domingo, 7 de agosto de 2011

DIÁRIO DE BORDO: A SINFONIA MATINAL

                                                 Jorge Bichuetti

O sonho da minha pequena Luínha guarda magias e encantos que me levam aos universos da ternura... Ela dorme; mas, se me sente frágil, desperta e me acompanha no trabalho, aninhada nos meus pés, como se falasse... escuto suas palavras... e no silêncio, o canto da imensidão... O orvalho suaviza o ar; cheiro de mato, terra molhada - cio da vida... Cantigas de acordar para o amor e a compaixão... Os álamos erguem-se guerreiros... abrigam as rolinhas e os pardais... e  logo que os sinos  badalem majestrais... tudo e todos, rompem o silêncio e povoam o alvorecer com o grito de esperança da vida numa sinfonia matinal...
A vida no alvorecer canta remoçada a sua terna e terna esperança... Vida teimosa, persistente... insiste e contagia: pari um novo dia, impregnando o mundo com a sua altaneira e suave ternura... A vida é um canto da esperança que se renova na luz do alvorecer...
Sempre desejei desvendar os caminhos que me pudessem dar suavidade... na madrugada, esperando à aurora, os vejo: a ternura e a esperança tecem serenidade e paz para que possamos, nós mesmos, nos reinventar numa nova suavidade...
Creio que todos os males que assolam a vida, seriam derrotados, se contagiássemos nossas vidas com ternura, esperança, compaixão, serenidade, paz, suavidade e solidariedade...
Eis os guerrilheiros da grande mudança...
A violência campeia, pois cremos fálicos que a iremos tomar com as rédeas da repressão...
Muitos se perdem nos abismos porque não lhes damos asas para os grandes voos... Os marginalizamos e, assim, os fragilizamos... limitando suas forças para o ato valente de desatolar os pés da lodo e num grande voo, redescobrir a liberdade no horizonte azul...
O ser humano excluído, discriminado, marginalizado é vida fragilizada... A exclusão não cura, não liberta, não educa... Os espaços do novo e da libertação pedem vontade de potência; força guerreira e apoio, compreensão e tolerância...
Diabolizamos a vida; diabolizamos o outro...
O alvorecer ensina... esquece os erros, equívocos, a escuridão da noite... e renova, diariamente a sua fé no homem e na vida...
A vida é permanente movimento... o ser humano é eterna semente, jamais esgotada; porém, há novos caminhos e novos horizontes que podem ser paridos nas entranhas de suas vidas.
Ternamente, assim, renovamos no diálogo com o alvorecer, nossa confiança na capacidade de seguir adiante, enternecidos e borboleteando entre florescer primaveril da vida...
Entre pedras, flores...
Entre espinhos, sonhos...
Uma vela na escuridão...
Aprendamos a viver , recomeçando...  com a alegria e esperança da sinfonia matinal...
Positivemos a vida; ainda que só logremos o singelo verso de Dom Hélder Câmara: " eu gostaria de ser um singela poça d'água para refletir o céu estrelado."

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