No meu quintal, claro e iluminado pelo brilho das estrelas, ouvi o vento que musicava o bailado dos álamos... Silêncio e paz... Uma profunda serenidade... O luar andava oculto... O procurei; depois, entendi e me pus a escutar o vento... Luínha me acompanhava quieta e atenciosa; creio que para ela magia e poesia são canais para o infinito... No vento, recordei de muitos que vejo pelas ruas: caídos, famintos... sequiosos de carinho e atenção... Conclui que o calvário é uma epopeia de dor, infelizmente, repetida, revivida, diariamente, pelos que caminham perambulando nos becos da desvalia...
A noite silenciosa, se com ela dialogamos, nos conta... das dores do nosso povo... povo altivo e alegre; porém, povo sofrido e machucado no calvário da exclusão...
Não construimos um mundo para todos... O mundo é de alguns... e a maioria vive nele suportando as chagas da miséria e da estigmatização, da marginalidade e da desvalia... Excluídos dos bens e espaços de abundância; contudo, povo nosso, nossa gente...
O socius vê o manejo das elites que querem torná-los invisíveis...
Todavia, eles estão na vida olhando nos nossos olhos... Olhar tímido de quem já foi cruelmente rejeitado.
Palavra marota de quem tenta não afrontar... pois o nosso povo é no dia-a-dia povo mortificado, negado, violentado...
Relembro o calvário e percebendo que ele permanece... ouço perguntar... Nele, que papel desempenhamos?...
Somos a solidariedade e a compaixão do anônimo Cirineu, o camponês Simeão? Simeão ante a dor do Cristo caído, carregou por três vezes a sua cruz...
Somos As mulheres piedosas e ternas que partilharam o Mestre dos Mestres as dores da vida, aos pés da cruz, na companhia singela e amorosa de João?...
Ou diante, do nosso povo excluído, que é povo crucificado somos:
- a irresponsabilidade e a maldade coletiva dos que gritavam o colocando na Cruz em troca da liberdade de Barrabás?...
- a omissão e a covardia de Pilatos que lava as mãos e com a consciência anestesiada volta para as alegrias de seus tresloucados festins?...
- o espírito bélico e higienista de Herodes e das Sinagogas?...
- ou somos, a traição de Judas, o medo de Pedro, a vacilação na dúvida de Tomé?
Quantos personagens!... quantas atitudes!...
Assim, o é... diante do povo excluído, povo crucificado...
Vemos suas lágrimas, sentimos a angústia de suas dores, observamos as feridas que sangram...
E o que fazemos?....
Nesta reflexão, queríamos relembrar do nosso compromisso histórico com o povo oprimido e excluído... O calvário é o drama da crueldade da exclusão... Nele, a vida nos clama piedade, misericórdia, compaixão e solidariedade...
Lutemos...
A covardia e o medo é atrofiamento do coração; aviltamento da nossa humanidade...
Ante dor dos excluídos, que o clamor da justiça nos leve aos páramos das ações dignificantes do amor vivo e atuante... O resto é silêncio...justiça e paz, solidariedade....
07 de setembro - o grito dos excluídos:
9:00 - praça da igrejinha de santa rita
2 comentários:
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Manoel Bandeira - narra o drama do homem escluido.
Lívia: o Bandeeira era a voz dos ikêncios da agonia... abs ternos
Postar um comentário