Ser Doido-Alegre, que Maior Ventura!
Ser doido-alegre, que maior ventura!
Morrer vivendo p'ra além da verdade.
É tão feliz quem goza tal loucura
Que nem na morte crê, que felicidade!
Encara, rindo, a vida que o tortura,
Sem ver na esmola, a falsa caridade,
Que bem no fundo é só vaidade pura,
Se acaso houver pureza na vaidade.
Já que não tenho, tal como preciso,
A felicidade que esse doido tem
De ver no purgatório um paraíso...
Direi, ao contemplar o seu sorriso,
Ai quem me dera ser doido também
P'ra suportar melhor quem tem juízo.
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."
Diário de Luta
Fernando de Lima Almada
Na penumbra do quarto escuro
sujo, úmido e solitário...
Vi passarem nas frestas as sombras...
Essas sim fantasmagóricas.
Delírio é a camisa de força que não permite criar.
Doidice é o muro alto que não tolera a beleza do mundo e o perfume das flores...
Desvario é a impessoalidade...
Alucinação é a solidão!
Um aglomerado de puro desatino!
E quando ouço, é nítido.
E quando vejo, é claro.
E quanto sinto, é além...
Aquele frio que enlaçava e cortava os pulsos
hoje é calor humano que aqui conforta e liberta.
E daquele instante de loucura destrutiva
agora se dá a vida, a paixão e a criação...
E eu, dono de mim,
componho com tinta, papel, música e poesia
dias cada vez mais leves, livres e coloridos.
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