sábado, 30 de abril de 2011

A RELVA QUE MEDRA ENTRE AS PEDRAS DO CAMINHO...

                                          Jorge Bichuetti

Vivemos submissos à lógica de funcionamento do mundo como ele se encontra, mundo de narcisismo, identidades rígidas e imóveis, poder opresso, tirânico e onipotente, relações simbióticas de fusão e completariedade, mundo de vida repetitiva e normativa... E vivemos alienados do que pode a vida...
O modelo de poder centro-dominante é por nós reproduzido nas relações com o outro e nas nossas relações internas... Mundo de cópias, unicidade e totalizações.
Um mundo de assujeitamento e de exclusão.
Neste contexto, é que nos parece provocante a ideia de rizoma expressa  por Parnet, poeticamente, quando diz a Deleuze: "você nunca quis ser uma árvore, sempre foi a relva que medra entre as pedras do caminho."
A multiplicidade não é vidas acopladas na média, é o meio, mas o meio não é a aritmética entre a soma e divisão do começo e do fim, da somatório dos membros, é um lugar da transversalidade, lugar de velocidade, de emergência de platôs... Ali, mora o coração puilsante do novo.
Somos multiplicidades, redes de singularidades... que não exploramos por estarmos todos subsumidos pelo mundo de mercado e subjetividade normativa.
Somos rizomas e não funcionamos explorando o que pode um rizoma...
Rizoma, fluxos subterrâneos, linhas de fuga: devires. Redes que se dão na potência do novo, da atualização das virtualidades, eus não nascidos que se vêem paridos na alegria dos bons encontros, no entre, na multiplicidade que rompe o normativo e se consuma diversidade e diferença.
Como funciona uma rede viva e transversal?
Vivenciando a vida de produções criativas que se maquina por conexões e heterogeinidade; multiplicidades; rupturas a-significantes e cartografia e decalcomania.
Complexo? não muito singelo: o fim do monocromático e do binário como modo de funcionamento da produção de relações, vínculos, e subjetividades...
Conectar-se: é estar com, sem submissão ou fusão; e sem a busca da totalização via complentariedade; conexões entre singularidades e por isso heterogeneidade. Geralmente, fugimos da diversidade; do que diferente e criamos contatos com iguais e rodopiamos na paralisia de mantermos seguros na mesmice. Conexões heterogéneas nos propiciam a emergência de nossas possibilidades de vida suprimida na molaridade do nosso ego de identidade e imobilidade.
Rizoma - multiplicidade singulares num movimento de conexões heterogêneas...
Funcionamento fertilizante do novo que nasce de rupturas a-significantes, rupturas que não pensadas a priori, não são dadas antes...
Redes são cartografias rizomáticas... Conexões de vida pulsante e fervescente que explora, dá consistência e vitaliza linhas de fuga, linhas da vida que foge, escapa, se contrói à revelia dos normativos registros e controles que dizem o que cabe e o que não cabe no mundo, reproduzindo a continuidade, a imobilidade e perenização do status quo.
Decalcomania: bricolagem, agenciamentos, contágios não-reprodutivos, conjunções de vida abertas e lisas para o movimento do novo.
O que pode um rizoma? Pode viver e intensificar a vida, atualizando desejos e sonhos e nos potencialazando para existir, medrando entre as pedras do caminho.
Há uma pedra no meio do caminho...
O funcionamento da normalidade medíocre e de identidade recua, assusta-se e se frustra, adoece...
O rizoma, não, medra, verdeja... supera inventado e reinvento-se... agenciando a aurora, o novo, o porvir...

POESIA: ASAS DO SONHO

                           NO INFINITO
                                          Jorge Bichuetti

- Viajante, onde moras?...
Escuto a voz do tempo,
perguntando-me, insistente,
como se minha moradia
revelasse minha existência.
Então, medito e voando
na magia dos pensamentos,
responde-lhe, secretamente:
- Moro no azul do infinito,
na dança sensual do vento
e adormeço co'as estrelas,
na relva de um novo tempo...


                 SERENIDADE
                                         Jorge Bichuetti

Há tanto espinho na rosa
que penso que natureza
a deseja, ali, iluminando
a vida da nobre roseira...
Há tanta pedra no caminho
que penso, enternecido,
na escada que dariam,
se nelas víssemos o céu...

A vida dura e cooncreta,
de aço e de realeza,
desconhece a serenidade
que canta singela e cândida
nas cordas da utopia...


                             UM SONHO DE AMOR
                                              Jorge Bichuetti

Acostumado a ver o amor
somente nas trilhas do sexo,
o homem se esqueceu e já
nem sonha com a suavidade
que brota, florescente,
nas asas puras e leves
da velha angélica ternura.


                   UTOPIA ATIVA
                                             Jorge Bichuetti

Meus sonhos são manifestos
de uma latente política
que revoluciona o mundo
nos caminhos da partilha...
Germina, e devém-se
insugente rebeldia,
que dá vida no hoje
ao porvir das utopias...

DIÁRIO DE BORDO: ENTRE PEDRAS, O CAMINHO...

