terça-feira, 19 de outubro de 2010

REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL: TRABALHO, VIDA E SONHO

                                                                           JORGE BICHUETTI

Normalmente, pensamos que somente corpos e mentes machucadas, amputadas, estropiada , inibidas, bloqueadas ou cronificadas numa série de limitações necessitam tematizar a problemática da reabilitação psicossocial... Incapacitados, debilitados, limitados... Todos eles são funcionamentos singulares, diferentes, e como nós estão de posse de habilidades e inabilidades...
Rotelli, superando olhar de deficiência, lesão e enfermidade, na saúde mental, conceitua que uma análise e um cuidado deve abordar todas as linhas da vida.
Isso nos sugere uma reflexão foucautiana: o que estamos fazendo de nós?
E, consequentemente, uma pergunta sobre o nosso trabalho no campo da reabilitação psicossocial: o que valorizamos como linhas de recuperação, desenvolvimento e capacitação, quanto olhamos um portador de sofrimento mental ou físico, vivenciando um trabalho de reabitação?
Sarraceno nos instrumentaliza e nos subsidia fecundas intervenções, porém, há de admitir que o seuolhar se restringe ao processo produtivo e a reprodução da força de trabalho.
Vê a moradia, a produção de valores de uso e a capacidade de trocas mercantis...
Aqui, estamos preocupados com a vida e suas diferentes linhas e na potencialidade de se pensar qualidade/capacidade de vida para além dos imperativos dominantes no mercado ena vida capitalista.
Como usufuímos das nossas potências no existir?
Começamos, então, a pensar a reabilitação psicossocial como uma intervenção que resgata habilidades perdidas ou danificadas,desenvolve outras habilidades funcionais no contexto da realidade vivida no mento atual; mas que também possibilita a potencialização da vida com re-aprendizado ou aprendizado de novas habilidades, e, igualmente, cuida do homem para que ele se torne consciente e audaz na busca dos próprios sonhos.
Perguntamos: damos vida às nossas habilidades? Buscamos atividades que produzem alegria e paz? Exercemos um repertório de atividades criativas, diversas e socializantes?
Assim, num exercício singelo de repensar a reabilitação psicossocial, pontuaremos alguns campos da vida, vida de todos nós...
Moramos... Cuidamos da nossa casa para que ela nos seja acolhedora e singular segundo nosso modo de viver? tomamos posse dela? Ou simplesmente nos alojamos?
Comemos... Aprendemos a cozinhar, a desfrutar de novas receitas e de fazer do ato de comer um momento especial?
Como andam nossas relações? ... Relações de vizinha, com nossa família e com a nossa comunidade?
E nossas relações amorosas?
Cuidamos do corpo? O enfeitamos, o exercitamos, o manuseamos ou simplesmente, cumprimos os hábitos de vida mecanicamente higienistas?
Dançamos? Ouvimos canções? Camiinhamos?
Que prática corporal executamos com prazer e harmonia?
Já permitimos o nosso eu-artista arriscar nas suas aventuras?
E nossa sexualidade? Nosso exercío de cidadania?
Sorrimos, cantamos... conversamos.. Vemos o pôr-do-sol e escutamos o canto dos pássaros?
Que filme asssistimos? Que amigo visitamos?
E as festas, as desfrutamos?
Temos sido solidários, gentis, ternos, boa gente?
Desevolver habilitades é potecializar bons encontros e paixões alegres.... É exercer a anossa posição de desejo e a nossa vontade de potência?
É ir atrás dos sonhos desistidos na covardia ou comodismo de uma vida de rotina...
Semear uma flor, plantar uma árvore... Dar um abraço, escrever uma carta...
E  aquele violão no armário que desistimos por falta de tempo?
Somos homens que produzem e vivemos numa economia de trocas, mas somos , também, homens de desejos e sonhos... De arte e de artimanhas... De fé e espiritualidade... De maluquices e algumas sacanagens...
Reabilitar é , então, também, habilitar...
A loucura nos ensina... que inclusive é habilitar ao direito à preguiça... ao ócio alegre dos passatempos improdutivos, contudo, agradáveis...
Deixemos, sem medo, o mundo dos sonhos e o universo da alegria guiar nosos passos na construção da vida que queremos viver.

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