JORGE BICHUETTI
Quem somos? Nietzsche afirma que somos "um entre o animal e o além-do homem, uma corda sobre o abismo".
Arduini que somos sementes, arquitetos de nós mesmos, capazes de nos reconstruirmos.
Deleuze-Guattari- somos permanentes e indomáveis devires... "Metamorfoseantes" ( Orlandi).
E o abismo está na nossa vida, na nossa rua, aqui, entre nós...
Um garoto franzino de olhar triste e carente fuma uma pedra de crack e petrifica sua prípria vida...
Uma mulher esconde os hematomas com sua gola alta e a vilência doméstica continua ceifando vidas.
Homens, mulheres, crianças , jovens, velhos dormem e se esquetam com jornais descoloridos pela omissão de todos e eles seguem... com menos vida.
O ar poluído, as queimadas, a fumaça dos carros e das fábricas, o lixo, as árvores cortadas, a planeta agonizante... conta os dias que ainda se é possível esperar a continuidade da vida.
Uma criança vítima de abuso sexual encolhida na esquina, temerosa e silenciosa... não sabe por quantos dias suportará o preço que lhes cobram pela sua própria vida.
Os gays não podem contrair união estável; os prevaricadores, os narcotraficantes, os grupos paramilitares de extermínio, sim... Eles possuem uniões estáveis e promovem a morte, tornando uma ilusão a vida.
A fome, o frio, o abandono...
A falta de remedio...
Os presídios superlotados...
A solidão dos asilos e manicômios...
Quanta dor!... É o abismo!...
E nós, somos uma corda sobre o abismo?
Temos um compromisso ético-histórico com a vida.
A inclusão social, as práticas solidárias, a defesa radical da não-violência, a proteção dos desvalidos e minorias, a luta por reverter imediatamente o processo de destruição do planeta não são somente atitudes de superação da maldade, da corrupção, da exclusão e da destrutividade humana.... É muito mais do que nomeamos como politicamente correto. É a corda sobre o abismo, o nosso próprio processo de transitar do animal para além-do-homem.
É o caminho da nosso crescimento, da nossa mudança e da nosssa "redenção"... São os caminhos dos nossos devires.
Assim, a solidariedade, a justiça social, a ternura, a liberdade, o engajamento, a suavidade e a compaixão são atos e valores que alisam o terreno do existir, nos permitindo superar o humano desumanizado e devir uma nova suavidade, ético-estética.
Proclamam as Madres da Praça de Maio da Argentina: O OUTRO SOU EU...
Ressoa o Cristo, dizendo: " o que fizerem a estes pequeninos, a mim estarão fazendo."
E Che, sua inesquicível carta: " se sofre e se indigns, diante de cada injustiça, e luta; então, somos companheiros..."
Ou F. Gullar:" somos muitos homens comuns, mas podemos formar uma muralha com os nossos corpos de sonhos e margaridas"...
terça-feira, 12 de outubro de 2010
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