sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

em crise




EM CRISE



Jorge Bichuetti


A vida é um empreendimento que se realiza na turbulência de um cotidiano marcado pela contradição entre estabilidade e desordem, criação e morte, caos e organização.

O homem caminha... E no caminho segue com seus mitos e medos, sonhos e limitações.

Quase sempre, evitamos tomar consciência de que existir é trilhar por experiências e vivenciar os dilemas do crescimento. Crescer é imprescindível; estagnar-se é morrer...

A morte pode ser vista como um fim.

Fim - final, finalidade? Transição entre o caos e a organização criativa de uma novidade no real.

Tememos as crises. Vemos crise: na economia, é a falência, o desemprego, as dívidas... na vida humana, é o sofrimento, o vazio, a loucura...

Por norma, acreditamos que estar em crise é um sintoma de uma vida com estragos, com desenganos e com perda de sentido. Sofremos... e nos percebendo em crise, decretamos que a crise em si é diagnóstico: vida falida.

Estas sensações explicitam mais algo das habilidades humanas: sabemos gerir a rotina, classificamos de tranquilo o previsto pela comodidade do estável; e nos sentimos num clima de terror quando somos obrigados a administrar nossos momentos de instabilidade.

Todavia, crescemos nas crises. São estes momentos, os momentos de crise, que refazemos o conteúdo de nossas existências.

A crise produz...

Em crise, a pessoa questiona: seus valores, seus costumes, seus posicionamentos.

Enfim, constatamos o rumo de nossos caminhos e como se numa encruzilhada mudamos nosso destino.

A estagnação, a vida ordenada é sentida como bem-estar. A segurança de um roteiro a ser vivido. Porém, acumula-se tensão... Um quantum de experiência que possibilita tensionar a resistência, a expectativa de que tudo permaneça igual, gerando, assim, condições de mudar.

O homem é ser mutante...

Mudamos nossas vidas. Mudamos o mundo.

O difícil da crise é que ela nos analisa... Diz: a vida pode ser aperfeiçoado, enriquecida... Ela nos fala: há de mudar.

Diante da mudança, emerge, então, os nossos velhos medos. Medo de perder o que se possui, e já não nos é útil, e medo das conquistas, do novo, com correspondente medo de se ser atacado, destruído ou amaldiçoado pela inveja do que é arcaico no mundo e vive no temor de toda diferença.

Parece, assim, que em crise é hora de cantar. Com o coração de menino, fazer refrão, cantarolando pelas estradas: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz... Cantar, e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz...”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Incrível!
Com toda a certeza, a crise nos possibilita em pelo menos momentaneamente mergulhar no universo de nós mesmos...

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

A crise nos coloca diante de nós...
Inclusive e principalmente diante das inúmeras possibilidades que existem como virtualidades potentes em nós e que nunca ousamos experimentar.
Podemos devir...
Bifurcar caminhos...
Reinventar a própria vida. jorge bichuetti