SITUAÇÕES CAOSMÓTICAS, PROCESSOS ESQUIZOONTES E DEVIR: NOTAS PRELIMINARES
JORGE BICHUETTI
É necessário desenovelar o emaranhado teórico quando desejamos ver a realidade em movimento e, assim, potencializar nossa capacidade de intervenção para a mudança.
Nela, podemos fabricar linhas de fuga e desmontar linhas de captura.
Vê-se, nela, a flexibilização da segmentaridade, o alisamento dos espaços e uma intensa desterritorialização.
Contudo, é demasiado incontrolável a fragilidade que emerge numa crise. Dor e desvalia, vazio e falta de sentido, angústia e apatia, corpo estropiado e alma anêmica.
O mesmo não ocorre em algumas situações de vida, denominadas por Guattari, como igualmente, situações caosmóticas.
Eu seja, teriam elas a virulência fértil e inovadora, como virtualidade, de uma crise, porém, sem tanta fragilização da vida .São elas: a infância, a arte, o delírio e a paixão.
Deleuze acrescentou as enfermidades.
Toda situação de caos é perigosa, da crise às situações caosmóticas de Guattari, o perigo é a dominação do vivido pelas linhas de captura.
A potencialização do novo exige, então, nestas circunstâncias , a inibição, bloqueio e anulação da tendência de predomínio do pólo paranóico, arquitetado pelas linhas de captura.
Poderíamos afirmar, consequentemente, que só seria necessário cuidar, fortalecer, intensificar o pólo esquizo.
O processo esquizo, por sua vez, tende a fluidez e o seu grau de metamorfoseante intempestivo, muitas vezes, o impede de elaborar um plano e consistência, e, portanto, linhas de fuga que dessem uma reterritorialização criativa e genuinamente nova.
Simulacro desnudo e desprotegido, o diferente radical padece de força de resistência, e combatido é ou adoecido ou vítima de recomposição ressiliente.
Neste momento, urge buscarmos no conceito processo Esquizoonte de Gregorio Baremblitt a mediação entre crise-situações caosmóticas e produção inventiva do devir, com suas linhas de fuga, e, neste contexto, organizar nossa capacidade de intervir insurgentes e libertários.
O processo esquizoonte é o esquizo num movimento de atualização das virtualidades, mediante a sua vinculação à dispositivos de produção de vida.
Perguntamos, quais são estes elementos que viabilizam um funcionamento esquizoonte?
Não há ainda uma resposta acabada, mas, já possuímos, inegavelmente, inúmeros elementos que compõe, citemos:
- a substituição dos maus encontros por bons encontros e o exercício permanente de uma micropolítica da alegria;
- a filiação a grupos sujeitos;
- a negação e evitação de relações passivas ou ativas de submissão e, igualmente, às passivas de dominação;
- a desedipianização e o fomento de um funcionamento em rede rizomáticas de solidariedade;- a assunção das posições de desejo e exercício de ocupação da própria vida como vontade de potência;
- o afrouxamento do cronos ( tempos do relógio e das sensações) e uma valoração maior do tempo Kairós ( tempo das percepções finas e do tempo artístico);
- um mergulho em novas experimentações, com segurança, evitando-as aquelas que se dão nas circunvoluções de um buraco negro;- aceitação da necessidade conjuntural de maternagem, não se vinculando para isso a máquinas fálicas de pseudomaternagem;
- flexibilização de sua pauta de conduta, ampliando seu repertório de vida;
- desenvolvimento de outras formas de expressão, para além do racional-matemático da racionalidade técnico-instrumental;
- valorização da própria singularidade, associando-se as lutas de outras singularidades minoritárias;
- o uso permanente da autoanálise e da autogestão;
- o investimento na superação de suas desabilidades;- a realização de atividades e práticas que efetuem um choque na sua rotina de repetições cinzentas;
- a descoberta do ócio criativo;
- o desenvolvimento de novas formas de comunicabilidade, como a arte e performace;
- reconhecendo a altíssima velocidade do funcionamento esquizo, aproveitá-la, fugindo, contudo, da exaustão com a adoção de práticas de recolhimento, meditação, leitura, massagem, e outras medidas como tai se chuan, yoga, ou, um singelo passeio silencioso em um bosque;
- se permitir estar/andar à deriva;
- a liberação das couraças e da genitalização castradora;
-e fabricar uma nova ética de vida: amorosa, justa, de cidadania e solidariedade, de compaixão e ternura;
Esta série de citações não esgotam o tema.Segundo, Bion evoluímos do narcisismo ao social(ismo), tendendo sempre em épocas de dificuldade à um retorno narcísico, assim, devemos intensificar as vivências de solidariedades e vigiar o autismo narcísico e o individualismo.
O devir é sempre minoritário, não é moda, não é regra... Se dá nos es e entres...
E se dá como novidade, invento puro de um novo jeito de ser e viver...É o diferente...
N devires podem enriquecer o homem e vida , o socius e o infinito...
No entanto, cabe aqui, ressaltar algumas caracteristicas do devir para que fabriquemos linhas de fuga, potentes e inovadoras, verdadeiros acontecimentos.
Na crise-situações caosmóticas ou devimos via linhas de fuga ou somos capturados ( cronificados loucos ou robotizados mesmisse), e o devir tem , também, seu emaranhado que devemos desenovelar.
Segundo Gil, não há nenhum devir sem o devir criança e este não se produz sem o devir animal; não encontramos igualmente suavidade e ternura sem o devir mulher, e não nos afirmamos longe do devir guerreiro...
N devires – necessitamos e podemos, mas quando se trata de se desacorrentar-se não podemos negligenciar o devir nômade.
E entendendo as crise e as situações caosmótics como falência da identidade egóica do socius dominante, dizemos que nelas uma realteridade pede atualização, um inédito viável se deseja concretude e que uma utopia ativa ronda nossas vidas e, assim, elas clamam por mudanças. em nós e no mundo...
Diante delas ressoa, as palavras de Rotelli, não há cura, pos não existe adoecimento, há vida numa encruzilhada, vida-sofrimento, que exige-necessita emancipação...
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