O QUE PODE UM CARINHO
JORGE BICHUETTI
Um beijo
alimenta e renova
o corpo;
mas o deixa sem órgãos...
Já que o decompõe
e o torna mil fagulhas
de um fogo,
agora, fogo errante,
um dançarino no ar...
DESEJO
JORGE BICHUETTI
Võo sem asas
na viagem do desejo;
pouso num corpo aberto:
úmido, fértil e alegre,
que apenas se nutre
da esperança-semente
do amor-carícia...
Amores do acaso,
frutos de ocasião...
NA ENCRUZILHADA DO MEDO
JORGE BICHUETTI
Noite escura...
urros longínguos,
vozes sussurrantes.
Sombras, lentamente,
perambulam com passos
que crepitam as folhas secas
do quintal. Um gemido...
No leito semiacordado,
espio e, temeroso, espero...
Depois, adormeço tranquilo.
Entre o fantasma e o ladrão,
um anjo vela meus sonhos
e ladra com a força de um Deus.
O medo desaparece....
... a minha serenidade se chama
meu pequeno grande amigo,
meu doce e leal cãozinho:
de nome Che Sete Varas...
DEVIR MACUNAÍMA
JORGE BICHUETTI
Paz e amor,
vida nova;
uma flor,
uma viola...
A fumaça da fábrica
espia
e vê, arrogante,
os que trocaram
o negro carbono da terra
pelas nuvens douradas do céu...
FAVELA
JORGE BICHUETTI
As ruas
da cidade
me aprisionam...
Já se estradeio
pelas vielas da favela
me transformo
sou um corpo humano
entre o anônimo errante
e um devir aginizante.
Mula carrego
um cavalo possuído:
por um deus,
por um menino...
Assim, meu devir se dá
numa ciranda celeste
que só não é pura alegria,
pelo medo de que um fuzil
pulverize o divino
em papelotes de pó...
ENTRE O SIM E O NÃO
JORGE BICHUETTI
Teu não me desarticula!...
Me perco... nada encontro...
Depois, feito uma estrela solitária
vejo o céu e a amplidão
e me descubro, de novo, articulando
novos encontros... novos desejos...
Já refeito e rarefeito,
vôo e flutuo entre sonhos.
Me vejo passarinho e voando
no verde infinito do chão,
redescubro: nem mesmo o céu.
cabe os infinitos perfumes
e as infinitas cores
das flores que desabrocham
na doçura terna do sim...
AMAR
JORGE BICHUETTI
Se amo, sou sol nascente... Esquecido, eclipse.... O amor é a vida pulsando e dando aos corpos luz própria e o temor ancestral de se viver no abismo da mais densa escuridão.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
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2 comentários:
O seu beijo passa na Uzina CSO. E a Uzina mergulha na Utopia Ativa com Lygia Clark.
Beijo
A uzina tece, inventa e produz linhas de vida que alimentam os caminhos com espaços de devir...Nela, jorra linhas de fuga, afirmação da vida e o desejo alado voa, borboleteando entre as flores do infinito. beijos jorge
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