A aceitação do outro – Uma difícil tarefa
Adilson S Silva
Queria finalizar esse ano, escrevendo algo para se refletir, portanto resolvi escrever sobre como melhorar nossa qualidade de vida e de nossos relacionamentos.
O tema é difícil e, as palavrinhas que causam espanto e recusa são “aceitação e mudança.”
A aceitação dos outros é uma coisa tão natural e óbvia na teoria, mas difícil e problemática no nosso dia-a-dia. Muitos aborrecimentos, dor, tristeza e amargura são sentidos na relação com os outros.
É duro aceitar o outro: o próximo, o vizinho, o pai, o filho, a mãe, a filha, o irmão, a irmã, os avós, o chefe, o colega, o professor, "o pedestre, o motorista, o empresário, o político. Isso se torna muitas vezes uma fonte de irritação, irritação e raiva. Mas , o problema é: Viver é igual a conviver, não há como evitar o outro.
A importância do outro
É em função do outro que nossas energias emocionais se acumulam ou se descarregam. Basta olhar algumas reações: se sinto raiva, espero que os outros mudem seu comportamento, suas palavras ou seus sentimentos; se estou envergonhado, inadequado, espero que os outros não me olhem e não me percebam; se o problema é minha angústia e medo , espero dos outros um pouco de apoio, compreensão e até afeto; se é depressão, então fico a esperar um pouco de cuidado, uma mão ajudadora; se a culpa é o que me tortura, nada mais quero dos outros, senão o perdão; se obtenho sucesso , nada mais óbvio que esperar o reconhecimento; se minha alma se alegra , quero dividi-la com os outros. Isto não quer dizer que o que se espera é o recebido. Não importa , eis aí a necessidade da convivência com o outro.
O outro sempre esta ali como objeto de crítica, exploração, perigo, competição, mas pode ser visto também como objeto de amor, de conforto, de prazer, de felicidade; e assim, o outro pode causar ciúme, inveja, sofrimento e afastamento, mas pode também causar admiração, respeito, atração e aproximação; o outro pode provocar perda, raiva e vergonha, mas pode provocar também ganho, alívio, alegria.
"O erro é dos outros"
A não aceitação do outro, torna-se problemática, para a saúde emocional, física e espiritual. Há aqueles que querem mudar o outro a qualquer preço, dominar, explorar ou culpar. Estão sempre usando os outros como responsáveis por seus fracassos, infortúnios, sentimentos, pensamentos e comportamentos. São pessoas em dificuldades consigo mesmas e usam os outros como espelho da própria desgraça.
Não se aceitam e rejeitam os outros também. Quanto mais dificuldades elas têm consigo mesmas, mais elas culpam, condenam e acusam os outros. Isso é muito comum com o adolescente que está passando por uma série de mutações físicas, psíquicas, hormonais, sociais e se sente inseguro consigo mesmo. Ficam mal consigo mesmo e assim ficam também mal com os colegas, com os professores, com os pais, com o mundo. Na medida em vai atingindo a sua maturidade ou amadurecimento, vai ficando mais em paz consigo mesmo e vai aceitando melhor os colegas, professores, pais e o mundo.
Alguns não conseguem ir além da adolescência, e gastam o resto da vida em conflitos, e não conseguem estabelecer relacionamentos significativos pela total incapacidade de aceitação do outro.
Há outra razão para não aceitação dos outros: o fato de querermos que eles satisfaçam as nossas necessidades, supram os nossos desejos, preencham nossos caprichos e correspondam às nossas expectativas. É óbvio que isto se torna impossível, mas muitos insistem nisso. Querem porque querem, agem como crianças recém-nascidas, totalmente dependentes da ação dos outros para a sua sobrevivência. À mínima frustração choram, esperneiam e até gritam. Ficam furiosos. Começam uma batalha para ver quem consegue vencer. A criança faz isso muito bem, mas o adulto cai numa armadilha, a armadilha da insatisfação e frustração constantes.
Para você não cair nessa, procure esperar o mínimo possível dos outros, procure assumir o domínio da própria vida, procure satisfazer as próprias necessidades sem tornar-se um problema para a sociedade, para os outros, ou para você mesmo. Assim você terá muito mais condição de aceitar, conviver e respeitar os outros.