                                                Jorge Bichuetti

Os sinos badalaram, os pássaros cantaram... Ainda, assim, o corpo dizia que era muito cedo; madrugada. O inverno aproxima-se e dá desejos estranhos: cama, cobertores, chá quente, aconchego e sonhos... Levanto e na minha frente os álamos erguem para o céu, não estão encolhidos... Resistem, sonham... A pequena Lua aninha nos meus , esquenta-se e acalenta-me...
Entre pedras, o caminho... No caminho, os sonhos...
A vida se dá nos sonhos do caminho que resistem, superam, escalam, detonam as pedras...
Os sonhos removem pedras e movem moinhos.
Serão os sonhos uma instintiva faculdade psíquica, uma atitude política ou uma arte?...
Ou serão eles o próprio pulsar da vida que no caminho tece desejos e aspirações, encantada com a linha do horizonte?... Ou uma rebelião do tempo que impaciente deseja realizar no hoje o amanhã?...
Eles são a seiva do existir, do persistir, do investir, das ousadas e teimosas transformações.
O cinzento é a supressão dos sonhos do dia-a-dia.
Sem sonhos, a vida perde sabor e tempero; vira vidinha... medíocre existência, nublada desistência.
Me vejo, aqui, este frio e este vento gelado; contudo, bastou lembrar-se que tenho sonhos e sinto minha alma desperta, calorosa, pulsante, saltitante, existente.
Quero viver, quero caminhar.. entre pedras, desejo semear no hoje o amanhã e viver nas veredas da utopia a luta... a luta por novos horizontes de alegria e liberdade, justiça e paz, esperança e solidariedade, ternura e paixão.
Muito do que vemos e conhecemos como doença, desânimo, depressão, angústia, fobia  e desvitalização corporal é a fragilidade da vida que se retrai, inibe-se e decompõe-se longe da seiva vitalizante e energizante dos
sonhos.
Para se viver e sobreviver necessitamos de produzir um, muitos sentidos.
O sentido dado para vida no turbilhão do consumismo e no buraco negro do individualismo não é forte, autosustentável, e persistente.. se esgota, esvazia-se. Perde o sentido... Desmaiamos com ele, vegetativos.
Um canto de esperança... Um encanto na utopia... compõem um devir guerreiro e uma vida-corpo  que nos alimentam e nos mobilizam numa existência que perambula pelas pedras do caminho alentadas e revigoradas pelos fluxos energizantes e vitalizantes do devir e do porvir.
Sonhar, assim, nos parece o emergente que requalifica a vida.
Para o pragmatismo e o negativismo fatalista é vida evitada na ilusão; todavia, basta um olhar sobre a vida dos que sonhos e imediatamente reconhecemos que o sonhar possibilita-nos existir numa vida em expansão, vida reencantada na magia da estrela da manhã.

GUERNICA: PELA VIDA E A LIBERDADE, GUERNICA, SONHAREMOS....

                  Guernica
                       Adilson S Silva

Querida Guernica
Não virei as costas para ti
Tão pouco chorei
As lágrimas, já derramaste por mim
E por todos os poetas
Tombados , silenciados pela guerra civil.
Um outono que não era o meu
Uma tarde cinza
Tardes de abril
Foste martir em teu próprio coliseu.
Levo-te agora
Entre rabiscos e traços
Estás eternizada na tela
Fina arte de Picasso
Estará o Salvador aqui?
Ou na loucura de Dali?
Guardo em ti o amor
Hoje rendo minha homenagem,
Reverencio-me a ti...
Compartindo-me de teu horror.



  Guernica 
                  Murilo Mendes
Subsiste, Guernica, o exemplo macho,
Subsiste para sempre a honra castiça,
A jovem e antiga tradição do carvalho
Que descerra o pálio de diamante.

A força do teu coração desencadeado
Contactou os subterrâneos de Espanha.
E o mundo da lucidez a recebeu:
O ar voa incorporando-se teu nome.


*

Sem a beleza do rito castigado,
Aumentando a comarca da fome,
O touro de armas blindadas
Investiu contra a razão:

Eis que já Picasso o fixou,
Destruindo a desordem bárbara,
Com duro rigor espanhol,
Na arquitetura do quadro.




guernica: cinzas da opressão. tirania canibal... nas ruas a escuridão,
corpos despedaçados, lágrimas escorrendo nos sulcos da vida e os
sonhos ali sofriam... hoje, renscem indignados e gritam: guernica nós
por ti lutaremos e aqui um dia cantaremos: paz e iberdade. amém... jorge bichuetti

 

MESTRES DO CAMINHO: OSCAR WILDE, UM RETRATO... ( 2 )

                                           REFLEXÕES:

- " Devemos absorver o colorido da vida e não guardar na memória as suas minúcias.
as minúcias são sempre vulgares."

- " Não se governa a vida com a verdade ou com boas intenções.
A vida é uma questão de nervos, de fibras, de células de formação lenta, onde o pensamento se aloja e a paixão esconde seus sonhos."

- " Se um hoem leva a existência artisticamente, o seu cérebro fica sendo o seu coração."

- " Civilizar-se não é fácil.
Só se consegue por dois meios: cultivando-se, ou pervertendo-se."

- " O fogo enrijece o que não consome.
A alma é uma realidade impressionante.
Pode ser comprada, vendida, barganhada, intoxicada ou aperfeiçoada."

- " Adoro os prazeres simples. eles são o último refúgio do complexo.
A vida humana: eis a única coisa que vale a pena pesquisar. Não há valor que se lhe possa comparar de fato.
Notar a lógica singular e reflexível da paixão, a vida colorida e emotiva da intenligência, verificar onde se cruzam e onde se apertam, em que ponto estão em uníssimo ou discordam."

- " Os caminhos dos paradoxos é o caminho da verdade. Para testar a verdade, precisamos vê-la na corda bamba.
É quando as verdades se tornam acrobatas que podemos julgá-las."

                                 OSCAR WILDE

SOCIEDADE DE AMIGOS: NUMA TERNA SUAVIDADE...

                                        PARANÓIA
                                                 Sandra de Azevedo Pinheiro

Mulher que está sendo acusada:

Pronome oblíquo na primeira pessoa:
Si
Estrela que faz a Terra habitada:
Sol
Marcha que recua veículo que não voa:

Fazendo palavras cruzadas
Anotando em quadradinho
Ainda tenho a impressão
De que estudo cavaquinho...


                                     PLANO DE VÔO
                                                   Sandra de Azevedo Pinheiro

Em seus olhos, e só neles
eu encontro uma saída.
Sonho um plano de vôo,
na rota de suas retinas
penso que posso voar,
decolar...

Mas ao perceber nosso clima
tudo está tão nebuloso
não há teto
e não saio do lugar.

Mesmo assim há turbulência
frio no estômago,
pânico,
com os pés tocando o chão.

Com você isso é possível
e até tem explicação:
no painel desses seus olhos
quando o vôo é impedido,
ainda há simulação!

POESIAS DO LIVRO: PRIMEIRO CAVACO.
                             SANDRA DE AZEVEDO PINHEIRO

BONS ENCONTROS: A MAGIA DO AMOR...

