segunda-feira, 8 de agosto de 2011

CRISE VERSUS LOUCURA: PARA ALÉM DA PATOLOGIA; O DEVIR...

                                               Jorge Bichuetti

Estabilidade, continuidade, permanência são vocábulos que nosso ideário da normalidade social e psíquica, usa com soberba e louvação.
Cultuamos a vida e o caminho como repetição, homeostase, mesmice...
E quando pensamos no processo evolutivo, o vemos num caminhar de acumulação matemática... linear e harmônico.
Nada mais irreal... pura ilusão, ideologia.
A vida se dá entre saltos surtos, ela pula, voa... emerge diferença radical.
Vivemos sucessivas crises: negadas, camufladas, evitadas, patologizadas...
Contudo, a crise é o motor da produção inventiva da vida nova, do novo radical...
Crise é encruzilhada, passagem, transição: efervescência vital; surto disruptivo...
Nela, se vê um questionamento profundo e radical do que esta dado, instituído, organizado... hora de caos... porém, já sabemos que o caos é produtivo, é caosmose.
Na crise, estão checados a vida cinzenta da nossa rotina aborrecida e sisuda. Já não somos felizes, nem encontramos sentido no vivido, no cotidiano... Abre-se, então, um processo... O ser humano se desterritorializa e já não se sente capturado pelas repetições da sua identidade, agora, em crise... Como não suportamos a crise, pois vivemos num mundo de manutenção do status quo... emerge na crise, junto com a caotização, elementos de dor, de angústia, de pânico... um surto. este surto é visto pelos vigias da ordem como uma anomia, uma anomalia, uma doença... São na realidade gritos da vida. A vida clama por mudança, deseja nossos sonhos e nossos horizontes...
Neste espaço de descontrole, pode-se criar lacunas nos estriamentos que nos subjetivam a mesmice aborrecida que já não queremos ser... Abre-se alisamentos... e a potência do devir - da diferença, do novo radical...
A loucura é doença num comparativo com a racionalidade técnico-instrumental instituída como normalidade dominante; ela é desrazão... u'a outra racionalidade.
E se torna esquizofrenia de asilo na captura exercida pelas práticas asilares que negam o desejo, a produção inventivo, o devir... e o sucateiam por meios de mecanismos perversos de antiprodução, de morte: o novo é negado e suprimida, sobra um trapo autista... ali, onde germinava as florescências do novo, o devir...
Desdiabolizemos nossas crises...
Aceitemo-las como um grito que revela que podemos mais... Mais vida, mais liberdade, mais alegria... Podemos ser estrelas bailarinas, o borboletear andarilho dos que fecundam a vida e se parem vida remoçada na diferença radical.


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