Lembre-se: sua dificuldade de se relacionar com os outros é proporcional às dificuldades que você está tendo consigo mesmo na administração de sua própria vida.
Quando você estiver preso no labirinto da aceitação ou não dos outros: pare, pense, analise sua própria vida. É bem provável que vai encontrar um beco sem saída onde sua vida está presa. Para sair deste beco e encontrar a pista certa você precisa de duas coisas: mudar seus pensamentos e mudar seu comportamento, com isso levará uma vida mais saudável.
Aceitar o outro é mais do que tolerar. Significa evitar sentimentos negativos em relação ao outro que você não gosta, não tolera, não suporta; significa evitar a crítica, a censura, a acusação.
Aceitar o outro é saber distinguir o ser do fazer, distinguir o ator do ato, separar o sujeito do objeto. Isto quer dizer o seguinte: separar a criança da água suja. Uma se joga fora, a outra se agasalha, protege e acaricia; o defeito não é aceito mas o defeituoso sim; a birra não, mas o birrento sim; o erro não, mas o errado sim; a falsidade não, mas o falso sim; a mentira não, mas o mentiroso sim; a trapaça não, mas o trapaceiro sim; a corrupção não, mas o corrupto sim; o pecado não, mas o pecador sim; a provocação não, mas o provocador sim, a dependência química não, mas o dependente sim.
Caso não se consiga fazer a distinção entre pessoa e ação corre-se o perigo de rejeição total porque ninguém sobraria. Precisamos aceitar a pessoa sem confundi-la com sua prática.
Aceitar é não impor condições de conformação, condições de execução de atos, condição de procedimentos, condição de características ou condição de conduta. Qualquer tipo de condição imposta para a aceitação é equivalente á rejeição. Aceitar é admitir que o ser é o ser independente de qualquer valoração, isto quer dizer que o ser é meio e fim de si mesmo.
Aceitar é viver e deixar ser
É difícil aceitar o outro como é,quando o torno a fonte de minha satisfação, " a causa da minha felicidade, o fundamento do meu prazer. Porque quero mudá-lo, coagi-lo, manipulá-lo, orientá-lo, influenciá-lo para obter o máximo de proveito. É uma grande maneira de ser egoísta na mais alta expressão.
Aceitação mútua incondicional é o ingrediente básico para uma relação de crescimento entre dois seres humanos. É uma relação sem ameaças de discriminação, de rejeição e de rompimento. Sempre haverá opiniões diferentes, pontos de vistas divergentes, perspectivas opostas, mas através do diálogo, comunicação e interação chegar-se-á a compreensão, confiança e cooperação.
Aceitar é o oposto de mudar, mas é a condição básica para mudança porque permite o desabrochar, o brotar do que há de melhor no outro.
Aceitar não é querer mudar o outro mas deixá-lo ser. Quando você deixar alguém ser ele mesmo, a pessoa mostra o que há de melhor dentro "de si.
Para se relacionar adequadamente, você precisa aceitar, sem querer mudar. Quanto mais se insiste com um alcoólatra para não beber, toxicômano para não cheirar, um obeso, para não comer, um viciado no trabalho para não trabalhar tanto; mais eles bebem, cheiram, comem ou trabalham.
Com a insistência dos parceiros para a mudança, as posições se enrijessem, as discussões aumentam, o relacionamento esfria, os ataques se multiplicam, o ódio ferve, o afastamento emocional toma conta, a vida vira um sofrimento. Falar mal, brigar, chantagear, implorar, prometer, ameaçar de nada adianta. A única solução é deixar ser. Cada ser humano é o autor do próprio destino, portanto cada um é responsável pela própria vida. Portanto, para seu relacionamento escolha pessoas que você não precisa mudar, pessoas que você possa aceitar incondicionalmente, dando-lhes o direito, inclusive, de mudar se assim o desejarem.
Não assuma a frustrante tarefa de mudar, a obrigação, o dever de mudar. Ninguém tem o direito, a responsabilidade ou o poder para mudar o outro. Por isso não se sinta culpado pela vida do outro. Cuide da sua e estará fazendo uma grande bem por você mesmo.