                       Modo diferente de falar do amor
                                          Leonardo Boff

 Frequentemente sou convidado para falar sobre o amor. Sinto certo constrangimento porque esta palavra – amor - é uma das mais desgastadas de nossa linguagem. E como fenômeno inter-pessoal, um dos mais desmoralizados.  Para não repetir aquilo que todo mundo já sabe e ouve, costumo fazer uma abordagem inspirado num dos maiores biólogos contemporâneos: o chileno Humberto Maturana. Em suas reflexões o  amor é contemplado como um fenômeno cósmico e biológico. Expliquemos o que ele quer dizer: o amor se dá dentro do dinamismo da própria evolução desde as suas manifestações mais primárias, de bilhões e bilhões  de anos atrás, até as mais complexas no nível humano. Vejamos como  o amor entra no universo.
No universo se verificam dois tipos de acoplamentos (encaixes) dos seres com seu meio, um necessário e outro espontâneo. O primeiro, o necessário, faz com que todos os seres estejam  interconectados uns aos outros e acoplados aos respectivos  ecosistemas para assegurar  sua  sobrevivência. Mas há um outro acoplamento que se realiza espontaneamente. Os topquarks, a primeira densificação da energia em matéria, interagem  sem razões de sobrevivência, por puro prazer, no fluir de seu viver. Trata-se de encaixes dinâmicos e recíprocos entre todos os seres, não vivos e vivos. Não há justificativas para isso. Acontecem porque acontecem. É um evento original da existência em sua pura gratuidade. É como a flor que floresce por florescer.
Quando um se relaciona com o outro (digamos dois prótons) e assim se cria um campo de relação, surge o amor como fenômeno cósmico. Ele tende a se expandir e a ganhar formas cada vez mais inter-retro-relacionadas nos seres vivos, especialmente nos humanos. No nosso nível  é mais que simplesmente espontâneo como nos demais seres; é feito projeto da liberdade que acolhe conscientemente o outro e cria o amor como o mais alto valor da vida.
 Nessa deriva, surge o amor ampliado que é a socialização. O amor-relação é o fundamento do fenômeno social e não sua consequência. Em outras palavras: é o amor-relação que dá origem à sociedade; esta existe porque existe o amor e não ao contrário, como convencionalmente se acredita. Se falta o amor-relação (o fundamento) se destrói o social.  Sem o amor o social ganha a forma de agregação forçada, de dominação e de violência, todos sendo obrigados a se encaixar. Por isso sempre que se destrói o encaixe e a congruência entre os seres, se destrói o amor-relação e  com isso, a sociabilidade. O amor-relação é sempre uma abertura ao outro e uma con-vivência e co-munhão com o outro.
Não foi a luta pela sobrevivência do mais forte que garantiu a persistência da vida e dos indivíduos até os dias atuais. Mas a cooperação e o amor-relação entre eles. Os ancestrais hominídios passaram a ser humanos na medida em que mais e mais partilhavam entre si  os resultados da coleta e da caça e compartilhavam seus afetos. A própria linguagem que caracteriza o ser humano surgiu  no interior deste dinamismo de amor-relação e de partilha.
A competição, enfatiza Maturana, é anti-social,  hoje e outrora, porque implica a negação do outro, a recusa da partilha e do amor. A sociedade moderna neoliberal e de mercado se assenta sobre a competição. Por isso é excludente, inumana e  faz  tantas vítimas como a atual crise revelou. Ela não traz felicidade porque não se rege pelo amor-relação. A atual crise se originou, em parte, pela excessiva competição e pela falta de cooperação. Vale uma sociedade com mercado mas não só de mercado.
 Como se caracteriza o amor humano? Responde Maturana: “o que é especialmente humano no amor não é o amor, mas o que fazemos com o amor enquanto humanos; é a nossa maneira particular de viver juntos como seres sociais  na linguagem; sem amor nós não somos seres sociais”.
  Como se depreende, o amor é um fenômeno cósmico e biológico. Ao chegar ao patamar humano ele se revela como um projeto da liberdade, como uma grande força de união, de mutua entrega e de solidariedade. As pessoas se unem e recriam pela linguagem amorosa, o sentimento de benquerença e de pertença a um mesmo destino.
Sem o cuidado essencial, o encaixe do amor-relação não ocorre, não se conserva, não se expande  nem permite a consorciação entre os demais seres. Sem o cuidado não há atmosfera que propicie o florescimento daquilo que verdadeiramente humaniza: o sentimento profundo, a vontade de partilha e a busca  do amor. Estimo que falar assim do amor faz sentido porque nos faz mais humanos.


















                           
         sobre o amar e a vida  - mario quintana

'Minha vida não foi um romance...
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amar, não digas, que morro
De surpresa... de encanto... de medo...

Minha vida não foi um romance
Minha vida passou por passar
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.

Minha vida não foi um romance...
Pobre vida... passou sem enredo...
Glória a ti que me enches de vida
De surpresa, de encanto, de medo!

Minha vida não foi um romance...
Ai de mim... Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso.. de um gesto.. um olhar...



