domingo, 14 de agosto de 2011

DIÁRIO DE BORDO: ACORDAR, SONHANDO...

                                        Jorge Bichuetti

Perdi a hora. Não lhes posso dizer do belo luar nem das cores da aurora... Lá fora, no quintal, ainda estão os passarinhos e os álamos, mas, já cuidam da vida... Então, hoje, com desculpas pelo atraso, somos nós... eu e vocês... nós, os clamores da vida; nós, a sede de acordar, sonhando... Este é o nome de um formoso blog que inclusive postamos um soneto maravilhoso - canta o amor, Sol de Esteva... Queria Marta Rúbia por aqui... mas, anda no chão que também é chão nosso, viaja pela América Latina... Ontem, a Universidade Popular foi aconchego e partilha; alegria e ternura... Um convite ao engajamento, ao compromisso social. Tivemos no cineclube um filme especial: Encontro com MIlton Santos... Me emocionei com as crianças que não são crianças; o tempo passa e os velhos demoram a sentir a temporalidade das mudanças: hoje, são jovens.. é que a Universidade Popular caminha... e a alegria de ver a utopia saltando as barreiras que separam os sonhos da realidade me encantam e me fazem nostálgico. Por acaso quando tivemos que buscar um lugar, pois  a minha casa ficou pequena para abrigar o trabalho da Universidade Popular, voamos e pousamos num território irmão, onde menino comecei minhas atividades de sonhador, de guerreiro na luta por um outro mundo possível e necessário... E ai, ontem, revivi um bairro que era no tempo meu de menino um acampamento de lona, plástico e papelão... Recordei o trabalho no Gameleira... O movimento estudantil em Uberaba se reconstruiu em conexão com trabalhos de parceria com o movimento popular...
E, talvez, movido pelas lembranças que as lágrimas não me permitem narrar hoje... gostaria de celebrar um trabalho, o trabalho de lágrimas e sonhos, resistência e insurgência das Mães... Das Madres da Plaza de Mayo.
As conheci e com elas convivo... num vínculo mediado pela saúde mental. A saúde mental é meu cais... e uma tecelagem de asas...
O que falarei? Há tanto para ser partilhado...
As apresentarei via suas palavras de ordem...
- Nenhum passo atrás...
- Aparição com vida...
- O outro sou eu...
- Sonhos partilhados...
Quando as conheci... tive um pequeno conflito, nada grave. Talvez, fosse melhor dizer - paguei um mico...
Dialogando, disse que talvez, a comercialização dos lenços que usam fosse uma fonte valiosa para sustentação do trabalho...
Me olharam e com seriedade , me disseram: Nosso lenço é a fralda dos nossos filhos desaparecidos...  Não é um adereço, nem um emblema... è a lágrima que se torna luta e na luta se faz esperança, solidariedade e partilha...
Voltei pro hotel entre o rosto contraído pela vergonha e a emoção das lágrimas que nos subjetivam homem novo, homem de compaixão e luta...
Este caso, pensado à luz do que viveram, me obrigada a deixar suas palavras de ordem e repensar o que temos feito na redemocratização do nosso país... Pergunto: vamos apagar da história nossos mártires?...
Vamos esquecer a tortura, o assassinato, a crueldade da ditadura militar tergiversando o assunto nas indenizações e nas covardes autocríticas que negam a valentia dos nossos heróis?...
Vidas pela Causa...
Precisamos agir...
A Comissão da Verdade, da Memória e da Justiça é uma luta que nos obriga a pensar de que lado nos colocamos na vida...
Na escuridão da noite interminável, muitos se foram...
Quantas cicatrizes!...
Apagar a história é covardemente abrir as janelas da nossa casa-vida para que os horrores se repitam...
Direitos humanos, sim; tortura nunca mais...
Lutemos, ousemos exigir...
Celebremos a vida nas vidas que dão para que tenhamos um mundo de ternura e paz...


 

tortura nunca mais

a vida voa nas asas da liberdade

2 comentários:

Mila Pires disse...

Bom dia Jorge, meu querido!
Que bom saber as news de ontem...Fico muito feliz convosco e os avanços da Universidade!
Vamos seguindo entre sonhos, pedras flores e devir ternura...
Beijos...com carinho...sempre!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Mila: estes momentos de carinho e paz... de ânimo nos projetos fprtalecem e asserenam... Abs ternos, jorge