segunda-feira, 4 de outubro de 2010

LOUCURA GRUPAL E A SOLIDÃO

                                                                      JORGE BICHUETTI

                                               " A loucura é algo raro nos indivíduos - mas em grupos, partdos, povos e épocas, a regra" Nietzsche, Alem do bem e o do mal. Aforismo 156.

Pichón-Riviere a via como, essencialmente, grupal, familiar; o louco era o porta-voz que quando identificado na sua função-espelho, ele, o emergente da loucura grupal, era negado e transformado num bode expiatório.
Deleuze_Guattari assinalou que os delírios possuiam um carácter histórico-social.
Foucault vislumbrou o processo de produção do conceito de loucura, nos meandros da vida discursiva de uma sociedade ena fundação da suas disciplinas normatizadoras.
Lacan concluiu ser necessário tres gerações para a produção de um louco.
O louco é um emergente social, a produção desterritializante máxima do capitalismo, e por isso sua fronteira.
Contudo, a loucura que emerge num socius , não emerge no quadro das suas repetições e reproduções onde o instituído se perpetua organizado e permanente.
Ela - a loucura - emerge como simulacro, singularidade, diferença...
Fica, então, uma pergunta que me parece fundamental: como o organizado e instituído produz um a linha de deriva, bifurcação, de caosmose?
Na solidão não estamos vulneráveis?... A solidão não existe, pois somos mesmo quando solitário povoados de grupos, partidos, povos e épocas.
Resta-nos, então, refletir sobre estes equipamentos coletivos do instituído, para vermos o seu elo com a loucura.
Os grupos, os partidos, os povos e as épocas são segmentariedades que acorrentam o fluxo da produção desejante e vulnerabiliza por de um lado, reforçar as instituições coletivas e por outro lado, acelerar as desterritorializações , já que fragiliza o ego e este nem sempre se mantêm servo das conexões do ideal de ego que está sempre ssocado e sucateado pelo realidade.
Os grupos assujeitados são enlouquecedores, ainda que por um tempo gere calmaria e estabilidade.
eles necessitam cada vez mais de frear os mecanismos da produção desejante-revolucionária e, assim, geram dureza, inflexibilidade e ortodoxia, que diante da potência de vida que flui agencinado devires, acontecimentos e singularizações, eles se desterritorializam e na loucura vivenciam um estado fronteiriço: se recodificarem pela captura e voltarem ao contexto grupal de assujeitamento, com explosões antiprodutivas ( locura de mierda - Pichón) ou num processo caosmótico afirmar-se difença, singularidade e multiplicidade, numa individuação de potencialização das linhas de fuga, doa acontecimentos e dos devires, atualizando a realteridade imanente às dores do seu sofrimento mental, que Pichón denominou locura linda.

6 comentários:

Marta Rezende disse...

Ei Jorge querido, muito boa reflexão sobre a loucura. A minha mãe dizia: seja louca, mas não doida. Ou seja, seja ousada, mas cuidado com a Grande Saúde. Hoje, entendo os dizeres da minha mãe assim, ajudada por Nietzsche, Foucault, Guattari, Deleuze e outros, como Khalil Gibran Khalil com esse lindo poema:

O Louco

Gibran Khalil Gibran

Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:

Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.

E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”

Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Marta, emocionado, noto que perdi minhas máscaras pelo caminho. E, assim, louco namora a liberdade, com algum medo oriundo dos restos de máscaras que com o tempo já se haviam grudado no meu rosto.
Assim, vou me despir todo e procurar num canto escondido do meu corpo onde anda pulsando minha alma... Pois, sem liberdade não há vida... e eu a quero intensamente. abraços com beijos de ternura e carinho jorge

Marta Rezende disse...

Jorge, só mais um pouquinho de abuso da sua boa vontade. As palavras são sempre limitadas, mas importante lembrar-se das palavras de Nietzche: "tudo que é profundo ama a máscara". As palavras de Nietzsche nunca são lineares. Há momentos, em que ele rejeita as máscaras, máscaras como identidade plenas e fracas (essas sim, devem ser rasgadas). Mas, as máscaras devem ser mobilizadas, pois elas asseguram um certo pudor e possibilidades do devir do pensamento.
Deleuze e Guattari são fantásticos na abordagem da máscara. O problema não é a máscara e sim o rosto, o rosto congelado, a identidade plena. As máscaras asseguram a pertença da cabeça ao corpo. As máscaras não perturbam o que realmente importa: ter cabeça colada ao corpo e ter cabeça pesquisadora.
"O louco" do Gibran, ao meu ver é isso, uma cabeça pesquisadora. O louco é também uma máscara. Deleuze levanta essa possibilidade sobre Nietzsche: para ele em Nietzsche, tudo é máscara, inclusive a doença e a loucura. Essas máscaras de Nietzsche foram fundamentais para ele erigir a sua fantástica obra. Nietzsche soube muito bem jogar o jogo da vida: ora máscara Dionísio, ora máscara Apolo.
Bem, meu amigo, me desculpe tantas palavras. Agora vou dar um tempo para o devir-silêncio.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

marta, quero tecer máscaras na intensidade das experimentações e permití-las brilagem com minhas n multiplicidades que ainda só pulsam na realteridade.
Pleno acordo com suas reflexões: há máscaras -camuflagem, esconderijos e há máscaras-experimentações, performace, alisamentos, desterritorializações... espaços de invenções. beijos jorge

Michel disse...

Uma canção do apreço entre-amigos, a canção "Amigo é para essas coisas" de MPB4:

http://www.youtube.com/watch?v=1aQcd8ZSqfc

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Do lado esquerdo do peito: amigos. Sociedade de amigos: grupalidade libertária que na sua insurgência inventará um novo socius onde o estar com o outro já n~]ao seja um estar consigo mesmo. abraços jorge