VÍNCULOS, PAUTA-DE-CONDUTA E REPERTÓRIO

                                                                                  JORGE BICHUETTI

Onde mora nossa felicidade?...
Está escrita nas estrelas, nos jogos de búzios, no tarô... Ou arquitetamos nosso destino.
Quase sempre, na terapia ou numa confissão íntima, falamos de nossas dores, reclamando do outro ( ele é nosso inferno - Sartre).
Será?... Ele é cruel, mesquinho, traidor, possessivo, ciumento, violento, pouco carinhoso, não dialoga nunca... Ele é o Cão!...
Devemos muito à Pichón-Riviere. E ele dizia incisivo que não existe vítima sem algoz, nem algoz sem vítima... Nossos lugares se dão em relações de vínculo, mutuamente alimentadas.
Se temos alguém que é possessivo, controlador, ciumento e hiperprotetor; não iremos a lugar algum dissecando-o, a pergunta correta que nos abre caminhos de libertação, é: por que necessitamos ser submissos, passivos, controlados, vigiados e protegidos?... Qual a nossa dificuldade de assumir a nossa própria autonomia?
Não significa que gostamos de ser agredidos ou maltratados, porém a questão é que evitação de crescimento estamos realizando ao nos acomodarmos neste papel?
Somos os vínculos que contraímos... que tecemos... que produzimos...
Não mudamos com discurso ou decreto olugar do corpo do outro, mas este corpo se conecta com o nosso mediante o lugar, a postura e posição que ocupamos na nossa própria vida.
Então, mudemo-nos... e o outromudará ou não mais terá sentido no seu encontro conosco.
E o desnudamento dos vínculos revelam que temos uma pauta-de-conduta, o repertório que compõe a nnossa vida: noossas ações e reações, nossas atividades, nosso mundo territorial e de relações...
Frequentemente, reagimos sempre do mesmo modo, ocupamos o tempo com as mesmas atividades e somos demasiadamente previsíveis... Vivemos um roteiro restrito e poouco flexível...
Calamos na hora do grito de raiva, repetimos o mesmo , mesmo quando este já se esgotou sem brilho ou encanto...
Assim, nas desventuras da vida ou nos instantes de mudanças imperativas nos percebemos empobrecidos. Sem recursos, esvaziados...
Potencializar nossa pauta-de-conduta, enriquecendo nosso repertório é matematicamente aumentar nossa possibilidade de refazer nosso destino, reinventar nossos sonhos e dinamizar nossas veredas no território da vida.
Se desejamos, de fato, vida nova e feliz, enriquecemos nosso modo de ser, flexibilizando-nos e diversificando-nos...
Vida nova e feliz pede o novo, o sonho não ousado, o desejo esquecido, o projeto engavetado...
Porquanto, uma vida que se amplia, diversifica e potencializa-se com alegrias e sonhos, torna-nos audazes e valentes, capacitados a supeerar as encruzilhadas do destino, com a alegria de um cotidiano azulado e estrelado, pois jogamos no lixo o cinza da nossa acomodação.