sábado, 16 de outubro de 2010

DIARIO DE BORDO: O CAMINHANTE INVENTA O CAMINHO

                                                                                               JORGE BICHUETTI

Hora de dormir... Acordo e me sinto num mundo deserto. Gaiarsa se foi... Tantos partem e a dor da partida, despedida numa estação de trem deixa uma dura impressão de vazio.
Não é verdade, nem é justo...
Logo, chegarão a cantoria dos pardais , a meiguice da Lua, os poemas de Manoel de Barros e as recordações de Benedetti...
Porém, não justo ou verdadeiro, porque os que partem nos deixam suas malas: suas lições, seus livros, suas palavras, seus silêncios...
Creio que o deserto se dá mais nos desencontros dos que ficam... No indigno e injusto, no violento e mesquinho, na calúnia e na manipulação... Na dor sem oombro, no ombro sem amor...
Deleuze , certa vez, numa carta emocionada disse que o dia emm que por desventura deixasse de crer na generosidade, na amizade e na solidariedade, a vida perderia seu sentido.
Pesa-me tanto deserto... Mas eu quro gritar com Dom Héllder Câmara: o deserto é fértil!...
Creio no amor e na bondade, na liberdade e na justiça, na solidariedade e na ternura, na compaixão e na generosidade.
Eu creio nos sonhos...
A utopia é e será sempre o meu caminho, com o suor e as lágrimas de saber com Löwy que o caminhante inventa o caminho...
Eu creio... e eu quero cidadania e acolhimento, cuidado e canção.
Perguntaram a Do Pedro Casaldáliga como seria o solcialismo tupiniquim, à modo do povo da floresta, da gente simples co quem partilha sua vida, ele respondeu, sabiamente: pão, terra, seresta e oração!...
Os surrealistas, velhos passarinheiros, dados aos sonhos, escrvevem num manifesto uma nova ordenação: liberdade na arte na revolução, revolução na liberdade da arte...e, aqui, no silêncio desta noite paradoxal, acrescentaria - revolução na arte da liberdade.
Há lugar para o amor... Um oásis...
Um caminho de carinho e ternura... Um caminho de liberdade e respeito... Um camiho de solidariedade e poesia...
Afinal, aprendemos com os surrealistas: " não será o medo da loucura que nos fará baixar as bandeiras da imaginação"
E com dona Aparecida, usuária do CAPS-MARIA BONECA: " A loucura é o vazio da solidão de quem ama."
Sigamos, então, inventando caminhos de dignificação da vida, de utopias solidárias e de sonhos de ternura e amor.
Neste caminho, o nosso povo, esta gente alegre e festiva, não se verá ultrajada pelos nossos atos de puro gozo com o poder, num agir e intervirr onde subtraímos da palavra ÉTICA.

11 comentários:

Sumaia disse...

Bom dia Jorge!

Quanto acalento... acordar com o canto madrugadeiro da roça, ler sua fala carinhosa e, juntamente com a docilidade de Marco Aurélio, sentar-me a beira do fogão de lenha, servida de café amargo, preparado a pouco, para renascer na vidinha mundana...

"Generosidade, amizade e solidariedade..." ajudam as redes protetoras embalarem o sono dos sonhadores, dos artistas e dos esperançosos de bela aurora que se fará em instantes para nos dar sentido...

Bom domingo,
Sumaia

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Eu e lua, estamos mortos de boa inveja: que é desejo de partilha. A roça e o tempo dão um compasso de suavidade se vivemos o aconchhego do carinho-terno da vida de amor e paz. abraços jorge

Anjo Azul disse...

Oi!
Convites não faltam... Há, falta sim! "Falta a borboleta Azul buscar o desejo e materializar, Lua e Seu Jorge aqui, num papo bom de quintal..."

