Há uma melancolia no céu nublado... Os álamos, quietos, não perguntam pelo vento... meditativos parecem dialogar com a vida num silêncio reverente e sagrado... O limoeiro, tão festivo, oculta-se no meio das flores que sobre ele avançam e introspectivo, mantém-se calado... Minha pequena Luinha me segue... fiel e leal, é ela que questiona o anda passando no meu coração...
É Natal: não fizemos presépio em enchemos de luzes u'a árvore... Mas, é Natal...
Natal é um tempo que o mundo se desnuda como nu fica no carnaval...
De um lado, o consumismo, o exibicionismo, a banalização da vida no riso raso...
Há um outro lado... Natal é um tempo de saudades, de encontros e de sonhos... Muitos são os que sonham com paz e solidariedade...
Eu, aqui, na solidão povoada do meu quintal, procuro... e pergunto: onde andará o Menino Jesus, tão esquecido, como no dia do seu nascimento... numa singela manjedoura?...
Onde andará o Menino Deus?... O Menino Amor?... O Menino dos despossuídos e dos perseguidos?...
Não o vejo no ouro reluzente das catedrais... Nem nas vitrines de neon do mercado...
Não o reconheço no puritanismo excludente das religiões que salvam os seus e excomungam os outros...
Não o encontro na verdade absoluta dos que cinzentos e rabugentos condenam, julgam, excluem...
Não o sinto no poder que oprime e privilegia... corrompe e é pelo mundo corrompido...
Ele foi uma singela criança... Um menino sem lar que não teve nem mesmo teto para abrigá-lo no seu nascimento...
Nasceu na simplicidade de uma manjedoura, na companhia dos bichos e da mãe natureza... Numa noite solitária... Com ele, apenas Maria e José... que fugiam, perseguidos...
Onde andará este belo menino?...
Ele que elegeu os desvalidos por amigos íntimos... e foi crucificado pelo poder dominante e excludente...
Ali, na manjedoura... a solidão dos desvalidos...
Hoje, muitos o encontram onde viceja o poder do ouro e da espada...
Quero vê-lo... Onde andará?... Releio seus escritos e anoto a promessa de que aqui estaria sempre...
Os que lecionam seus ensinamentos, não me revelam no rosto a sua presença... Há soberba, há orgulho e vaidade... triunfo mundano e negação das dores, feridas e cicatrizes do povo oprimido...
Relembro tudo e todos que já vi...
E concluo que se vi, ele está...
Na vida sofrida do povo da rua... nos meninos que sujos e maltrapilhos mendigam pelas ruas da cidade...
Na lágrima das mulheres espancadas pela violência machista; nas vítimas da homofobia e do bullyng... No grito de dor e agonia dos povos indígenas... Nos velhos abandonados... Nos grupos étnicos discriminados... Nos que padecem de fome, miséria e desamor... Nos jovens dependentes químicos, que atormentados, são negados pelo socius que só valorizam os vencedores do mercado capitalista...
Ele está na juventude indignada da Espanha; no povo valente e sofrido da primavera árabe; na Palestina...
Ele é e esta na face dos oprimidos, dos excluídos, dos marginalizados...
Ele é está no povo da floresta e nas matas verdejantes que são vilmente queimadas...
Ele é a vida cujas lágrimas nublam o tempo, param o vento... num gemido quase mudo pelas forças destruídas pela ganância e pelo microfascismo...
Ele esta no corpo dos que sofrem; no sonho dos lutam...
Ele voa na liberdade dos que amam...
Ele é verso encantado dos que indignados com a exploração, com a opressão e com a exclusão tecem com suor e lágrima a utopia de um novo mundo possível...
4 comentários:
Sinto falta de quando o Natal era produção de bom encontro com Deus.
Através da família e dos amigos podíamos tocar a alegria e a humildade do menino Jesus.
Hoje não é a fé que une, e sim o dinheiro.
O que faremos no Natal? comer,beber, trocar presentes e dormir no vazio que cavamos para nós mesmos.
Cova funda que pretendemos encher de tesouros artificiais e que mal sabemos: preencheremos com os restos do que estamos fazendo de nós.
Assim nos diz a lógica perversa: "Jesus" está a venda! Vendido nas luzes que nos distraem Dele, nos presentes que não são para Ele, na comida e na bebida que em demasia O deixa com fome.
Fome de fé, fome de paz, fome de amor, fome de união e solidariedade.
Amigo, meu Natal é seu Natal e nosso Natal é de Deus!
Dr. Jorge, que beleza este Diário de Bordo: MINHA LOUCA PROCURA... MENINO DEUS , ONDE ESTÁS?...
Mesmo tendo vivido durante um tempo(e ainda vivo) na dor e sofrimento,tenho certeza que estive com Menino Deus...
Encontrei um lugarzinho onde pudesse agachar, chorar e conversar sem falar... onde pensava que ninguém passaria por ali. Um dia pela manhã, surgiu não sei de onde, Da.Angelina, senhora responsável pela higienização dos quartos. Entrava muito séria, sem sinal de sorriso no rosto.
Ao ver o meu desespero, perguntou se poderia dar-me um abraço. Este abraço Dr. Jorge, achou o caminho da minha alma, e lá encontrou sua eterna morada.
As humilhações que sofreu devido ao seu trabalho(ora de pacientes, ora de acompanhantes), fizeram com que ela guardasse o que tinha de mais belo e sagrado: o amor,a fé, a solidariedade. Durante esses 8 meses foi minha amiga, minha mãe, meu tudo!
Ali estava o Menino Deus.
Meu fraterno abraço. Eu, viu!
Josie, sua obra de arte natalina será neste natal nosso altar, meu e da luinha... Feliz Natal: com menino Jesus brincando e sonhando no seu coração de magia e ternura; abs ternos; jorge
Minha amiga e irmã, Ele - o menino - anda do teu lado: caminha e brinca; te socorre e te alegra quando a dor parece intolerável... E ele ri dos teus risos, sonhando com a hum,anidade alegre de um dia... Ali, na luta, Ele te fazia carinhos e te afagava o pranto... Esperança e vida, Ele é o horizonte azul na aurora da vida que reomeça... Paz e alegria; Abraços ternos, jorge
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