quarta-feira, 20 de outubro de 2010

DIÁRIO DE BORDO: INVENTÁRIO DO INSTANTE...

                                                                                          JORGE BICHUETTI

O dia acordou e não me esperou... Agora, vou atrás do que me espera, levando uma certeza inquestionável da vida, vida sempre fascinante se não me perco e sigo desencontrado sem saber onde anda os meus... Meus desejos, meus sonhos, meus caminhos...
Celebramos ontem o aniversário dos gêmeos: Charles e Adolfo, e como foi belo a alegria do abraço de afirmação da amizade no desejo de vida feliz e plena, para eles que são parte, conexão, bifurcação da vida potente que nos permitem ternura e companheirismo.
O pernil, a cerveja gelada, a boa conversa... A festa é o ritual de união dos homens com os os deuses e nela nunca sabemos o que de nós voa e atinge o azul infinito e que deles desce irradiante, fazendo o chão florescer e frutificar o amor e a paz. a alegria e a solidariedade que deveríam perambular, diariamente, pelas vielas do cotidiano.
Agora, irei para o CAPS-MARIA BONECA... Clínica? Escola? Lar? Canto en-cantado de bons encontros...
Muitos me perguntam se a loucura me cansa e eu , tímido, nem sempre respondo a verdade: ela me renova e inova, e lá não somos somente cuidadores e usuários, somos comunidade solidária e libertária na mística e no carisma do amor, do acolhimento, da ternura e da inclusão singularizante... Somos uma ilhota de alteridade, cheia de cantoria, riso e partilha...
Levarei meus livros... Não os deixo... Não sei se eles se apegaram às minhas mãos ou se se já não sei viver sem tão boa e gentil companhia...
Comigo, Nietzsche ressoará por toda manhã, dizendo: "A maturidade do homem: isso significa ter reencontrado a seriedade que se tinha ao brincar quando criança."
De Barros, levo: " Quando as sombras avançam na estrada é preciso aldear" ou " Os girssóis tem o dom da aurora" ou ainda "Estátuas sofrem de lodo nos jardins abandonados."
Seguirei o meu dia....
Ouvirei Noel Rosa ... Brincarei com a Lua...
A política já anda me dando asco: jogo sujo, apelação, tentativa de se impedir a justiça e a liberdade, a solidariedade e o direito à alegria...
Ninguém noticiou Chico Buarque, Boff, Sader e mais de mil artista, cantando: Dilma, Dilma!...
Olé, olé,  ólá... A mídia teme que o povo sinta vontade de ser feliz e de contnuar seu processo de conquista de dignidade e cidadania.
Denoitinha, já cansado, conversarei com Ele e já sem força para escrever um texto, um poema ou um panfleto, somente lhe direi: Deus Pai, nos nos permita de novo o osso cruel da orfandade.
Sem medo de ser feliz, dormirei e com a esperança de que Ele ouvirá os clamores do seu povo, sonharei com Dilma presidente e não sentirei meedo de ver minha gente de novo no lamaçal do abandono e da miséria.
Os sonhos não podem morrer... nem a poesia pode silenciar-se...
Continuemos todo dia, cantando: "o sol levanta e a gente canta o sol de um novo dia"

2 comentários:

Josiane disse...

Amigo...
Me conectei ao mundo virtual e logo me foram jogadas, à guela abaixo, as notícias atuais da política. Triste e com repúdio tentei achar a calmaria de que precisava, e a encontrei aqui quando li que você também vem sentindo asco dessa baixaria.
Me entristeço porque nesses últimos dois dias estive em um simpósio sobre a Rede de Proteção à Infância e à Adolescência...quantas composições...nossos ouvidos puderam ser acariciados com a magnífica história de militância da guerreira Ivone e de seus dispositivos de afectos...nossos corações vibraram ainda mais vermelhos com os relatos das Mães Sociais, e alguns, ainda estarrecidos se perguntavam: de onde emana tanto cuidado, tanta solidariedade, tanta coragem?
Penso...as práticas sociais e da saúde, ainda afixadas numa postura mecânica de técnicos, impede que as forças instituintes que emergem principalmente do acaso, da entrega dos afetos e da composição de redes inventivas, faça parte das intervenções no nosso dia-a-dia.
Ouvimos: "é necessário e também perigoso atuar interdisciplinarmente", pois a interdisciplinaridade não é uma simples conexão com as diversas áreas do saber e sim uma interconexão de territórios...e ir para o território do outro é perigoso...o que pode desmoronar? nossas certezas cristalizadas? nossa prática tecnicista? o saber tão bem emoldurado?
Ortegay y Gasset diz sobre o sábio-ignorante: sabe-se muito à respeito de muito pouco, sabe-se pouco à respeito de muito...então...aliemos o pouco que sabemos de muito e componhamos uma sinfonia de saberes e práticas que sejam polifônicas aos ouvidos de todos!
"Os sonhos não podem morrer" e diante de tanta violência sangrenta e também branca dessa política altamente partidarista, continuemos a sonhar com um mundo melhor e principalmente com um cuidado maior com essas crianças nossas...tantas tão sofridas...tantas tão mortas!

Obrigada amigo, pelas palavras de acolhimento, seu blog, entre inúmeros devires é também braços virtuais que nos embala enquanto tristes estamos!

Abraços!
Josiane

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Josiane, não é fácil... ver as dores e sentir que entre elas e nossas mãos ainda se erguem barreiras - uma névoa, de comodismo, evitação, opressão e desmatelamento do cuidado possível e necessário.
Daí a necessidade de construirmos disppositivos e máquinas de guerra, pela vida e pela inclusão social.
Não consigo viver mais sem os delírios dos sonhos utópicos, mas que me permitem perceber, um dia, omundo e nós, num devir solidariedade.
Abraços jorge