Pra Pasárgada lá vou eu
Graça Machado
Dia desses me pus a pensar...
E pensando lembrei-me de
Manuel Bandeira e sua Pasárgada.
Acho que vou fazer como ele.
Vou-me embora pra Pasárgada.
Não sou amiga do rei,
Não escolherei mulheres,
Mas a cama eu poderei.
Aqui também não sou feliz,
Se lá a existência é uma
Aventura,
Aqui de tão difícil
Virou tortura.
Torturante tão,
Que Joana, a louca de Espanha
Não seria a falsa demente
Vivendo em desventura inconsequente.
Permanente e eternamente,
Carente,
Seria simples e idiotamente,
Sempre, Joana.
Joanamente somente.
Quero ir-me embora pra Pasárgada.
Lá sim, driblarei o tempo...
E farei ginástica...
Bicicleta?!
Oh! Como andarei!
Farei coisas que aqui,
Nem me lembro de fazer.
Ou nem pensei que pudesse,
Ou que um dia eu quisesse.
Burro “brabo” lá vou eu.
Pau-de-sebo, eis que chego.
Banhos de mar?!
Ah! Sim os tomarei.
E depois de tudo isso...
Cansaço? Que nada!
Cansaço, sinto aqui.
Lá não sou amiga do rei,
Mas deitada na beira do rio,
Posso conversar com a mãe d’água
E ela vai me contar histórias,
Que no tempo de eu menina,
Papai contava pra mim.
Ei, Pasárgada, lá vou eu.
O poeta disse que
Em Pasárgada tem de tudo,
Que é outra civilização.
Acho até que tem um
Processo seguro de
Impedir a corrupção.
Não precisa telefone com grampo,
Mas tem alcalóide à vontade.
Tem até prostitutas bonitas que,
Pra quem gosta,
Dá até pra namorar.
E quando estiver triste...
Não! Triste de não ter jeito,
Isso estou aqui.
Quando a noite chegar
Não terei vontade de chorar,
Vou me lembrar que
Lá não sou amiga do rei,
Que não escolherei mulheres,
Mas a cama eu poderei. Por isso,
Vou-me embora pra Pasárgada.
E comigo levarei as fadinhas
Da Sylvia Orthoff.
Quem sabe não são elas
As contraparentes da nora
Que jamais terei.
E Pasárgada não é tão longe assim.
É aí, é aqui, é ali
É cá, é lá, é acolá.
É em ti, é em mim.
É qualquer lugar,
Lugar de ser feliz.
Vamos juntas pra Pasárgada
E as fadinhas vão gostar.
A branquinha e a pretinha
Coladinhas vão brincar.
Tem celestes azuizinhas
E as madrinhas são clarinhas.
As lilases são terrestres e
As morenas ligeirinhas.
Tem fadinhas e fadonas,
Duendinhos e maguinhos,
Alegrinhos, contentinhos,
Mas também têm os tristinhos.
E o rei que é de Pasárgada,
Com certeza vai gostar.
Porque aqui vão ficar as bruxildas bem bruxonas
E os monstrões cafajestões.
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