sexta-feira, 29 de abril de 2011

GEOGRAFIA DA NEUROSE

                                                           Jorge Bichuetti

Todo texto na realidade um diálogo... Não-totalizável. aqui, conversaremos sobre algumas linhas da vida que atravessam, permeiam a problemática da neurose. e as situamos numa perspectiva de conjugá-las com outras já mais debatidas, não desejando dizê-las num propósito de substituição das teorias existentes, nem de hierquicamente conferir a elas um lugar de destaque. a vida é rizoma e o rizoma não tem centro diretor nem hierarquia; é pura multiplicidade.
Então, vejamos...
Somos neuróticos... muito neuróticos. Vivemos num mundo neurótico e neurotizante.
O mercado neurotiza... Por muitos viezes. E um deles é que a perda de sentido do valor uso das coisas e reificação, divinização, do valor de troca nos desumaniza, coisifica-nos, e assim nos perdemos de nós mesmos, passando a construir uma ideia de felicidade dado pelo valor que outro me confere e ele já não vê no dia-a-dia do sociedade de mercado como gente -  desejo, sonhos, história -. somos os bens que possuímos; portanto, alienados do que pensa, sente, deseja o nosso coração. Somos invisíveis na nossa humanidade. E de tanto ser visto objeto e nos objetos que possuímos, passamos a não conviver bem e com alegria com o que somos na intimidade da nossa subjetividade subterrânea: evitamo-la, negamo-la, diabolizamo-la... E subsumidos pelo mercado, não percebemos que nele só a possibilidade da neurose, já ele é insaciável. Sempre nos faltará algo, e sempre temeremos não ter o que outro estará vendo como valor, a coisa que faz o ser humano valorizado. Deste modo, escondemo-nos, inconscientemente, numa repetição neurótica onde nos evitamos, onde fugimos de nós mesmos, onde esvaziamos nossas linhas de vida singular. Perseguidos pela coisa que dá valor a uma vida no capitalismo e sentindo inatingível, pela própria natureza do mundo das trocas, onde "tudo é sólido desmancha no ar" instauramos uma contínua e perene angústia.
Tendemos, assim a na vida que substitui o valor do ser pelo ter, e inviabiliza no ser o devir... nos tornamos infelizes e desvinculados da potência  da vida que se move e renova,produz sentido e dá saltos e coisas que passamos a ser se retraem, ossificam, cristalizam numa repetição, um rodopio na desumanidade, vida de imobilidade, tristeza perpetuada na repetição dos nossos sintomas neuróticos.
A fixação é dada pela desumanização, também... já que não no capitalismo a vivência suave e terna da nossa prop´ria humanidade que compõe-se de espírito guerreiro , mas, também, de fragilidade, vulnerabilidade, quedas e derrotas.
A diabolização da neurose que é a mesma marginalidade que vive todo insucesso, como se a vida não incluísse " um sucumbir", nos inibe na mobilização dos recursos internos e externos para passar... movimentar-se, flexibilizar-se, sair do redemoinho da repetição neurótica, explorando a intensificação das linhas de potência da nossa singularidade..
Aqui, trabalhamos somente um olhar... vimos o que a coisificação, a desumanização e transformação do ser humano em mercadoria e da vida em mercado faz com nosso existir neurótico.
E isto nos revela que para superar a neurose urge que resgatemos um existir de valorização do ser e do ser do devir...
Afirmar-se na arte e na solidariedade, na ética e na coragem de sonhar nos tira do redemoinho, onde o ser vale nada, como nos acrescenta Oscar Wilde:" Vivemos num tempo em que as coisas desnecessárias são as únicas necessidades.Hoje, sabemos o preço de tudo e o valor de nada."


DIÁRIO DE BORDO: A BELEZA DA LUA... SIMPLICIDADE QUE BRILHA; METAMORFOSE QUE NÃO SE NEUROTIZA...

                                                                 Jorge Bichuetti

Frio, um gelado no ar, que nos humaniza, nos induz a desejar e necessitar do outro... Aconchegados, a vida se esquenta, torna-se cálida. Tive para não ver o mato. Me assustei, pois o medo me limita, não só nas perdas que se tem quando se perde a coragem lutar, mas também no nosso olhar e nomear a vida. Mato onde via meus álamos, minha roseira, meus pés de infinitos beijos, minhas samambaias... A Lua saltitante, parecia com todos nós em 1989, quando eufóricos dizíamos, confiantes que a vida agora seria vida sem medo de ser feliz...
Fui e aqui estou... Não lhe falarei de filosofia, nem mesmo da Rosas Pessoa e das Pessoas Rosa... Estou maravilhado, encantado com a beleza humilde e singela da lua minguante, toda amarela iluminada, um fiapo, que brilhava distante, entre as folhas dos álamos... Quantas estrelas! todas ficando mais pouquinho só para ver a beleza da lua... Da lua minguante, que é uma lua sem plateia, sem a fama e os adoradores. Ela é ela: lua minguante, um encanto singelo da beleza do devir imperceptível, da simplicidade que anda e canta, brilha, no seu encanto, sem inveja ou hostilidade das luas idolatradas, no apogeu da fama.
Aprendi: se na crescente, ama-se o crescimento, a força que dá vigor e a seiva que nos alimenta para ser grande; se na nova, se adora, a renovação; se na cheia, idolatra-se os enigmas da paixão; na lua minguante, vemos a simplicidade brilhante, o singelo que se assume sem medo de comparações, mergulhando no próprio encanto...
A Minha Lua voltou a militar no blog utopia ativa; venceu o sono e a sua mimeiríssima preguiça, e aqui me ajuda a pensar com seus afagos de menina de terna rebeldia...
No mundo que vivemos, somente acostumamos a brilhar quando os aplausos do outro conta que somos gente de triunfo, de valor, de sucesso... Quando estamos do mundo esquecidos,frequentemente, nos encolhemos e nos neuraotizamo-nos...
Não descobrimos como é bela a aparição brilhante da simplicidade anónima...
Fetichismo da mercadoria; mundo de espetáculo; ditadura da vitória e do sucesso; onipotência... Todas teorias são pertinentes... Porém, o óbvio, é singelo: não aprendemos a valorizara beleza da simplicidade , nas coisas, nas pessoas e na vida...
No entanto, ouso atrevido a dizer, aqui, que a beleza maior...
A simplicidade realiza, opera, atua, se dá sem mediar o seu ato de sublime generosidade pelo interesse no que lhe resultará, nos lucros, nos aplausos, na capa do jornal...
Possui, assim, uma intensidade que se realiza em si mesma, por crer e desejar a vida que vive e a doação que faz...
O brilho do complexo e da fama , muitas vezes, é gozo narcísico: falam, escrevem, vivem para ofuscar; os aplaudimos e torcemos para ninguém nos questione sobre o que vimos, lemos ou ouvimos, porque na realidade não entendemos nada.
Já a simplidade brilha encantando e passa despercebida e a gente até pensa que somos os criadores da vida que emergiu nas irradiações férteis da humilde simplicidade.
Simplicidade não é ignorância, nem ingenuidade... é o devir imperceptível que flui, naturalmente, de forma espontânea, comunicando-se num inteligível diálogo. é a vida pulsante livre, ressoando singela alheias aos flashes da consagração. A simplicidade já é si mesma graça consagrada.
Explico-me, diretamente, o que ando pensando: é simples, aplaudimos e analisamos com teorias rebuscadas o carro alegórico; já quando passa na avenida a velha guarda, choramos encantados... Afetados, contagiados, renovados, vida remoçada.
Ah! que saudade!... Saudade da simplicidade de Florestan Fernandes, Paulo Freire, Boal, Cartola, Noel, Dom Hélder Câmara, Gandhi, Chico Xavier, Sartre, Che, Dorival Caymmi, Cora Coralina, Rosa e Pessoa, o quinto capítulo do Capital, Foucault, Mario Benedetti, Mujica, Juarez Guimarães, Löwy, Maturana, Melo Neto, e tantos e tantas vidas singelas que nos modificam porque pensam, escrevem e vivem com seu brilho tatuado na própria pele.
Assim, canta o sermão da montanha...
Assim, nos encanta a vida.
O resto é silêncio.

