quarta-feira, 10 de março de 2010

NOSSAS TRISTEZAS DE TODO DIA

                                              HOMENS EM SÉRIE

                                                                     Jorge Bichuetti


Somos normais. Sabemos comportar em público e espertamente escondemos nossas esquisitices privadas.
Acordamos cedo. Trabalhamos. Almoçamos e palitamos os dentes.
Vestimos segundo a moda. Falamos baixo.
Nosso sorriso é cinza. Cinzenta é a nossa vida.
Vivemos e nem perguntamos se somos felizes. Convivemos e nem nos implicamos com a dor alheia.
Trabalhamos. Economizamos trocados.
Lazer? A TV ligada é cantiga de ninar, embaralhada com os nossos roncos, roncos de um corpo exausto.
Sonhos? Os esquecemos...
Decidimos viver seguindo a correnteza.
Acreditamos donos de nós mesmos, proprietários do nosso destino. Mas? e, se paramos para refletir, descobrimos: somos um papel dado, um servo de regras e normas.
Somos normais. Afinal, olhamos em volta e a maioria igualmente vive maquinalmente cinzenta.
Não temos tempo: tempo para si mesmo, tempo... Tempo de criar, sonhar, amar e ser feliz.
Outros homens existem, homens diferentes.
  E nós, escravos do relógio e do cartão-de-ponto, da opinião alheia e da nossa segurança pessoal, desdenhamos: eles são loucos!...
Dizemos robustos: somos a saúde.
... Porém, se investigássemos o nosso próprio coração. descobriríamos: somos robôs, homens em série. Clones de um ideal imposto, e homens que se perderam na estrada, esquecidos de que viver é humanizar-se.
Homem-livre, onde andarás tua alma?
Plim... Plim... Tic... Tac... Apitos: a fábrica, o trem...
... Um dia, a voz da liberdade romperá os muros da racionalidade do cotidiano de repetições e pedirá ao humano: dê-nos a loucura de viver a alegria de fazer da existência uma novidade e da vida uma pura e plena produção do humano que na sua diferença já se revele as múltiplas cores do devir, de um singelo alvorecer.

2 comentários:

Maria Alice Oliveira Dias disse...

Que belezura de texto, Dr. Jorge!

Uma verdade dura, mas amorosa.
Dialogando com nossas tristezas, não nos resta outra possibilidade a não ser permanecer, ao lado deste tipo humano especial, de uma sensibilidade e olhar inesgotável, que dá forma ao que só tem forma em sua imaginação.

Permanecer, ao lado deste tipo humano especial, mesmo quando o opaco da desesperança insistir em permanecer.

NOSSAS TRISTEZAS DE TODO DIA, de autoria deste tipo humano especial, mostra-nos a urgência de abrirmos o nosso coração a tudo o que pode provocar admiração e beleza.

Instiga-nos a vislumbrar as cores e suas várias combinações, os tons e semitons do mundo.

Convida-nos a lançar sementes de mudanças... Sempre é tempo de recolher frutos.

Dr. Jorge, entra na nossa vida com NOSSAS TRISTEZAS DE TODO DIA para fazer uma grande diferença. Revela-nos que o fio que liga as coisas eternas é um só, e ao puxá-lo podemos ver a história que se procura:

- mundo mais humano e solidário;
- modo diferente de pensar a vida;
- brincar com nossas idéias;
- buscar significados;
- apontar caminhos mais simples
(e às vezes bem antigos, mas
esquecidos);
- envelhecer com sabedoria;
- completar as nossas vidas de
maneira triunfante;
- paz interior.

“A vida caminha rumo à vida”

Afetuoso abraço.
Maria Alice O. Dias

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Como sim, sim e sim: podemos recriar nossas vidas e caminhos, recriando o nosso jeito de viver e lutando por uma nova sociedade:um jeito feito de ternura e do brincar , de arte e solidariedade, de afetos amorosos e sonhos de justiça e paz. jorge