segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A POTÊNCIA DA LENTIDÃO: OS ESPAÇOS DO DEVIR

                                        Jorge Bichuetti

Regras, a rotina, papéis, normas, valores, o instituído... a orientação sexual e a ocupação, a classe social,  bloqueios, o ego... funcionam fabricando um espaço estriado de vida: coercitivo, inibitório, indutor de repetições e evitativo das mudanças...
O devir, assim, e a diferença, embora, sejam inerentes à vida, ao nosso inconsciente produtivo e rizomático, são cerceados, vigiados, reprimidos e capturados... A negação da potência produtiva e inventiva da vida exige que o espaço estriado vivencie momentos e situações de alisamento, para que agenciem a capacidade criativa do novo.
Urge um processo de desterritorialização...
O estrangeiro, numa terra desconhecida, longe dos seus costumes e da própria linguagem é alguém aberto à desterritorialização... como a ela estão mais propícios os nômades...
O mundo mantém com vigilância e normatizações, estigmatização e exclusão, tudo que poderia gerar a fecundidade do novo, do devir e da diferença...
Nosso ego e o estado são excelentes capatazes da vida normótica de repetições e uniformidade, de permanências e manutenção do status quo.
Muito já se estudou sobre a função desterritorializante das experimentações onde se intensifica os fluxos e se vivencia o não-vivido, o ainda não experimentado...
Porém, a lentidão é igualmente um grande agenciador de alisamentos, pois afrouxa os estriamentos e vigilantes de guarda.
A doença e a velhice... sempre foram vistas pelo olhar médico que é um olhar de construção paradigmática da repetição, dos estriamentos e da evitação do novo... Assim, são negadas e negativizadas... contudo, nelas, pulsam e pululam condições de alisamento, há nelas uma fecundidade para o novo, para o devir e a diferença...
Elas quebram o homem normótico, de força bruta  e de poder... fragilizam o valor normativo da memória e da inteligência reprodutiva do saber norteado pelo pragmatismo e pela racionalidade técnica-instrumental...
Abre-se para o que pode um corpo na ternura e na suavidade... Abre-se para o que pode um corpo na fragilidade... Abre-se para o que pode um corpo fora da ditadura da felicidade burguesa...
Alisa-se o poder molar... o próprio corpo com órgãos se vê embaralhado...
A lentidão, que também, está, na dança, na música, na meditação... são alisamentos e assim espaços de agenciamento do devir e da diferença.. O novo emergindo dos territórios da suavidade...
Devir - parir os eus não-nascidos... o vir-a-ser novidade impensada...
Assim, podemos na alegria e na dor, na intensidade e na lentidão... buscar alisar nossos espaços e voar no novo... abrigando as asas do devir e pousar na invenção de um novo jeito de ser e estar, num novo mundo... um mundo de suavidade e paz...


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