domingo, 14 de março de 2010

ONDE MORA A SAÚDE?

                                                             
                                                                        SAÚDE E VIDA

                                                                          Jorge Bichuetti

O homem quase sempre tão - somente sabe o que é saúde quando a perde. Adoecemos e na doença, guiados pelo senso comum, descobrimos o valor da saúde perdida.
Igualmente, definimos a felicidade em oposição ao sofrimento.
A medicina no seu paradigma biologicista permanece vendo a saúde como um ideal imaginado a partir da realidade objetiva da doença revelada pela clínica.
Assim, vê-se as entidades nosológicas através de sinais e sintomas que traduzem uma lesão geograficamente localizada e que foi ocasionada por um agente causal externo.
Este conceito de doença já não explica, e nem apresenta resolutividade, porém ainda persiste como lógica hegemônica. A idéia de inúmeros fatores determinando o adoecer não conseguiu explicar a saúde e elucidar o processo de vida dos homens.
Deste modo, parece oportuno as contribuições de epistemólogos que se debruçaram sobre a saúde-doença como uma questão em aberto, conquanto essencial.
Canguilhem, no texto “o normal e o patológico”, fornece-nos uma nova compreensão. Para ele, a saúde e a doença são manifestações fenomênicas do modo de andar a vida.
Laurell e Dejours, entre outros pesquisadores, reviram a noção médica do adoecer: ambos compreenderam a relação dialética entre saúde e doença. E nesta relação um processo de desgaste, inerente ao próprio processo biológico humano, que sendo socialmente determinado revela as contradições das relações do homem, no seu tempo e na sua sociedade.
Pode-se, então, hoje admitir como fato a dificuldade de interferência na saúde e doença quando localizamos nossas ações apenas no corpo biológico. Todavia, igualmente, percebe-se um novo universo de compreensão conceitual e de soluções práticas para a dor humana se situamos o nosso olhar e a nossa ação sobre a qualidade da vida.
Da vida. Vida social. Vida. Vida plenificada pela utopia ativa de um mundo mutante, capaz de ser transformado.
Da vida. Vida feliz. Vontade de potência que resgate a concepção freudiana de saúde como flexibilidade, persistência e uma boa capacidade de amar e brincar.

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