POESIA: ECOLOGIA, UTOPIA E VIDA...

                              A MAGIA DA VIRTUALIDADE
                                                         Jorge Bichuetti

Meus desejos e sonhos mesclam-se
com as miragens de um tempo
entre o segundo e a eternidade
onde o inconcebível acontece...

Nada se mostra, então, impossível;
o incerto dilui e se reproduz,
parindo no caminho novos voos
para o reino das paisagens alegres...

Neste encantamento, não há desalento;
nas entranhas invisíveis da utopia
nascem virtualidades bailarinas
que as ébrias flores encarnam...

Findou-se a métrica da impossibilidade,
já não existem limites, vácuo ou fronteiras,
na ciranda mágica do infinitessimal
a vida verdeja sempre... incondicional.



                        CANTORIAS
                                      Jorge Bichuetti

o canário e o sabiá
cantores da arte nômade
não conhecem as tonalidades
da erudita sinfonia
dos brejeiros répteis
que chacoalham
no matagal

os madrigais impertinentes
de seriemas e pardais
são na vida sacramentados
pelos sinos que alvorecem
com os deuses
das catedrais... 
   

                              TERRA EN-CANA-NADA...
                                                            Jorge Bichuetti  

A felicidade per capita
anda
decapitada;
já o tal de Capital
para
o riso ambulante
dos pobres pardais
que chora, agora, embriagados
nos agro-canaviais...

 
                         RECLAM-AÇÃO
                                            Jorge Bichuetti  

     pio
pia  piado
capim verde
   capivara
          capiau
              aqui
                    jaz...

o cerrado
     jazz
trans-cultural...


                               OS BICHOS SÃO GENTE BOA
                        ( para o amigo e guerreiro Renato Muniz, autor do livro "Os bichos são gente boa" )


                                  Jorge Bichuetti

Gente boa é o bicho
natureza enternecida
na lealdade do animal

no mato a vida gira
com bandeira e preguiça,
ora, há luta... ora, vadiagem...

passarinhos nas nuvens
- estatuto do homem -
lições de liberdade...

mico no arvoredo
de galho em galho
fugitivo da queimada

as borboletas voam
e nas flores poetizam
uma nova humanidade

gente boa na natureza
verdejante utopia
devir-bicho: nova suavidade...

ENCONTRO COM TOM ZÉ: UM ÍNDIO TRANSPLANETÁRIO...

Solidão!... vida que se move no redemoinho do tempo, só. Só e nada mais... Cai uma lágrima, hoora de ir e buscar uma nova iliusão. Ilusão - plumagem de ave que voa para longe, busca ninho, carinho, aconchego, chamego... Axé. Vida na multidão

Dói!... Se dói, é preciso agir.
Caminhar, dar-se no mar uma rosa um feitiço... traça-se a traça... num ombro a dor desanuvia-se

Vai! a felicidade... e menina, é flor... faceiro amor.
acorde, beije o brilho de um novo dia; num amém feito de mel e melancia, gabiroba: alguma alegria.
Sonhe e a felidade vai e vem... assim, se segue sorrindo na romaria , no cirandar das utopias


                   TONS
                                Jorge Bichuetti

Angaturama poraybú
jepeá  ramó moryçaba
ramoin robebé; aê... aê... aê...

a vida segue seus rumos, diversos
caminhos e atalhos, cada um deve
encontrar seu tom  seus tons e vários 
buracos... coloridos tons, voos no espaço;
depois, é só deitar na rede e sonhar... e amar,
suavemente, enamorar-se de si e da vida,
enfeitiçado de bruxas e dementes que 
moram dentro da gente... inocentemente...

SOCIEDADE DE AMIGOS: SIMULAÇÕES E SIMULACROS...

                                         ARTIFICIALISMO
                                                     Vivaldo Bernardes de Almeida

Artificial, a flor
solitária e imponente,
quer mostrar a toda gente
que também inspira amor.

No seu caule incolor
não há seiva corrente,
seu aspecto é permanente,
suas pétalas sem odor.

Desconhece que o seu ser,
não profindo da natura,
não pôde o dom receber

de germinar e crescer,
ter o tempo de candura
e, finalmente, morrer.


                       TROVA
                                      Vivaldo Bernades de Almeida

Eu vou apagar o Sol,
prender a noite no bar;
srei boêmio de escol.
com chope, viola e luar.

MESTRES DO CAMINHO: OSCAR WILDE, UM RETRATO...

                                                  REFLEXÕES:

- " Vivemos num tempo em que as coisas desnecessárias são as únicas necessidades.
Hoje, sabemos o preço de tudo e o valor de nada."

- " O saber é fatal.
Na incerteza, é que está o encanto.
O nevoeiro dá, às coisas, aspectos maravilhosos e tudo aquilo de que temos a certeza absoluta jamais são reais.
É a fatalidade da fé, a melhor lição do romantismo."

