Céu estrelado; azul... Claro. Como se estivesse esperando as nuvens voltarem... Verão: chuva e sol numa composição intempestiva... No ar, o medo da tempestade... O quintal, verdejante e florido... acordou com a cantoria dos passarinhos que semeiam serenidade e paz no recomeço. A Luinha me acompanha, entre dengos de carinho e fugitivas escapadas para um novo cochilo...
A vida caminha e se dá numa natural ciranda onde cabe a intensidade e a lentidão...
O ser humano é um aprendiz primário... Nas intensidades, rodopiamos na valsa alucinógeno dos voos que buscam o alto, entre o abismo e a imensidão.
A imensidão é fonte: inspiração, aspiração... O brilho das estrelas e a o aconchegante prateado do luar poetiza o nosso desejo de ir... de voar, borboletear, de ser um trapezista do infinito... um além-do-homem...
Quando descobrimos que mundo é pequeno para conter os fluxos reluzentes da imensidão, tememos o abismo... pois, nem sempre somos prudentes e armamos nossa rede de proteção, nosso cais, nosso ninho...
Igualmente na lentidão, tememos o nada, o vazio, o coma vegetativo...
Não aprendemos ainda a produzir, criativamente na lentidão...
Nosso mundo é grande e veloz, demasiadamente grande e veloz para caber o que pode a lentidão...
Assim, quando rompemos a rotina do marasmo robotizado e medíocre da vida de normalidade, corremos o risco de nos perder, girar em torno de si mesmo sem produzir o novo: um novo caminho, um novo sonho, uma bifurcação criativa que nos permita refazer o mundo para que ele contenha nossa vida inventiva e inovadora na encruzilhada onde o redemoinho tende a nos capturar, impedindo-nos de seguir adiante...
Daí, veio a preocupação deleuzeana de dizer que para viver é necessário ousadia e prudência...
Criar linhas de fuga... que nos permita gerar, parir vida nova nas experimentações da vida de intensidade e de lentidão...
A exaustão do corpo e a anemia da alma são analizadores de que há intensidade e lentidão na valsa dos fluxos de vida que pulsam e pululam nosso psiquismo, querendo, necessitando ganhar a capacidade de ser e estar no mundo de consistência da nossa vida de caminho e sonhos, trocas e encontros...
A vida é parideira...
Grávidos de vida nova, urge que inventemos espaços no mundo para que a nossa singularidade e multiplicidade consiga emergir, nascer, brotar, florescer...
Caminhemos, inventando na travessia u'a nova vida e um novo mundo...
Tudo no mundo de opressão e repressão tende a nos intimidar e nos paralisar... para que sejamos a mesmice institucionalizada... O consumo, a competição, o imediatismo, a triangulação, a banalidade...
Romper é intensificar e lentificar, produtivamente, para que não percamos o chamado do horizonte azul que canto para o coração de todos os clamores do inédito viável, do homem novo, da utopia ativa...
Há uma flor... que espera o nosso desejo e a nossa luta para que ela possa brotar, florindo a vida de tédio e angústia, tristeza e repetições cinzentas...
Cuidamos, então, do canteiro de vida nova que mora oculto nas entranhas do nosso coração...
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