quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: CELEIRO E SERESTA... A VIDA ENTRE APOLO E DIONÍSIO...

                           Jorge Bichuetti

O dia já alvoreceu... Nuvens  e a brisa fresca anuncia que choverá... A cantoria dos pássaros se misturaram com as canções que vivas, ecoam no meu coração... A roseira cheirosa parece  arredia: não devo ter sido muito feliz na minha tentativa... de podá-la.... Luinha vive na lentidão da boa preguiça que nos pega no recomeçar do dia, quando o céu nublado sobre um fundo azul... lança dívidas... Ora, sentimos os apelos do trabalho... ora, os convites da cadeira de balanço... A Luinha anda quieta e muito próxima; olho-a e me divido: penso que pode estar um pouco enferma ou um pouco dengosa...
Muitos amigos irão festejar todo o dia; eu ainda estou trabalhando... Na memória reemerge um tempo onde dezembro era todo festivo... e ele avançava sobre o janeiro e chegava ao carnaval... Tempo de moço; vida na ociosidade dos encontros inesquecíveis...
Agora, a vida obedece outra lógica... O calendário e o relógio; o corpo e as necessidades dadas pelos deveres assumidos...
Invejo o voo e os festejos dos passarinhos... Celebram a chuva possível... Quando a chuva chega, ai me preocupo com seus ninhos...
A vida é uma aventura que se tece , negociando deveres e prazeres...
A vida é um barco no mar... que se move mobilizado pela segurança do cais e pela encanto, magia e ousadia do horizonte azul...
Ora, a prudência nos leva a sedimentar o nosso cais... Ora, as forças das paixões andarilhas nos inspiram o mergulho e a busca do horizonte azul... Ousadia de experimentar os limites...
Ando pelas trilhas do destino mediando as forças da prudência e da ousadia...
Se não suporto o risco fatal; não me agrada o engaiolamento medroso de não se aventurar nem investigar o caminho tecido na força dos ventos...
Enternecer-se sem perder a sede de viver...
Ousar o voo no horizonte azul, sem rasgar o mapa cartográfico que me orienta na volta quando urge o aconchego de um ninho e a segurança de um cais...
Meu corpo já acolhe os alvitres paradoxais de Apolo e Dionísio... Tento uma composição; uma conjugação; uma maquinação heterodoxa. Busco uma vida que dê um devir Apolo Dionísico e um devir Dionísio apolíneo...
Festa e trabalho; ócio e labuta... Voo e ninho... Mar e cais...
Assim, caminho entre flores e espinhos; pedras e sonhos... 
Ante o abismo, voo... Mas, tanto quanto posso privilegio o esforço criativo de arquitetar pontes...
E não me aventuro nos espinheirais e nos pântanos... No deserto, caminho levando no coração o meu tesouro: minhas fontes que minam vida, jorram energia vitalizante e impulsos ativadores dos saltos insurgentes...
Tempo de viver... a vida na sua complexidade: vida de alegria e de corresponsabilização; de vínculo e de liberdade; de criatividade poética e de encargos... Vida de primavera; vida de celeiros... 
A suavidade chega no caminho que alberga o labor produtivo e criativo e a poética festiva do ócio inventivo...
Vida em movimento...
Mas, vida que se intensifica com prudência e ousadia...  Vida que poetiza o luar e enche de arte a necessidade de no caminho semear...

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