sábado, 10 de dezembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: NA CHUVA, EU ALVOREÇO SONHOS...

                                Jorge Bichuetti

Cheiro de terra molhada, o café a Luinha num canto ressonando... quietude serena, aconchego. Meu quintal esconde sementes que um dia irão frutificar; meus sonhos desenham primaveras que estão por florescer... Agora, escuto... a música do tempo: secando chão e me banhando com o orvalho das manhãs entre a viagem da poesia e s miragens do amanhã que nascem relva verde nos caminhos do meu coração...
Delírio? Sonho? Utopia?... Filho da fé grávida da esperança... um menino graúdo que não abandonou o seu vício de ver nas nuvens a vida nômade, metamorfoseando-se florida entre bichos, monstros e deuses... numa dança ancestral onde tudo se refaz, reinventando-se na magia de guerrear nas trincheiras da aurora... da vida que há de vir...
Muitos desejam tanto... eu quase não rogo nada: só queria a ciranda da ternura tamborilando com alegria os sonhos da multidão...
Noite longa... o tempo é u'a singular eternidade...
Cuidando da Lua, da minha, da Luinha, pensei... com saudade, quis ouvir Paulo Freire repetindo, altivo e terno, sobre a boniteza do mundo que se transforma do ato de encontrar-se e encontrar na educação que inunda a vida de sentidos...
Na dor, quase sempre vejo, corações oriundos do deserto, sedentos, sedentos de serem inundados de sentidos... sentidos azulados no horizonte da esperança.
O mundo anda cheio de atrocidades, violência e desamor... tédio, vazio e solidão...
O mundo, este que vivemos, já caducou...Demente mata, hipnotiza, e cria vidas vegetativas emplumadas de banalidade de neon...
Eu quero um novo, de amor e paz, compaixão e solidariedade...
E eu me quero novo, não na idade, me quero novo na capacidade de ser vida com... alegria. bondade, suavidade, coragem, liberdade, doação... vida de partilha, caminhada de libertação...
Eu quero voar na poesia de Cecília Meireles, que sendo mulher, viveu e escreveu aninhada num ninho de pássaros cantantes...
Eu quero nomadismo cigano de Pessoa, com seus versos que acordam a vida e a fazem bailar...
Eu quero Clarice, Quintana, Drummond, Bandeira, Cora...  a sensualidade de Lispector, a simplicidade de Barros e Adélia Prado...
Eu quero a rosa do Rosa...
A ternura de Gandhi, a bravura de Che...
Eu quero alguma coisa que me tire deste marasmo... alguma vida que borre o cinzento...
Eu quero as flores e os passarinhos...
Talvez, pudesse dizer com o terno e destemido Dom Hélder Câmara: " eu gostaria de ser u'a poça d'água para refletir o céu estrelado"...


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