segunda-feira, 8 de março de 2010

PÂNICO: NO REDEMOINHO DA ANGÚSTIA...

                                            GEOGRAFIA DO PÂNICO : NOTAS PRELIMINARES

                                                                             JORGE BICHUETTI


Na época de Freud, predominava a histeria.
Esta foi, por muito tempo, estigmatizada.
Dela, diziam: fingimento, simulação, teatro...
Hoje, segundo Birman, somos uma sociedade de panicados, deprimidos e toxicômanos.
No entanto, muitos dos que vivenciam o sofrimento do pânico, sofrem o mesmo preconceito estigmatizador da histeria.
Afinal. o que é o pânico?
Sintomatologicamente, crises paroxísticas de angústia, ansiedade, taquicardia e sudorese, com a sensação de morte iminente, enlouquecimento ou desfalecimento, e perdas na capacidade de agir e mover-se.
Do ponto de vista dinâmico, , podemos alinhavar inúmeras linhas que confluem num entendimento das crises como emergência da necessidade/possibilidade de gestação do novo inédito.
São:
- uma crise edípica com exagerada culpa e auto-punição;
- de dificuldade de auto-aceitarão em funcionamentos onipotentes;
- severidade de um superego rígido e obsessivo, com um ideal de ego hipertrofiado;
- ego ideal ambivalente ( auto-estima e auto-imagem), nega-se e ao mesmo tempo se hiper-idealiza;
- agressividade contida;
- projeto de vida repetitivo, esvaziado de sentido...
Não esgotamos as hipóteses, aqui,apenas desenhamos uma subjetividade onipotente, culposa, auto-punitiva, com rejeição de si mesma e contida.
A esquizoanálise acrescenta e nos potencializa na procura de saídas.
A crise de pânico é a ativação de um ritornelo cristalizado cujas linhas enovelam-se:
- a potência do Falso;
- o édipo-culpa-punição;
- o vazio pelo funcionamento atravessado de uma identidade rígida, com negação da própria singularidade e sem a exploração das multiplicidades possíveis;
- rodopios por captura na repetição;
- ausência de uma utopia ativa;
- desconexão de dispositivos de agenciamentos que geram novas linhas de vida;
- uma premente necessidade de ativar novas experimentações e de arquitetar um novo jeito de estar e viver, baseado nos bons encontros e nas paixões alegres; desenvolvendo, assim, uma capacidade de assumir sua posição de desejo, realizando-a como vontade de potência, através de relações ativas de afirmação da vida.
O pânico clama por mudanças...
Mudança geral...
Inegavelmente, conseguimos pouco se não alteramos o socius, nossa sociedade ansiogênica.
Que socius é esse, que necessitamos?
... Um solidário e continente, libertário e generoso, suave e alegre.
... Um mundo de partilhas.
... Um mundo ético-estético que supere o complexo culpa-punição-repressão pela afirmação do desejo de produzir vida e vida – obra de arte e, também, pela arte de nos reinventarmos na alteridade da superação das identidades rígidas para devirmos na plenitude sermos metamorfoseantes.

                                             

                                              EXERCÍCIOS KLÍNICOS:

- Ler “Os Estatuto do Homem” de Thiago de Mello, criando um movimento de arte-guerreira, uma dança, para cada artigo... Ao som de tambores...
- Declamar o “Poema da Linha Reta” de F. Pessoa, em voz alta, aos gritos, pondo toda raiva para fora. Precisamos da Digna Raiva!...
- Deitar e suavemente ao som de um Noturno de Chopin, ler/orar com a pel o poema “Humildade” de Cora Coralina

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