Jorge Bichuetti
A pele exposta ao frio vento,
já não escuta as cantigas do fogo
que crepita esfuziante,
mantendo vivas as chamas
nascidas no calor das tuas mãos...
Nu, caminho... Só e trêmulo,
o inverno me dilacera o corpo,
me entorpece os sentidos e me
enlouquece a alma, que cansada
despiu-se e segue silenciosa no rio
das lágrimas que o tempo congelou...
... Mas, meu coração alucinado sonha,
e nele a fogueira da paixão pulsa:
sonhadora e voraz, fogo ardente e
incendiários desejos... faíscas voam
e queimam a relva das trilhas e caminhos...
E, assim, nu... solitário e trêmulo me vejo
chamuscado pelas cinzas que me devoram;
no errante destino de ir caminhando entre
o espinheiral dos ventos cortantes da realidade fria
e o fogo que não se apaga no redemoinho das ilusões... PESADELO
Jorge Bichuetti
Nuvens escuras sobrevoam e turvam o luar;
sombras perambulam e uivam no vazio; o medo
se animaliza monstruoso... vozes me perseguem
com ameaças triviais... me encolho num canto
e, então, desesperado acordo... olho a fumaça
do cigarro que vagorasamente me consola e a
vida retoma sua tranquilidade, o pesadelo se foi...
O pesadelo se foi; porém, deixou-me nu'a louca lucidez:
eu, tão menino... num mundo tão cheio de sombrias monstruosidades...NA ESCURIDÃO DO BECO
Jorge Bichuetti
Na noite, o beco se escurece... cães ladram
e no meio das sombras que gesticulam, caladas,
te vejo: um bizarro ser; um singelo espantalho:
a vida, assim, agoniza entre o medo e a saudade...
Na noite, o beco só se ilumina se os sonhos
acendem no alto as chamas do luar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário