JORGE BICHUETTI
Se uma lágrima cai, logo, sentimo-nos incomodados ou incoandando os que do nosso lado a observam preocupados.
Não raramente escutamos uma voz nos alertando sobre os perigos da depressão.
Outros, silenciam aturtidos, tentando algum assunto, como se arquitetasse uma fuga da situação instalada.
A tristeza tornou-se um sinal , umsintoma: de fraqueza, fragilidade, hipermotividade dramática, derrota, ou um indício de uma depressão, a doença dos dias atuais.
A ditadura da felicidade exige-nos o riso, o frívolo, o alegre...
Senão, somos um problema, um fracasso...
Inegalmente, muitos se deprimem, justamente por esta desumanização.
A desnaturalização do sofrimento, como um elemento agora estranho ao existir, nos obriga a uma estabilidade que a longo prazo nos vulnerabiliza.
Represamos nossas lágrimas... nossas desilusões, nossos medos e dúvidas, nossa própria fragilidade humana...
Afinal, o socius nos exige fortes, alegres, vitoriosos...
E o humano é dialético e paradoxal: somos alegria e tristeza, força e medo, coragem e covardia, fortaleça e fragilidade...
Escutamos as bem-aventuranças e compreendemos o valor da tristeza; mas, a rejeitamos, em nós e nos outros...
De imediato, já procuramos uma mágica que nos liberte a lágrima... E recorremos a tudo: feitiçaria, ritual religioso, mandinga ou um fármaco antidepressivo.
Nietzsche disse: o que não mata, fortalece.
A lágrima é uma expressão viva da vida e necessária ao existir do homem que não nega sua humanidade.
Não somos robôs sorridentes e graciosos.
Somos a dor no calvário de nossas lutas.
A alegria surge verdadeira para aquele que suportando opeso das suas próprias lágrimas, se fortalece e aprende a administrar o insucesso e as perdas, as desiluções e as quedas; e mais, aprede a desfutar das pequenas alegrias do cotidiano e a buscar as grandes alegrias da caminhada.
Não é feliz quem na vida e no caminho não se permitiu choro doído... Pois quem assim age representa o poder fálico da ditadura da felicidade que vigora até que o esgotamento já não sustente a hipocrisia, e,então, ele acorda chorando nos braços de uma indomável depressão.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
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2 comentários:
Que bonito Jorge!
Já dizia o poeta de Penha de França:
"A cada mil lágrimas sai um milagre"
Beijos no coração
Sumaia
Querida amiga, as lágrimas ( negadas, escondidas, malditas) fazem mais pelo homem e pela humanidade que nossos risos, muitas vezes, alheios da verdadeira alegria...
Ser, caminhar, sonhar é trilhar entre lágrimas e alegrias, carregando o humano que forte e é grágil na grandeza de quemm afirma a vida, sem necessitdade de mistificá-la. abraços jorge
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