quinta-feira, 4 de agosto de 2011

POESIA: ENTRE O MEDO E A SAUDADE

                                    NU
                                      Jorge Bichuetti

A pele exposta ao frio vento,
já não escuta as cantigas do fogo
que crepita esfuziante,
mantendo vivas as chamas
nascidas no calor das tuas mãos...

Nu, caminho... Só e trêmulo,
o inverno me dilacera o corpo,
me entorpece os sentidos e me
enlouquece a alma, que cansada 
despiu-se e segue silenciosa no rio
das lágrimas que o tempo congelou...

... Mas, meu coração alucinado sonha,
e nele a fogueira da paixão pulsa:
sonhadora e voraz, fogo ardente e
incendiários desejos... faíscas voam
e queimam a relva das trilhas e caminhos...

E, assim, nu... solitário e trêmulo me  vejo
chamuscado pelas cinzas que me devoram;
no errante destino de ir caminhando entre
o espinheiral dos ventos cortantes da realidade fria
e o fogo que não se apaga no redemoinho das ilusões...


                                       PESADELO
                                                   Jorge Bichuetti

Nuvens escuras sobrevoam e  turvam o luar;
sombras perambulam e uivam no vazio; o medo
se animaliza monstruoso... vozes me perseguem
com ameaças triviais... me encolho num canto
e, então, desesperado acordo... olho a fumaça
do cigarro que vagorasamente me consola e a
vida retoma sua tranquilidade, o pesadelo se foi...

O pesadelo se foi; porém, deixou-me nu'a louca lucidez:
eu, tão menino... num mundo tão cheio de sombrias monstruosidades...


                        NA ESCURIDÃO DO BECO
                                                                 Jorge Bichuetti

Na noite, o beco se escurece... cães ladram
e no meio das sombras que gesticulam, caladas,
te vejo: um bizarro ser; um singelo espantalho:
a vida, assim,  agoniza entre o medo e a saudade...

Na noite, o beco só se ilumina se os sonhos
acendem no alto as chamas do luar...

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