segunda-feira, 15 de agosto de 2011

DIÁRIO DE BORDO: VIDA NO CAMINHO DA SERENIDADE...

                                         Jorge Bichuetti

No quintal, todo - árvores e pássaros - adormecidos, me dão um sentimento de quietude e serenidade... A lua se foi, bela e prateada... silenciosa, partiu; porém, não há dúvidas, sempre voltará... A Luínha, cúmplice da natureza, tenta me ensinar o significado da palavra feriado... Me viu vasculhando livros e discos, eu creio que ela entende feriado como um não-agir, um não-pensar, um não-mover-se... Culpo a TV: feriado para minha pequena é corpo aconchegado nas almofadas do sofá...
Para mim, a vida pede e clama para que inventemos caminhos de produção da serenidade... Mas, não a penso como quietude, apatia, imobilismo... Nesta questão, gosto do Zen Budismo, de Domenico de Masi e sua teoria do ócio criativo...e gosto muito das lições populares que celebram, agregando-se em coletivos de alegria e paz.
Milton Santos afirma que não conquistamos a cidadania. Diz, que classe média não deseja direitos, quer privilégios... que os pobres não possuem nem direitos nem privilégios... Para mim, a cidadania é passo da caminhada da serenidade. Ela dá território de tranquilidade, pois demarca um campo de direitos onde podemos circular, pulsar e brilhar, na segurança, que ali é campo assegurado pela ética do bem comum que devindo-se lei, ordena os espaços da liberdade...
Só há serenidade na liberdade: angústia, a insegurança, o medo e o desespero tumultuam o psiquismo dos que não sendo livres, estão sempre mortificados e  em estado de alerta... preocupados, perturbados, temerosos.
A tirania, a exclusão manicomial, a opressão, os microfascismos que na capilaridade da vida social discriminam e marginalizam, o bullyng são inibidores, mutiladores, assassinos da serenidade...
A serenidade interior depende da existência efetiva de uma realidade de paz e justiça social.
Entretanto, urge algo mais...
O nosso ego hipertrofiado, individualista, competidor e fálico é um inimigo da serenidade... Eis a necessidade da morte do ego.
Não somos uma subjetividade que se restringe a identidade dada pelo ego... a sua morte não significa dissolvição nem diluição da personalidade: somos singularidades, multiplicidades e eus não-paridos...
O problema do ego na subjetividade do capitalismo - edípica e fálica - é que ele é um angustiado, castrado, movido pela ansiedade da falta... Auto-torturado pela permanente sensação de que algo que lhe falta... e se move, assim,  pela falta...
O inconsciente é abundância, excesso... a vida assim também o é...
Para a conquista da serenidade, necessitamos abandonar o registro da falta e produzir inventivamente uma vida serena o que temos: pessoas, coisas, ideias, valores, paisagens...
Assim, concluímos com Tagore: se choramos na noite a ausência do sol, nossos olhos nublados não nos permitirão ver o esplendor do céu estrelado...



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