- " Corpo e alma, alma e corpo; que dupla misteriosa! Há animalismo na alma; e o corpo tem os seus momentos de espiritualidade."

- " Todo efeito que causamos nos arranja um inimigo. Só a mediocridade é popular."

- " Só os segredos são capazes de nos tornar misteriosa ou maravilhosa a vida dos nossos dias. Eu não quero desnudar a minha alma diante de olhos frívolos e curiosos."

- " A Doce Incerteza do romance
É certo, que é romântico, uma pessoa apaixonada, mas a própria essência do romance é a incerteza."

                                 OSCAR WILDE

BONS ENCONTROS: NELSON MANDELA, APARTHEID E OS SONHOS DA LIBERDADE...

                                NELSON MANDELA, A VOZ NEGRA DOS SONHOS DE LIBERTAÇÃO

                        pequena biografia / fernando rebouças

Nelson Rolihlahla Mandela nasceu no dia 18 de julho de 1918, no vilarejo de Qunu, distrito de Umtata, Transkei. Era de origem Xhosa (etnia), na infância tornou-se no primeiro membro de sua família a freqüentar a escola. Aos 19 anos, mudou-se para Fort Beaufort para estudar e praticar esportes como boxe e corridas, tinha o objetivo de se tornar bacharel em direito. Se envolveu com o o movimento estudantil e lutando contra as políticas universitárias foi expulso da universidade, tendo que concluir o curso por correspondência pela Universidade da África do Sul.
Já se envolvia também com a oposição ao apartheid, uniu-se ao Congresso Nacional Africano (CNA) em 1942, lançando a Liga Jovem do CNA em prol dos direitos aos negros. Em 1955, participou do Congresso do Povo e da publicação da Carta da Liberdade anti-apartheid. Na década de 60, participou de lutas armadas, sendo preso em agosto de 1962.
Em 1964, foi condenado a prisão perpétua, ficou preso durante 27 anos. Em 1985, não aceitou a liberdade em troca de renunciar a luta anti-apartheid. Alcançou a liberdade em 11 de fevereiro de 1990, depois de forte pressão internacional e campanha do CNA, aos 72 anos. Recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1993, junto com o então presidente sul-africano Frederik de Klerke.
Primeiro presidente negro do país, eleito em 1994, presidiu a África do Sul até 1999. Depois da presidência continuou no trabalho em defesa aos direitos humanos; em 2004, começou a se afastar da vida pública, mantendo sua postura participativa no combate a AIDS.

  depoimentos e cartas:

-  "A civilização ocidental não apagou minha origem totalmente minha origem africana, e não esqueci meus dias de infância,quando nos reuníamos em torno dos mais velhos para ouvir a riqueza se sua sabedoria e experiência. Era o costume dos nossos antepassados, e na escola tradicional em que crescemos. Ainda hoje respeitoo os mais velhos da nossa comunidade e gosto de conversar com eles sobre os velhos tempos, quando tínhamos nosso próprio governo e vivíamos em liberdade." ( na prisão)

- " Zami e eu nos encontramos com você na festa, mas você saiu logo. Alguns dias depois dei adeus a Zami e às crianças, e agora sou um cidadão através das ondas." 1968

- " Os ideais que cultivamos, nossos maiores sonhos e esperanças mais ardentes podem não se realizar durante a nossa vida. Mas o isto não é o principal.Saber que em seu tempo você cumpriu o seu dever e viveu de acordo com as expectativas de seus companheiros é em si uma experiência compensadora e uma realização magnífica." 1985

- " A pilhagem de terras de nativos, exploração de suas riquezas minerais e outras matérias-primas brutas, o confinamento de seu povo a áreas específicas, e a restrição de seus movimentos foram, com notáveis exceções, as pedras fundamentais do colonialismo por todo o país."

               A luta é minha vida.



quinta-feira, 28 de abril de 2011

SOLIDARIEDADE É VIDA...

                       A FORÇA DA SOLIDARIEDADE
                                                     Jorge Bichuetti

Enlouquecemos, pouco a pouco, e já sabemoos o que nos fragiliza... Desejamos algo, compramos e logo caimos de novo no vazio. Vivemos, vegatativamente... Consumidores e consumidos. Vida que se arrasta e levantamos, trabalhamos, comemos, vemos TV e dormimos... Assistimos o espetáculo da vida, passivamente.
E acumulamos solidão, angústia, falta de sentido...
as ilusões cairam; e nos deixaram nus, desnutridos e na letargia.
Precisamos descobrir onde anda o coração da vida.
A solidariedade emerge , então, como uma ruptura, um salto, um sentido...
A solidariedade nos tira do poço do narcisismo e nos arranca da torre de marfin da onipotência: ela nos humaniza...
Nos dá, novamente, vida de coletividade... E nos dá coragem para mergulhar no azul infinito das utopias...
Uma lágrima secada nos tira da asfixia em que vivemos, mergulhados no nosso prnato congelado.
Um paõ partilhado nos dá asas, pois, nos permitte a expansão para além das fissuras do nosso próprio umbigo.
Uma flor cultivada nos retira do deserto... da aridez  e do oco que fudo nos fere numa vida cinzenta, onde ou morremos, vivos, ou reencontramos os sonhos perdidos.


 solidarizemo-nos...

UNIVERSIDADE POPULAR: UM ESPAÇO DE LIBERTAÇÃO...

