sexta-feira, 7 de maio de 2010

SOCIEDADE DE AMIGOS: LUAR, HISTÓRIA E CAMINHOS

                                     O catira na Casa do Folclore

                                                      GILBERTO CAIXETA

Por ser menino era levado e o castigo era ficar no quarto. Ali começava o seu gosto pela música, pela cultura e o conhecimento do mundo. De dedos pequenos torcia o dial do rádio procurando uma voz que pudesse preencher o vazio daquele quarto, marcado por paredes descascadas. No cantinho ficava o rádio do avô, deitava na cama larga de capim, ajeitava o travesseiro de penas e ficava, assim, ouvindo a Voz do Brasil, os clássicos da rádio Nacional e terminava ouvindo ao longe as modas de viola, até que seu avô o acordava para ir para o seu quarto. À época ele tinha 11 anos, e passou um ano trabalhando na fazenda do avô, Manoel Rezende, para "criar juízo". Essa fase marcou sua vida, deixou o Colégio Diocesano e a boa-vida para levantar de madrugada, cuidar do gado, tirar leite, viver com os pés sujos de barro... A sua alegria se completava ao entardecer dos finais de semana quando a peãozada se reunia, depois do trabalho, e a viola chorava acompanhando o choro melodioso do cantor ao retratar a vida no campo. Quando não eram as folias de reis, o catira. Era o céu para ele. É esse cheirinho de infância, de contato com a terra, de conviver com o mundo rural, que ele sente nas manifestações de cultura popular. Assim, talvez, comece uma parte da história deste empresário que a todos encanta, não só pelo seu empreendedorismo, mas subliminarmente, pelo seu gosto irretocável pela cultura, em especial pelo catira. No final da semana passada os uberabenses e os apaixonados por catira (dança originária na relação cultural entre jesuítas e índios) foram brindados com o Festival Nacional de Catira, quando 12 grupos se apresentaram para um público que interagiu, que gritou, bateu palmas, tentou dançar enquanto o catira “metralhava” o tablado do Palácio de Cristal, local do evento na Casa do Folclore. É inenarrável a apresentação da bailarina – filha de Nicodemos – com o catira Romeu Borges. Ele de corpo arriado forçando suavemente as pernas para o catira, enquanto que ela esquia, flutuava seguindo o seu ritmo. Inacreditável. Se índios e jesuítas fundiram o catira, a bailarina – Nathalie e Romeu Borges externaram o belo, na mais pura concepção da beleza. Este festival não seria possível sem que o seu idealizador tivesse agido e encontrado apoio na Petrobras, através de um projeto cultural elaborado pela competente Lisete Resende, da Fundação Cultural de Uberaba. Tem que se pensar agora como um Festival perene. A felicidade não pode ser uma lembrança apenas, mas a expectativa de se ter novamente.
Talvez Gilberto Resende, o anfitrião e idealizador do Festival, tenha se lembrado daquela noite na fazenda, dos peões, dos catiras sorrindo, e se viu menino marcado pelo cheiro da natureza, pela suavidade das cores, pela labuta formadora de sua inteligência, e deve ter agradecido a Deus por tudo. Enquanto nós deliciávamos com a pureza da felicidade cravada por um sapateado, ópera aos ouvidos daqueles que buscam na cultura um pouco de si no outro.
Valeu e muito, mas agora queremos mais.



                                           Um poema, agora, do meu velho, Jorge Antônio Bichuetti Neto, meu pai, escrito em Belo Horizonte, em 1957:

" Você sabe de onde eu venho?
Venho de uma cidade que tenho.
Aqui... no meu coração.
Junto... do Rio Grande,
Nas margenss do Rio Uberaba...
Pois! É de lá que venho.

Você sabe de onde eu venho?
Venho dos caminhos paternais,
Dos afetos fraternais
e os abrigos amigos,
Do sorriso de alguém...

De onde eu venho, amigo?
Venho das saudades queridas,
Das lembranças amigas,
Do ninho em que eu deixei
Alguém a chorar...
Pois!É de lá que venho.




6 comentários:

Anônimo disse...

Doutor lindo, catira?
Ai Deus, já vi muitas, apreciei, mas não é para quem conhece Paris.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Paris e catira? Como não encantar-se com os brilhos das diferenças que reinventam um mundo onde cabe a vida, vida germinando nova, livre e libertária.
meu carinhoso doçe parisiense,
que um dia uma seresta de fale dos amores do sertão.
Pois também se ama na imensidão abraços jorge

Anônimo disse...

Saudade,

As mulheres dos catireiros vivem como na época da escravidão.
Caso precise,apanham e o trabalho é insano, e a cultura não lhes mostraram nem as fizeram sentir.
Vida de estáticas.
Beijo, beijo,.....

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

A problemática da violência de gênero e as dificuldades do amor a meu ver são lutas de todas as mulheres... Ante toda injustiça, minha solidariedade e meu corpo guerrero. abraços jorge

Anônimo disse...

As mulheres gostam de ser ingenuas;
as mulheres entregam-se a fragilidade;
as mulheres ajoelham-se diante a impetuosidade disfarçada dos homens;
as mulheres precisam aprender a lutar como se passa um batom; a cada dia que passa iremos comprar bebes no supermercado e o amor será a promiscuidade.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

as mulheres desejam voar, sonhar e amar...
Desejam beijos de mel, e abraços de aconchego e paixão...
Aspriram que a suavidade seja a força da vida, movendo moinhos e a história, por um amanhecer de paz.
desejam a felicidade... jorge