O escuro da noite cegou meus olhos, nada vi... mas, escutei. Escutei o vento musicando os altivos álamos, e ,ali,
cantava a vida. As estrelas brilhavam... como se fossem velas acesas no coração do infinito. O cheiro da roseira, impregnado o ar, junto com a sabor de terra que subia dava-me a impressão de que a vida recomeça alegre, forte na esperança e suave na ternura... A Luinha não quis ir no quintal, invejei seus sonhos: sonhos de criança que devia estar num intenso brincar...
As manhãs me asserenam; me dão aconchego e coragem de seguir... Seguir navegando entre o mar e o cais.
O sol tarda, tardam, com ele, os passarinhos... Mas, virão... e comigo seguirão a aventura de um novo dia...
Navegar é preciso...
O ser humano já se estressa, veloz, ocupado, cheio de afazares...
Na quietude das manhãs, tenho a oportunidade de encontrar com a beleza da imensidão e num prosear íntimo, questionar-me: o que eu quero do dia? o que eu busco no mar?...
Cada vez mais, o que procuro nasce dos sonhos e desejos que o silêncio das manhãs acordam no meu coração... e do que escuto na poesia sem palavras do horizonte azul...
Assim, caminho... combinando a ousadia da coragem nas lutas com a serena quietude da aceitação dos limites e percalços do caminho que são viézes da travessia dos que buscam a aurora, sob os encantos da vida de suavidade que emerge da contemplação da vida de magia e paixão, rutilante no luar...
Viver deveria ser simples, todavia, andamos complicando a existência: acumulamos lixo mental, desejos fúteis, sonhos vazios e descoloridos...
Andamos copiando padrões ditados pelo poder e pela mídia, esquecendo de dialogar com o nosso próprio coração...
Deste modo, somos servis aos ideais que muitas vezes, não mobilizam em nós as forças da vida...
Queremos... por querer... Navegamos sem querer chegar...
Viver é potencializar nossa capacidade criativa, buscando afirmar nossas potências na realização e edificação dos nossos sonhos e desejos singulares...
O frenesi do mercado nos anulou a capacidade de saber o que é, de fato, o sentido das nossas vidas...
O psiquismo seduzido rumina os ditames do mundo; mas, o nosso corpo não se sente mobilizado, contagiado, vitalizado...
Daí, de tanto não ser escutado, ele começa a falar: com dores, angústias, tédio, vazio e depressões...
A afirmação da vida potenciaza nossos corpos: contudo, ela se dá na alegria dos bons encontros...
Como viver um bom encontro, se o meu coração silenciado tornou-se, para mim, um grande desconhecido?...
Reflitamos...
Reflitamos, proseando com Fernando Pessoa:
- "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena."
- "Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."
Ouvindo-o, aprendemos a ouvir nossos sonhos e desejos, tesouro do nosso coração...
4 comentários:
É sempre muito interessante poder lê-lo.
Um abraço Jorge
oa.s
Teu diário é tesouro encontrado no fundo de teu oceânico!
Estou a bordo, navegando contigo nas ondas do viver!
Apenas me pergunto se viajamos no navio dos sonhos ou nas águas profundas de nossa liquidez!
Irmão...
OA.S - um encontro onde nos afetamos mutuamente pelo caminho de sonhos dos que vêem além das nuvens a aurora... abs ternos, jorge
Jô, navegamos nas ondas do devir que encontramos no barco da poesia... abs com carinho imenso; jorge
Postar um comentário