O cheiro do café despertou a Luínha... Madrugada de inverno, aconchego... Ela não quis o sereno, recolheu-se e me olhou, assim, meio como o mundo e os psis olham para a dor humana, antevendo as linhas da minha loucura. Na escuridão da noite, a minha loucura sussurrava versos de amor e ternura: os álamos quietos, a roseira cheirosa, revelando-me sua boêmia; ela se entrega amorosa na madrugada. Andei e me senti acolhido pelo novo dia que começa... Não senti o oco, o vazio... da solidão.
A solidão permeia a vida no cotidiano frenético da hiperocupação e do isolamento individualista do nosso tempo.
Solitário, o ser humano se contrai, engolhe e sente um barco à deriva na imensidão do mar...
A sociedade induz uma vida paranóica, individualista e de simulação...
Evitamos os vínculos; lamuriando a nossa insuportável solidão.
Fugimos do outro e nos aliviamos na ilusão de que somos integrados indo em grandes festas, vestindo o que nos faz sentir pertencentes a um mundo e vivendo na toca da tecnologia na evitação do encontro.
Ninguém suporta o mundo sem o outro.
O outro me presentifica... e me faz ético. Me desperta humanidade: amor e ódio; alegria e tristeza; palavra e silêncio; cólera e serenidade; esperança e desesperança...
A vida é paradoxal; o ser humano é grande paradoxo...
O linear e monotonia afetiva e emocional só se sustenta no isolamento.
Isolamo-nos e sofremos... Doídos, choramos... porém, acreditamos que tudo se explica no paradigma da vitória. E aí mergulhamos mais fundo no isolamento, ocupando-nos de vencer, acumular, triunfar...
Tememos confessar , para nós mesmos e para o mundo, que carecemos urgentemente de ombro, colo, parceria, cumplicidade, partilha...
Esta é uma solidão estéril, despovoada; ou melhor, habitada pelo ilusionismo da vida como um território de realização pessoal: mercado e competição.
A simbiose, a totalização no e com o outro, é subserviência e acomodação, prazer oceânico simulado... dissimulado.
O ser humano é ser de encontros...
Há outra solidão... Fértil, florescente, cheia de clarões e clareiras...
É a solidão que me revela e me revela ser coletivo... Solidão que busca o encontro...
Solidão que se povoa de gente, singularidades vivas; livros, canções e poesias...
É a solidão partilhada... Solidão povoada de ternura, generosidade, amizade, paixão, vida de trocas...
Afirma Arduini que a solidão partilhada é o espaço onde dá o encontro no mundo. Encontro com o outro e com o próprio mundo.
"Somos todos desertos, povoados de tribos, floras e faunas" - diz Deleuze.
Assim, nasce o encontro com a liberdade de ser e existir , singularidades vivas e pulsantes, que partilham a estrada permeando o caminhar com encontros num horizonte das experimentações do amor sem fronteiras.
Neste contexto, que ecoa aqui a compreensão do Fórum Social Mundial que vê na solidariedade o novo mundo emergindo no agora das vidas partilhadas num mágico existir.
Entre pedras, flores...
Na solidão, o povoamento, o encontro... no outro, o amor e a amizade, o companheirismo... Nossa coletivização não-totalizante, porém, vida de partilha.
Amar é partilhar o caminho; e se a solidão narcisista é empobrecimento e desumanização; o amor é a solidão que supera o isolamento, agrupa-se e num devir humanidade desbrava no brilho do horizonte, a coragem e a audácia do próximo posso, do seguir andarilho, peregrino, caminhante nas trilhas que busca o alvorecer.dia 11/06/2011 - encontro mensal da universidade popular Juvenal Arduini...
a educação em movimento no caminho da libertação...
por uma nova terra, por um povo por-vir
2 comentários:
Onde vai ser o encontro? Ando meio desligada...kkkk
Alzira; o encontro será na Creche Coração de Maria; Av Nossa Senhora do Desterro; 545. Ali onde era o corredor.
Vamos; depois celebramos com alegria; Abraços com carinho; jorge
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