JORGE BICHUETTI
Madrugada... Silêncio total... Um automóvel transita, distante; escuto uma buzinna, tão-somente uma buzina...
Recordo-me que amanhã, acordarei com os sinos... Aconchegante, místico e poético...
A lua despertará cheia e desejos: brincar, correr, ver o mundo...
Sentirei o orvalho na companhia de minhas amigas: as samambaias, os lírios, o pé romã, o limoeiro e os frondosos e bailarinos álamos...
Votarei: na hora do verde, confirmarei minha fé nos sonhos...
Já vivemos tantos sonhos... Não sei viver sem sonhos, lutas, causas, utopias... Me fabriquei assim...
Como dói: a fuligem da cana,; os velhos esquecidos que conversam com os anjos enquanto os carros correm e os ameaçam, eles, solitários com seus solilóquios, os carros com sua vida rotineira de motores submissos aos relógios.. Como dói: jovens caídos, maltrapilhos e delirantes, seviados pelo crack... Dói a fome, o desemprego, o preconceito, a violência doméstica... Dói o abuso sexual, a prostituição, a vida estropeda pela opressão...
Olho o céu... azul e sei que a cada minuto destruimos nosso planeta... Dói o lixo no chão, nos barrancos, nos rios... dói o desperdício... as lâmpadas ligadas... os agrotôxicos.... as chaminés...
Uma árvore cortada sangra minha alma com o punhal da impunidade.
Quantas dores? Serão elas dores privadas? Não creio... São dores públicas e o exercício da cidadania nos exige um radical não... Um basta, um agora chega...
Que país queremos? Não uma pergunta que se divorcia de outra: que vida levamos? Menos ainda de outra: que atitude tomamos?
Saibamos agir com indignação, com rebeldia e com postura de engajamento ético...
Devemos exigir das autoridades, da polícia, dos responsáveis... Porem, somos também responsáveis, exijamos já!...
Cortemos o mal e não despresemos que nossa palavra e o nosso corpo é um fuzil...
A esperança e o novo são forças da vida... contudo pedem corpos de passagem...
Assumamos as causas e entreguemos à luta nossa palavra e nossos corpos...
Assim, nasce o amanhã.. O sol só nos trz um outro dia.
sábado, 30 de outubro de 2010
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4 comentários:
Este mundo descrito é o que me deprime e angustia; me revolta e perco as forças. Deste mundo, já cansei... carrego uma tristeza na alma em ter que dizer: não tenho vontade de acreditar. Empobreci, nem sei mais o que é ético.
Iria ficar tão feliz, se a Lua despertasse comigo, pois iríamos correr, brincar, bagunçar e depois ela me mostraria um outro mundo, para que voltasse a vislumbrar algo ainda possível..
Abraços
maria alice
Querida Maria Alice, este mundo dá asco... Digna raiva... Vendo-o, sinto que muito se pode fazer..
Rebeldia, rebelião, desobediência civil: tornaram companheiras das minhas emoções...
Às vezes, tudo é tão cinza que a esperença fenece... Depois, um ato, um gesto, um acontecimento desperta nossos sonhos e , então, voltamos a caminhar entre a magia e a utopia...
Algo quero fazer...
Um não hei de gritar...
Uma lágrima conseguirei secar...
O sonho não pode acabar!
E a Lua sustenta um esquerdismo que me alimenta: está sempre de greve, só brinca...
Abraços jorge
Metade de mim sonha e a outra metade sofre com os pesadelos.
Metade de mim acredita no despertar e a outra metade NÃO!
Abraços. Beijinhos na Lua!
Maria Alice
Metade
Oswaldo Montenegro
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.
Maria alice, você é uma pessoa do coração... Com nossas metades e nossas perplexidades.. Lhe adoramos... temo que Lua goste mais de você que de mim... é a vida.... e eu, terapêuta, nem posso chorar.
Abraços jorge
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