DOM PEDRO CASALDÁLIGA
mapa-mundi de todas as feridas,
anuncia à contraluz o Evangelho.
Costas feridas da Grande Cidade,
as vidas proibidas dos teus pobres
denunciam os cimentos do Sistema.
Entre o Norte e o Sul
a cruz do mundo,
a cruz do Terceiro Mundo,
é ainda a tua Cruz!
Todas as guerras enterram os seus obuses
na tua terra nua da tua carne.
Como gretas de noite envergonhadas,
a miséria recolhe os seus lucros
sob o pranto de sangue dos teus olhos, e o clamor dos pobres
emoldura tuas têmporas
como uma cruz de espinhos.
Contra a paz do Céu brasfemada,
sobre a paz calada dos mortos,
o Império levanta sua Babel:
a paz do Primeiro Mundo!
Paz, paz, paz... e não há paz!
Porque negam a passagem às estrelas,
porque afogam as flores em petróleo,
porque venderam o Justo,
porque mataram o Pobre.
Poderás ser a nossa Paz?
Confissões do Latinfúndio
Pedro Casaldáliga
(Bispo jubilado de Sao Felix do Araguaia, MT)
Por onde passei,
plantei
a cerca farpada,
plantei a queimada.
Por onde passei,
plantei
a morte matada.
Por onde passei,
matei
a tribo calada,
a roça suada,
a terra esperada...
Por onde passei,
tendo tudo em lei,
eu plantei o nada.
À MANEIRA DE PREGÃOZINHO CANUDENSE
Pedro Casaldáliga*
Neste “fim da história” do senhores deste mundo
que é um fim da picada neoliberal, homicida, suicida, ecocida,
a Humanidade cativa consumindo-se no consumismo,
vendendo-se em mercado total,
desnaturando-se em globalização,
nós celebramos o reinício da Utopia,
recomeço da Esperança,
renovado compromisso com o Reino do Deus dos Pobres
e a renovada comunhão com todos seus filhos e filhas lutadores,
“esperançados e esperançadores”, irmãos/irmãs da Caminhada!
Sob o signo de CANUDOS,
centenário açude vivo, sepulcro vazio, horta de Páscoa.
Nas pegadas descalças do Conselheiro Antonio
e de todos os beatos/beatas da Fé
e cangaceiros da Justiça
e Chês da Revolução Fraterna
e subcomandantes da Paz com Dignidade...
Brasileiros e brasileiras do Norte e do Sul (mais ou menos distantes do planalto central)
e todos os outros irmãos/irmãs desta Pátria Grande, Abia Yala nossa,
terra que mana leite de ternura e sangue de indignação solidária
e todos os outros irmãos/irmãs também, que no Primeiro Mundo
fazem tudo para que o Mundo seja um só,
família humana de Deus,
iguais em dignidade todas as pessoas e os povos todos,
complementariamente diferentes
na rica alteridade de culturas e cores e processos históricos.
Vai ser JUBILEU, anunciam os ventos, anuncia o Vento do Espírito.
Vai fazer 2000 anos que Deus plantou sua tenda entre nós,
feito também carne nossa e história nossa, Companheiro e Caminho da Caminhada.
Depois de tantos Canudos e Eldorados,
vem chegando a hora jubilar de cancelar as dívidas que os grandes nos fizeram
e que pagamos com tanta fome e morte e dor.
Vem chegando a hora jubilar de devolver a Terra
aos Povos Indígenas, aos Retirantes, a todos os Sem-Terra.
Vão ser 500 anos de Evangelho no Brasil
e vem chegando a hora jubilar de renovar a Igreja de Jesus
na simplicidade, na liberdade e na alegria da Boa Nova,
na comunhão plena do ecumenismo
e no diálogo generoso de um macroecumenismo sem medos ...
Gente do Deus da Vida,
Povo da luta e do senhor,
irmandade toda..., vamos lá!
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
No aconchego da Mãe das Dores e das Alegrias.
Brindando o sangue ressuscitado de todos os Mártires da Caminhada,
de ontem e de hoje e de amanhã!
Amém, Axé, Aleluia!
* Pedro Casaldáliga é bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia - MT
VIDAS PELA CAUSA...
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