                                                         Jorge Bichuetti

A Universidade Popular Juvenal Arduini - Upop-JA - já se constitui um espaço vivo de alegria, amizade, produção criativa de saberes e fazeres e de insurgência pela vida solidária, de direitos humanos e justiça social...
Muitos perguntam: qual é público-alvo e a que destina?
Todos que desejem caminhar, aprendendo nas trocas solidárias e se instrumentalizando para um agir e um existir
orvalhados pela afirmação da vida e da liberdade podem e serão grandes parceiros, uma vez que ela se realiza construindo-se na caminhada com participação ativa de todos.
Viva a invenção de um espaço instituinte de produção de saberes e práticas solidárias que nos possibilite um engajamento na vida no movimento da própria vida que é mudança, criatividade, acolhimento, ternura, suavidade, singularidade e devir.
Assim, a temos: dionísica na alegria e apolínea na produção criativa do novo; instituinte, já que um espaço da educação em movimento - dialogal, de escuta, de experimentações, de conjunções inventivas e de compromisso ético com a humanização e a superação das misérias imanentes à exploração, à opressão e à mistificação...
É arte, é ética do bem comum, é solidariedade viva e é uma utopia ativa...
Potencializa a capacidade crítica, o coragem dos questionamentos... Quebra a reprodução da segmentariedade dos poderes que verticalizam o vida silenciando os seres humanos; é um espaço de transversalidade, espaço liso, onde somos co-criadores e co-produtores...
Não tende à cristalização de poderes e funções, a ideia que circulemos e nos movimentemos, reinvento-nos, do diálogo da partilha.
Não é, contudo, um lugar académico a mais... Busca um estar com a vida no acolhimento das dores do mundo e na luta por um novo mundo possível.
... A mim, me parece um jardim onde florescem as flores da esperança e do sonho.
... Uma incubadora do novo e da mudança.
... Um dispositivo da transformação social.
... Um canteiro dos processos de humanização da vida e do mundo.
... Um canto de liberdade.
Vamos construi-la, caminhando.
Participe, seja , também, um co-autor desta obra coletiva.


PRÓXIMO ENCONTRO DA UPOP-JA: 14 DE MAIO DE 2011, ÀS 13 HORAS.
LOCAL: RUA CAPITÃO DOMINGOS, 1079. BAIRRO ABADIA, UBERABA - MG.
TEMAS: ARTE / ECOLOGIA / CUIDADO / PRÁTICAS SOCIAIS E PRODUÇÃO DE VIDA...
               CINECLUBE: AMARCORD - FELLINI

ESQUIZOANÁLISE E ESQUIZODRAMA: NOVOS HORIZONTES...

                                                         Jorge Bichuetti

A esquizoanálise e o esquizodrama são campos da vida instituinte... Modos de pensar e agir que negam o funcionamento paranóico. A vida se dando nas imediações do absolutismos da verdade única e totalizante e a a vida se afirmando na negação do outro. Os és... que restringem, reduzem, absotissam sendo substuidos pela conjunção e e pela compreensão de que para o bem e para o mal a ideia de autoria passa pela negação do vida se germinando no entre das relações e dos encontros...
Assim, o vemos: Deleuze e Guattari afirmarem que nunca romperam com Marx, Freud e Sartre, Espinoza, Nietzsche... Conjugaram e compuseram e colocaram em cena outros tantos: Artaud, Pasolini, Bergson, Joyce, Kafka, Proust, e outros es incontáveis, inclusive o saber popular...
Ecléticos, heterodoxos... roubam ideias e imagens, aqui e acolá, bricolando-as numa processo de percutirem-as, fazendo-as funcionarem num cenário de afirmação da vida e do devir...
Rizoma, multiplicidade... Linhas e fluxos da vida e a vida sem uma centralidade que a domine e a condicione com realidade fundante.
Todas as linhas da vida são valiosos percursos da produção do novo das subjetivações libertárias, de vida não-fascista...
Num mundo cinzento, de repetições e de evitação do novo, emergem como um insurgente interlocutor da diferença, da singularidade, do devir, da impermanência, da mudança, do novo... Da vida que supera a coisificação e ganha alteridade da produção desejante, nas linhas de fuga...
Produção desejante: fim da dicotomia excludente entre desejo e produção. Apolo e Dionísio... E deste encontro, ambos, desejo e produção, renascem reinventados: o desejo já não a lástima da falta, a eterna infelicidade pela incompletude, pela ausência do objeto desejado, pela castração. O desejo é excesso, abundância, e se deseja um conjunto - geografia e história, não um objeto, que acaba quando vivido, o desejo objetal, coisificando o outro e anulando a vivência do prazer e do amor como encontro; é um desejo que se sustenta na alegria dos bons encontros e que potencializam a vida singularizante e da cor a própria subjetividade livre. E a produção já, também, não somente a produção de bens para o mercado, a produção de um valor de troca, é produção criativa e artística de bens e vida, vida de bens e bens para a vida.
Linha de fuga - é a utopia ativa. A mudança no hoje com a invenção molecular de modos de viver e existir onde se escamoteia a vigilância dos registros e controles normativos e repressivos e se instaura experimentos de vida inovadora, o novo nos interstícios da vida.
E para eles, a revolução molecular não é outra... é imanente à revolução molar.
São uma nova ética e uma nova estética... Subjetivações libertárias. Dispositivos de produção de vida nova.
Tudo é visto pela visão arborescente: o ser humano, a sociedade e a vida  como árvores que se explicam e funcionam autoreprodutivamente, perpetuando-se, pela ordenações da raíz...
Eles viram a força do rizoma... a vida fluindo na heterogeneidade, diversidade, multiplicidades...
E viram o movimento... Nada está dado para sempre, tudo move-se e move... Subsidiam, assim, um pensar e um intervir, e um existir, onde ativamente passamos a agenciar os movimentos, produzindo o novo, e buscando alisar a vida na seus estriamentos que são construções histórica-sociais, de evitação da mudança, do novo, do devir...
Abrem-se para o que nos revela e nos modifica o ato de se permitir vida de experimentações.
E o esquizodrama - é uma ferramewnta de intervenção baseado no que um corpo que se liberado dos estriamentos e desterritorializado experimenta e nas experimentaçõesse acerca dos devires. Esquizodrama - drama do devir... Arte, um brincar, umexperimentar para que desabroche o que pode um corpo...
Não o corpo servil, mercadoria coisificada e aleienada, o corpo das experimentações que mediatizado pela arte, pela desterritorialização, pelo brincar, pelo outrar-se aventura-se corpo nômade... Corpo da vida.
Guimarães Rosa já esquiozoanalizava: o homem é travessia...

DIÁRIO DE BORDO: ESTE ENCANTO DE TERNURA, ESTE CANTO DE LIBERTAÇÃO...

