sábado, 6 de agosto de 2011

DIÁRIO DE BORDO: UM FAROL DÁ VIDA AO NAVEGAR

                                            Jorge Bichuetti

Sinto saudade da roseira... A olho e a reverencio; me sinto chamado a respeitar o seu repouso... Os  álamos alegre, como sempre altivos e mirando o infinito, me falam da vida e de que há sempre um além a ser conquistado. O horizonte azul é encantamento das contrações espasmódicas da imensidão que baila parindo novos passos. Novos passos na caminhada... A Luínha dorme... Os pássaros anunciam com tímidos piados que logo voltarão à cantoria... o frio está partindo. Cães ladram... clamam pelos sinos. Os sinos estão hoje atrasados... Talvez, desejosos de aumentar o tempo dos sonhos já que a humanidade teima em não-sonhar acordada...
Navegar é preciso...
Não consigo precisar o quanto... porém, o sei imenso. O livro Estradeiro de Juvenal Arduini mudou minha vida.
Antes, queria um lugar, um posto, uma definição... Algo que me definisse para todo sempre.
O homem é ser da estrada. Andarilho, Caminhante, Peregrino... Nômade... Puro movimento... Paz-se; se desfaz e se refaz. Cria; procria... Pari.. Parir novos eus; parir novos projetos, parir novos sonhos... Seguir. Não se negar ao sedutor chamado do horizonte... E ele, o horizonte azul, sempre nos encanta com o convite para a ousadia de novos e novos passos.
E, agora, novamente, uma efervescência vital... um clamor; uma instigante provocação: mais do que ser da estrada, o ser humano deve ser o caminho.
Parir-se caminho de vida, de alegria, de solidariedade, de suavidade, de ternura, de perdão, de compaixão, de justiça, de libertação...
Estradear; perambular; borboletear... Ser estradeiro...
Agora, o farol no livro Tecido Social nos provoca: sejamos caminhos.
Talvez, devêssemos sentar sossegado por longas horas para refletir e absorver tudo que está contido neste salto... vida que é um ser na estrada para vida que sendo na estrada , é vivida para que se torne, em si mesmo, um caminho...
Ser caminho...
É mais do que buscar, criar, parir sentidos no permanente ato de caminhar; é caminhar vivendo a própria mudança, incorporando, visceralmente a ética e a estética da humanização libertária e libertadora, para que o outro encontre em nós caminhos de produção de vida, de vida livre, de vida alegre e terna, vida plena, vida em  abundância...
Um farol dá vida ao navegar...
Temos faróis, lamparinas e velas... 
Somos metamorfoseantes... éramos o desejo alienado de um posto estático, de um lugar de segurança... ouvimos o chamado e nos tornamos um ser da estrada... Estradeamos, navegamos... com o auxílio de faróis, lamparinas e velas... e, agora, um novo desafio: ser caminho... ser vida de intensidade que transpirando o novo e a mudança, o amor e a paz, a justiça e solidariedade, se coloque na vida como um farol...
Um existir para que a outra vida na nossa vida encontre sentido, sentidos... sonhos e caminhos para o amanhã no agora.

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