terça-feira, 16 de agosto de 2011

DIÁRIO DE BORDO: PASSOS NO CAMINHO

                                          Jorge Bichuetti

Lá fora, uma epopeia de vida e alegria. O luar e as estrelas... um vento suave cantarolando no roçar as folhas das árvores. Um profundo silêncio. Apenas, a vida canta... esperança e paz. Os tumultos do mundo e as dores do caminho marcam a vida; mas, ela segue, altiva e confiante, crê no alvorecer... Numa alvorada que acorde os sonhos; numa alvorada que nos despertem para ser nos passos do caminho da vida...
Já ouvi muito: mulheres da vida, este é da vida... exclamações acusatórias...   e, agora, aqui, já amadurecido nos anos que pesam , mas, também, somam, como gostaria de ser da vida...
Gostaria de caminhar, afirmando nos passos da minha jornada a vida. A vida que é amor e compaixão, justiça e liberdade, cidadania e solidariedade, inclusão social e libertação. 
Agimos quase sempre por nós... Nosso querer, nossas opiniões, nossos projetos... Poucas vezes, nos colocamos como agentes da vida... instrumentos da imensidão para que vida seja o alvorecer da paz e do amor.
Nossos passos no caminho desenham o que pode a vida num dado tempo histórico... Abrimos portas e janelas; criamos porões e senzalas... Nosso olhar de carinho é ponte que permite os que estão do outro lado, separados pelo abismo da exclusão, de crerem que podem voar e transitar, alcançando o que lhes é de direito, a vida.
Nosso olhar marginalizador inibe, aterroriza, mortifica... fragiliza... mantém a maioria silenciosa que ante o abismo, resignam e permanecem à margem dos seus direitos, alheias aos patrimônios da vida.
Cada minuto, cada encontro é oportunidade para a solidariedade...
A solidariedade é o canto da vida que sonha com um mundo de justiça e paz...
Muitos se sentem harmonizados com a vida porque cumprem determinadas ordenações que caracteriza a dignidade para o pensamento dominante...
Muitos se escondem atrás das esmolas que é um bom divisor de água para se descobrir , se agimos pela vida ou se somos sinistros monstros que dulcificados amordaçamos a vida para que a vida não conte ao mundo seus sonhos de libertação...
Doação é partilha, solidariedade ativa... caminho partilhado que vincula, cria cumplicidade, amizade  e responsabilidade... por isso, é diálogo, escuta, é inclusão social... é solidariedade que apresenta, presentifica o excluído e o inclui numa só caminhada.
Há esmolas que são manobras para que permaneçam silenciosas os que na dor da exclusão agonizam... É vertical; é humilhante; é paralisante... Não dialoga, não escuta, não dá voz... Anestesia para que se mantenha a apatia. É tirania cruel que nega ao outro o seu lugar na vida, que nega à vida o encontro com os que igualmente são seus...
A esmola alienante nega o outro, ele não pode ser... ela o torna um invisível...
A solidariedária ativa coletiviza na doação, é partilha, mas é também encontro, vínculo, caminhada comum... abre-se um espaço de visibilidade, um ser... ela necessariamente é inclusão.
Pão negado é egoísmo... porque a ética do bem comum  transforma o pão em pão nosso...
Pão doado na negociata de que os pobres e miseráveis se tornem invisíveis... um não ser... sem espaço e voz... é egoísmo tirânico, um precursor do que os estudiosos um dia nomeariam como inclusão diferencial...
Solidariedade é partilha no caminho de convívio e cumplicidade, luta e resistência por mundo de todos...
É o o amor fraternal... o que permanece. Pois, um dia, a vida será vida plena na alegria da superação do mundo de miséria e exclusão pela construção terna da libertação onde vida não seja um privilégio, nem vida esquartejada nas lágrimas do cotidiano...


Nenhum comentário: