quarta-feira, 1 de junho de 2011

POESIA: ASAS DO VENTO

HAIKAIS LORQUIANOS
Jorge Bichuetti

ondeando no ar, vi
estrelas chorosas, querendo
na terra amar...

os deuses, então,
vieram e já decidiram:
aqui vão procriar...


                  FLORESCER NO MEIO-DIA
                                                     Jorge Bichuetti

Sob o sol escaldante
das lutas intempestivas,
a vida floresce altiva
na luz do meio-dia...

Floresce na correnteza,
ruflante e voraz,
nas águas caminhantes,
buscando um braço de mar...

Floresce na ventania
com as folhas do outono
onde o universo condensa
as sementeiras do meio

do caminho, sonhador;
u'a nova primavera,
atemporal e primeva,
nascendo no chão da rua,

junto com a liberdade
que colore o horizonte,
dando canto e alegria:
ave, vida remoçada...


                  ÊTA, MUNDÃO DOÍDO
                                                       Jorge Bichuetti

No torvelinho das horas
atravesso os séculos
na ruela de um segundo;
e alucino angústias
que sangram invisíveis
nas crateras do mundo...


                                    LUA
                                         Jorge Bichuetti

A Lua não espera
o tempo de brincar,
vê o sol e já deseja
travessuras e rua,
um inquieto vadiar...

Eu não sei esperar:
a noite tarde chega
e no clarão do dia
os meus braços vazios
a queria aninhada...

porém, juntos dormimos
nossos sonhos de luar..

                                ESCRITO DA LUA
                                                   Jorge Bichuetti

No quintal, vi escrito
um bilhete de menina;
era a Lua chorando
a seriedade do pai
que dia e noite está
num cinzento labutar...


4 comentários:

Concha Rousia disse...

Como a tua poesia me faz consciente da beleza, jorge... E sabes, a lua gosta de visitar o teu quintal... ela ama quintais, rs...
Abraços com carinho e luar... Concha

No meu quintal 5: A lua

Hoje como tantas outras noites
ia eu a caminho de Santiago
era uma noite de Lua-cheia
de Lua rainha que sempre esta aí
de Lua senhora
constante
paciente...
mas esta noite a lua
queria brincar
meteu-se dentro do meu carro
foi de repente que me olhou sorrindo
e depois desapareceu entre os prédios
pensei que se tinha ido...
mas ao passar a Ponte-Pedrinha vi-a no alto da Torre
mostrando-me seu poderio
senti desejos de parar a admirá-la
mas a estrada pediu-me desafiar a lua a uma corrida
corremos loucamente
como se nada
nem ninguém além nós existisse no mundo
mas chegamos ao cais e ela continuou mar adentro
enquanto eu tive que parar
então fugi dali decidida abandonar o jogo
com intenção de que se chateasse comigo
e me deixasse ir ouvindo a minha música
mas de repente saiu-me mais uma vez no caminho
estava lá subida no topo dum enorme carvalho
onde ela sabe eu não posso ir com meu carro
embora sim com meus olhos...
eu sorrio e tomo uma curva desafiando-a
ela então jogando-me a volta foi-se para detrás
e dedicou-se a seguir-me sem que eu a visse
eu segui guiando imaginando seu sorriso
pendurado lá no alto da noite que se desfaz sobre mim
Entro no quintal arrumo o carro e desço
e lá estava ela aguardando-me
altiva, apegada ao pano estrelado
como se nunca se tivesse movido dali
parecendo simplesmente a lua subida no lugar da lua

Concha Rousia poeta da Galiza
Publicado no Recanto das Letras em 04/08/2010
Código do texto: T2417324

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Concha, a Lua e Luina são presenças vivas nos quintais: recanto da paz e das buscas que alimentam nossas caminhadas pelas travessias do destino... Amei seu poema; buscarei um belo luar de quintal e vou encantá-lo na magia da utopia ativa; sua poesia flui com u'a ternura vitale um olhar sensível, dialogando coma vida entranhaa nela... São belíssimas. Abraços com ternura, jorge

Anônimo disse...

Dr.Jorge,o bailarino de que falei é o Jorge Donn. Ele já faleceu.Mas a sua foto aqui apresentada parece muito com ele.
Desculpe qq coisa. Denise

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Denise, não há por desculpar-se; a vida é bela se nos compreendemos e seguimos no caminho das partilhas e sonhos, com nossas singularidades... Abraços com carinho, jorge