quarta-feira, 13 de outubro de 2010

SAÚDE, CONTROLE E OS RISCOS

                                                                                          JORGE BICHUETTI
Já sonhamos tanto... Sonhamos com um mundo justo, com a liberdade, com a alegria... E já sonhamos muitas  vezes com um elixir da vida eterna.
A medicina com seu biopoder sob a égide da sociedade disciplinar nos escravizou à idéia de enfermidade e cura, entre eles o medicamento.
Hoje, Deleuze opina que com a sociedade mundial de controle ocorrerá mudanças no funcionamento da medicina: o hospital deixará de ser o território dominante, e a família será o novo; e já se esquecerá das doenças e se erguerá um verdadeiro exército de atuação sobre os fatores de riscos.
Nossos hábitos, nossa alimentação, nosso ambiente, nossa vida será vista, julgada e nós chamados a prolongar nossa existência mediante um novo modo de existir, norteado pelo poder de aumentar a longevidade de cada elemento da existência.
Agora, as prescrições do cuidado médico são ordenações diretas de vida.
É proibido fumar!... Não beba!.... Realize exercícios diários!... Livre-se do colesterol!... Coma fibras e legumes!... Alimentos? orgânicos!...Trabalhe muito, porém, sem excessos!... Silêncio à noite e de dia exponha -se ao sol, ao sol bom e não ao sol maligno!... Sexo com segurança e tudo mais com muita moderação!...
Esta lista é infindável: o império de Apolo, e excomunhão de Dionísio...
E até Deus anda cheio de tédio, já que lhe tiraram o seu domínio sobre a vida e a morte.
Não vivemos, tomamos medicamentos de longevidade ou drogas de autodestruição.
Como sempre, a medicina oficia acretidando que hábitos de vida é uma problemática de conhecimento/ignorância, nega o lugar do desejo e as construções da subjetividade, normatiza educando...
Resta Cazuza, e seu canto: o meu prazer, agora, é risco de vida...
E poeta russo: Prefiro morrer de vodka do que de tédio...
Não pretendo simplicar, ou negar a existência dos riscos, apenas, queria refletir que nossa vida privada já se tornou de domínio público, e mais do que isso, já nomearam os responsáveis pela nossa conversão: os médicos nos enfiarão na linha da vida do bem e dos bons costumes.
E Canguilhen permacerá esquecido, quando relatava que saúde e doença, era muito mais do que via a medicina científica, era modos de andar a vida...
Nem se recordará nos colóquios sobre risgos que a vida é extensão e intensidade...
Chegaremos aos oitenta anos, contando quantos anos não vivemos para não morrer precocemente.
Ou, melhor quanta morte engolimos em nome da vida...
E será que lembrarão da nossa "fita amarela gravada com nome dela"?...

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