sexta-feira, 21 de maio de 2010

DIÁRIO DE BORDO: A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E O COMEÇO DO FIM DAS INSTITUIÇÕES TOTAIS

                                                SOBRE O INSTITUCIONALISMO
                                                               JORGE BICHUETTI

É madrugada... Os galos ainda não cantaram, mas a lua mantêm-se desperta... Atenta me mira e obsera meus pensamentos que se orvalham na esperança de um novo alvorecer.
Livros, discos... Silêncio...
Eu e o silêncio da madrugada.
Como cheira inebriante as flores do jasmizeiro!
O hospício irá , um dia, acabar... A liberdade florescerá... Não tenho dúvidas.
A madrugada é o momento das certezas, pois é frontera, um entre a lucidez e o sonho.
Pápeis na mesa confirmam: setembro, primavera -10, 11 e 12,  se realizará em Uberaba o Iº Congresso Internacional de Esquizoanálise e Esquizodrama.
O instituído vai aos poucos sendo corroído e processos instituintes falam que o sonho não acabou...
Sexta próxima inicia o Curso de Especialização em Análise Institucional, Esquizoanálise e Esquizodrama.
Uma nova vitória.
Com a Lua aninhada em meus pés, meus pensamentos voam...
Quanto caminho!
Arduini e Rosa afirmam o caminho: nem partida, nem chegada, vida-travessia.
Assim, vamos: caminhando, pegrinando, marchando... vagabundeando... Sempre norteados por este sonho, esta utopia ativa- liberdade e solidariedade, justiça social... vida plena... amor.
Uma lembrança de velhas leituras, sempre tão atuais, me encanta... E uma lágrima furtiva sorri.
Na segunda guerra mundial, todos viviam em perigo.
Principalmente, a vanguarda: pensadores, artistas, revolucionários...
No início do século, tentando radicalizar a exclusão, uma lei havia criado os manicômios em regiões distantes do perímetro urbano.
A resistência francesa e os fugitivos do facismo da Espanha em guera, ali se refugiaram...
Entre tantos, Tosquilles e Canguillen... Muitos poetas e pintores...
E eles, então, passaram a participar destes hospícios e os transformaram em ilhotas de liberdade.
Nascia a psicoterapia institucional e o movimento instituintes nas catacumbas da exclusão, como resistência e vida partilhada.
Era a madrugada de um novo tempo...
Hoje, quando a luta antimanicomial, movimento instituinte vivo e criativo, geram novos modos de cuidar...
Mergulhemos com gratidão no orvalho da madrugado de ontem, com os pioneiros desbravando o horizonte e calando os canhões com sua ousadia terna e viril, generosa e libertária.
O tempo passou... Seguiremos, lutando... Um outro mundo é possível.
É dia... O galo cantou...
Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós...

          

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