ESTA VIDA
JORGE BICHUETTI
Voa, longe, aquela nuvem
que foi um rosto, um olhar;
e, agora, de tão distante,
parece meu medo de amar.
Voa, longe, voa... voa...
E vendo a saudade chorar,
me pergunto, alucinando:
onde mora o deus-sonhar?
... A realidade não voa.
Ela nem mesmo floresce.
É um espelho quebrado,
o tédio que me entorpece...
Hei de me enlouquecer,
e pássaros ser no andar...
Ainda que não voe alto,
hei de , pela vida, cantar
DELÍRIO DE MENINO
JORGE BICHUETTI
No arco-íris mora um anjo,
de magia e encantos
que tudo pode transformar...
De uma lágrima tece um berço,
onde os sonhos são dourados;
tendo junto um terço
com cantigas de ninar...
ONDE ESTÁ O MEU CORPO?
JORGE BICHUETTI
Minhas mãos já não carregam
o peso desta amargura,
de não conseguir, arco e flecha,
quanto as sombras da guerra
violam a suavidade
com que ela queria, embalar,
o pequeno , agora, morto,
pelo tiro certeiro
dos que vivem para matar.
Meus pés já não resistem
o peso do meu coração que pulsa
colado a terra molhada ,
pelo sangue que não jorrou,
mas ali mantém-se estancado
na paralisia da raiva
que não pode explodir,
pois as veias se enovelaram
por não suportarem quietas
seus desejos de rebelião.
Meu corpo mora comigo,
em países distantes...
Eu silencio servil,
ele é o grito;
eu sigo ordenado,
ele numa selva distante
é justa fúria,
pura indignação
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