo ser tu sem saber que sou tu
mesmo ser pó sem saber que sou pó
Concha Rousia poeta da Galiza
Publicado no Recanto das Letras em 22/05/2008
4 comentários:
CONCHITA, OUÇA A BRISA...
Conchita voce diz que habita minha carne, e te sinto.
Contas dos lagos e montanhas e vôo neles contigo.
Corres pelas relvas perdidas com meus pés cansados...
Sei que sou tu, e que somos pó de luz, somos eternos.
Conchita, no sagrado culto do mato,
me sinto nas garras do falcão escasso,
as principalmente, me sinto na tua lingua doce-amarga de fel.
Quando tudo nos foge, moves tua lingua que enfeitiça palavras,
que arrepia, corta minha pele, minha memória, me ressucita,
arranca lembranças, paraisos escoados pela malha do tempo,
tremula-me, ensina-me outra vez a plenitude da vida.
Nada perdeste, Conchita, tens o universo na tua lingua.
Paulo junho2011
Paulo, belíssimo poema: um encanto; abraços ternos, jorge
Paulo...
Senti a brisa, passou aqui vi-a com os olhos da pele, esses que nunca nos enganam... Que beleza esse teu texto, de arrepiar a pele da alma, fico sem palavras que possam levar nelas a emoção, vou senti-la, só senti-la, sei que depois a brisa passará de novo com calma e eu poderei entender o poema que ela me dita... Abraços ternos para ti, para o Jorge e para quem necessitar deles, Concha
Concha, levarei comigo teu abraço e os multiplicarei... abraços ternos, jorge
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