POESIA: GERMINAÇÕES DO LUAR...

                                 MINHA TERRA
                                               Jorge Bichuetti


Na lembrança, um rio
entre vidas... sinos e
flores entre sonhos...
As pedras e o barro
se apagaram da memória;
porém, as pessoas,
ah, as pessoas,
estas ficaram eternizadas...
As carrego, farol e cais,
u'a certeza sóbria e singela,
como se minha terra fosse
um livro... um rosário;
nela, passam caminhantes
o suor do trabalho
e a ternura das grandes amizades...


Minha terra singela,
entre rios,
é a florada do tempo
onde o amor e o cuidado
são o pão e vinho
da vida... da vida
laboriosa que brilha
num perene devir
humanidade...

                        OUTROS LUARES
                                      Jorge Bichuetti


No céu, brilha
a lua serena e
no orvalho, eu
floresço, ternamente...
Coisas da idade!...


Já estive na noite
onde havia a magia
de outros luares...


Noite de festa, 
cio e paixão...
Noite de seresta,
sonhos de moço,
nas curvas do destino
da vida no frenesi
onde se a lua brilhava,
meu corpo se incendiava
de desejos
de carências
de febris ilusões...


O outono chegou...
O temi por tantos anos;
e, agora, o degusto,
nos fantasmas que se formam
na fumaça bailando
no sopro suspirado -
a vida que se forma
nas nuvens que embora não
tragam as travessuras
dos vendavais,
sempre germinam
a poesia da canção,
folhas secas voando no ar
e riscando no azul do horizonte
a poesia de uma última canção...


Só agora soube
que o outono é belo,
tempo de serenidade...


Assim, sem medo do fim,
caminho vagaroso,
retratando no lápiz
a vida suavemente tragada;
como se no nevoeiro
que sai dos meus cigarros,
estivessem adormecidos
todos os monstros,
e a vida já fosse,
tão-somente,
u'a terna eternidade...