Bom domingo!
Sumaia

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Os sonhos se realizam... Minha vida anda atribulada, mas será diferente... O importante é que existem céu azul e canto de passarinhos... Os sonhos alimentam o peso da cruz. abraços jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Logo. vamos deixar o horizonte enfeitar nossos sonhos de realidade. Lua e eu necessitamos de vida com cheiro de mato e gosto de liberdade. A vida nos fabricamos, mas nem sempre a fazemos para nós. Cada rotina vivida parece que nos assaltaram um pedaço da alma. abraços jorge

paulo disse...

a frase de dona Aparecida curou minha gripe...paulo cecilio.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

aCRESCENTE, ENTÃO, ESTA, AMIGO: "qUALQUER AMOR JÁ É CADINHO DE SAÚDE, UM DESCANSO NA LOUCURA" gUIMARÃES ROSA. ABRAÇOS JORGE

Maria Alice disse...

Uma perda irreparável.
Gaiarsa partiu dormindo, sozinho, em casa.
Um pensador, um mestre da liberdade. Nos seus livros e programa de TV insistia em nos cutucar, em nos fazer pensar, sobre o amor, a relação entre homens e mulheres, o gozo, a monogamia, a família e a felicidade.
Por suas idéias não convencionais, foi incompreendido pela ciência ortodoxa.
Por sua franqueza, foi amado, odiado e apelidado de terrorista social.
Mas afirmava não se arrepender da vida que levou. Assim como Nietzsche, acreditou que a maior inimiga da verdade não é a mentira, mas a convicção. Sempre dizia
"tive a sorte - e o azar! - de viver quase todo o século XX".
Também a tive a sorte de ouvir José Angelo Gaiarsa, com seu inseparável boné, com sua inseparável simplicidade, discorrer sobre “Respiração, ansiedade, renascimento (rebirthing)”, durante o “Simpósio Saúde Integral”, realizado em São Paulo. Esse psiquiatra-educador, foi aplaudido intensamente por mais de 3.000 participantes, e com direito a bis...bis...
Um pequeno bis:

“(...) Fomos caçadores errantes por mais de um milhão de anos, assim modelados para sermos grandes aventureiros. Mas a sociedade tornou-nos sedentários e pouco ou nada fazemos do que de fato desejamos. Sempre ‘prontos para’ fazer ações, não as fazemos, porque não pode, não se deve... Obrigados a uma infinidade de coisas sem interesse, ‘fugimos’ o tempo todo do presente e a personalidade é comandada pelas habituais reações automatizadas. Entra em ação o ‘sonâmbulo’, o morto vivo, o normopata: não pensa, pouco percebe e nada sente”(...).

Carinhoso abraço, Dr Jorge,
Maria Alice.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Maria Alice, o terror não é a morte, que é inominável para quem vive, já que este nunca falará ou escreverá afetado por ela... Ele se aquieta no aconchego do silêncio...O maior terror é não poder partilhar com alguém a partida de um mestre, de um amigo, de um coração querido.
Obrigado!
Ele foi persistente na sua condição de homem liberador.Era um liberador: nos liberava de nossas neuroses, de nossas llimitações normôticas, de nossos comodismos, de nossos medos, de nossas repressões...
Sempre humilde, simples e de bom humor.
Nos ensinava a respirar, a movimentar-nos: hoje baila nas nuvens e respira o perfume de flores angelicais...
E deve rir muito de nós, os homens de aqui debaixo, que perdemos tempo e não vivemos, já que se estamos condenados a viver, o melhor e mais prático é viver bem e feliz.

Abraços . com ternura e carinho: jorge e lua

Maria Alice disse...

O Gaiarsa era uma das últimas inteligências reais do nosso país. Triste de nós, que já tivemos uma personalidade como ele na TV, e hoje temos os idiotas aplaudidos como grandes pensadores e mestres. Não podemos deixar que caia no esquecimento os seus ensinamentos.
Pois é, “hoje baila nas nuvens e respira o perfume de flores angelicais...” baila entre as estrelas e admira a beleza da Lua.
Um bom a menos do lado de cá.

Dr. Jorge, um afetuoso abraço e um beijinho na linda Lua, que nos dá ternura e luar.
Maria Alice

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Querida, Deus também gosta de boa companhia.
Outros surgem, a vida se renovam, porém, eles são inesquecíveis. Lua manda um abraço e beijos . jorge