                                                        Jorge Bichuetti

Rãs , sapos festejam a chuva... O resto dorme... Meus amores outros estão adormecidos. Entre eu e o quintal, um poça d'água. Longe, sei que minhas plantas estão felizes. Quietas, numa quietude suave, quietude de quem recolhe mansamente as dádivas da vida. Água da chuva. Nem mesmo os sinos respeitaram, hoje, os mandos do relógio. A Luinha já se escondeu, protegendo seus sonhos.
A chuva me acalenta...
... Penso, contudo, agora, já com dor, que talvez, haja havido alguma enchente...
Construimos e amontoamos casas e prédios, asfalto-concreto, sem perguntar pelo destino dos riachos soterrados e sem planejar para onde vai escoar nossas lágrimas.
A chuva, mesmo na tempestade, é ternura guerrilheira.
A fatalidade não vem da água; nasce da nossa urbanização que não questiona a vida, os seres humanos, a alegria e a mãe natureza.
E gastamos muito, individualmente e como coletividade, para concertar as nossas atitudes inconsequentes...
Busco, agora, mais um café: as ideias fervilham...
Durante muito tempo, para mim, ternura e lutas de libertação envolviam um dilema, uma dura contradição; como se fossem duas forças da vida tentando me possuir. E eu sofria porque queria as duas...
Esta dor já não existe... Foi-se... E não com a inesquecível frase " hay que ser firme pero sin perder la ternura jamás"... Foi-se com o sublime e encantador sorriso, meigo e terno, do inesquecível lutador incansável Comandante Ernesto Che Guevara.
Daí, talvez, venha a minha obsessão pelo sorriso de Che.
A ternura é a magia do amor que suaviza as agruras da vida, suaviza nossa vida íntima e suaviza a nossa vida de encontros, o nosso estar com o outro...
A ternura é potência, não servilismo ou submissão. Um olhar afável, um gesto carinhoso, uma apalavra acolhedora... Mudam, transformam... Criam uma nova realidade.
A ternura desmonta e desfaz hostilidades, agressividades brutas ou veladas, ódio...
A libertação não é obra do ódio; é um processo dos territórios do amor. Amor à vida, amor ao outro, amor à humanidade...
É luta, combate, guerrilha...
Somos tão narcisistas e individualistas, hostis e onipotentes, que projetamos no ato de lutar uma operação do ódio, do desamor, da agressividade...
A luta que se fertiliza é a que opera pela vida e pelo o ser humano, amorosamente...
A força da luta está na ternura...
Mesmo quando se torna necessário colocar nosso corpo num processo de luta, de combate, de enfretamento, onde se torna inevitável a emergência da violência, o que está presente é o amor; assim, a violência é ternura, pois, ela não se consuma como realização de um ato de poder, de dominação, de subjugação... Tão-somente é uma atititude ativa de afirmação da vida, da vida de todos, da vida comum...
Não odeio nem o Capital, nem os capitalistas... O capitalismo é exploração, dominação e mistificação, é negação da vida e, deste modo, um inimigo da vida.
Não nego: o quero morto, estrangulado, aniquilado - transformado pela libertação...
O Capital o quero para todos e de todos... Já teria que ter outro nome, mas o importante não são as palavras, mas vida que elas retratam... Se os bens de produção são comuns eles já não se dissociam da ternura, pois, ternamente, se tornam alimento da vida, da vida de inclusão, justiça e igualdade.
O capitalista libertado da acumulação baseada na exploração também se liberta... Se re-humaniza... Ele também é coisificado, reificado, alienado... Como coisificado e desumanizado encontra-se o oprimido.
O mal vive na relação... E lutas de libertação não são felizes quando não se percebem devires buscados para se construir novas e ternas relações.
O povo no poder... é pouco... A vida clama pelo povo no poder para destruir e reinventar os vínculos, instando na vida a ternura do encontro transversal, o não-poder.
Quem reinará?... todos e ninguém. A vida se organizará na ética do bem comum.
E é isso que levou o sorriso meigo e terno da América Latina afirmar quem sem o homem novo não se mantém, sem se efetiva o socialismo libertária... que é a ternura permeando os caminhos, os sonhos, a vida.
Que busquemos, então uma ternura libertária e uma libertação terna...

POESIA: IMPONDERÁVEIS DEVIRES...

                                      DEUS
                                          Jorge Bichuetti

Ontem, eras invisível
brisa ventania ar;
correnteza rio
uma centelha do fogo
uma chama do amor,
eras imponderável...

Agora, comigo vives
canto poesia sonhos;
vadiagem noturna
um brilho de sedução
um filho na folia,
vives saltitante...

Antes, eu me ajoelhava
e orando, penitente,
no céu te imaginava;
hoje, danço e canto,
aninhado nos teus braços
te vejo andarilho no chão...


                     VITALISMO EXISTENCIAL
                                                                 Jorge Bichuetti

A vida anda ziguezagueando
pelas vielas enigmáticas
do meu bem querer...
Nas flores, ela é o néctar
e as borboletas... voo.
Nas aves, ela é o ninho
e as cantigas... pio.
Nos amores, ela é o desejo
e o carinho... cio.
Nos sonhos, ela é o porvir
e a luta... aurora,
um rio buscando o mar
e o mar no azul do céu...


                             HAIKAI DA CRIAÇÃO
                                                       Jorge Bichuetti

o cerrado ecoa
os sons e cores da vida.
eterna nascente...


               PARA ALÉM DA PARANÓIA, O AMOR
                                                                Jorge Bichuetti

Amas, desconfiado,
bicho do mato
arma tocaia;
porém, o amor voa
e, alto, cativa o céu,
bailando co'as estrelas
e brincando com o luar...

O amor escorre,
escapole e chove
água correnteza
ondeia etérea fluidez
nascente sereno mina
as algemas não o retém...

na liberdade, dá-se... amém


                      ESQUIZOAFETO
                                                   Jorge Bichuetti

Amor florescente
na pele circula
e irradia...
Multiplica-se e
contagia, vira
multitudes
insurgentes
noo amor de
sibilantes
sementes...

Assim, nasce um jardim;
assim, o amor primavera...