Jorge Bichuetti
Madrugada fria... Não o frio doído do sul; um friozinho na alma... a vida querendo acolhimento e carinho... O abraço é uma manta tecida pelo amor: aquece o corpo e dá vida aos sonhos... O céu cinzento, pesado com suas manchas marrons e negras... Choverá!... Mas, o que mais me afeta agora... é que me senti profundamente sozinho... Não ouvi nem o vento, nem os meus belos e vadios passarinhos... A Luinha quis estar comigo...Ladrou forte quando notou um fio de lágrima na minha alma... Abracei-a e após alguns minutos de silêncio nos recolhemos... Mostrei-lhe a carta de Adriana, o último email do amigo guerreiro Kazi... Ouvimos Bethânia: ela, pela primeira vez, não tece ciúme... Ouviu atenta...
Quando fui planejar na expontaneidade da escrita direta o blog, ela quis ver as fotos... Amou-as todas... uma só lhe deixou pensativa: a foto da presidenta no interrogatório que ilustra o belo texto do valoroso Emir Sader...
Ficamos, os dois, ali... parados... entre as dores do passado e a nobreza dos que, um dia, decidiram que viver é muito mais do que simplesmente passar, realizando seus desejos pessoais...
Viver, na altivez das colinas, é dar-se pela vida...
Escuto, diariamente, e me escuto, no acúmulo de sofrimentos pelo que queremos e não temos... pelo que gostaríamos de possuir e que foge no entre as linhas das nossas mãos...
São tristezas, frustrações, insatisfações...
Mas, há na vida os que se dão para que a vida se inove, florescendo ternura e amor, liberdade e justiça...
Pensando neles... hoje silencio... bato a cabeça, reverencio no orgulho de tê-los como heróis e mártires da vida de utopia que me ensina que posso iludir e me alucinar com as luzes de neon... mas, também, posso buscar lições para o caminho nos que se dando, aqui ou além, permanecem como estrelas vivas do sonho de um país, como brilho e altivez da dignidade de um povo...
No dia-a-dia, sofremos muito pela acomodação e pela preguiça física e ideológica de dar-se... dar-se para que o outro tenha no lugar de u'a lágrima um sorriso; para que a nossa pátria não apodreça na escuridão dos desvarios brutos da ganância e da opressão...
Dar-se é viver a solidariedade no limite, na intensidade máxima... é amor incondicional...
Dar-se é indignar perante as injustiças e colocar o próprio corpo na luta para que a vida alvoreça plena de liberdade paz, inclusão social e bondade ativa...
Dar-se... é ato ativo e guerreiro, cumplicidade e partilha, coragem de superar a apatia e ir... secando lágrimas, semeando flores, desbravando o horizonte azul da verdadeira fraternidade...
Dar-se é ser, com o próprio corpo, um estrela da manhã... nas noites de escuridão e morte...
Dar-se é partilhar... ser companhia... e ser janelas e portas para que o mundo se inunde com as luzes e a vida plena de um novo tempo... um tempo de suavidade e comunhão... de igualdade e irmandade... Dar-se é calar a cantinela do ego para que grite e cante a sinfonia da solidariedade que é nas encruzilhadas da história o canto do amanhã...
VERDADE
MEMÓRIA
JUSTIÇA
TORTURA NUNCA MAIS!!!
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