segunda-feira, 8 de agosto de 2011

DIÁRIO DE BORDO: ANDARILHOS DO HORIZONTE AZUL...

                                           Jorge Bichuetti

Hoje, a madrugada acelerou seus passos... fiquei pensando que a vida anda ansiosa, cheia de desejos e sonhos, esperando, como quem conta os segundos, o alvorecer... Ontem, foi um dia de muitas saudades... A saudade povoa; porém, nos deixa com uma sensação de solidão... Rio Grande, Valizas, Araguaína... Quanta saudade!... Embora, seja pacato e sossegado, tenho tido uma vida de andarilho... Aqui, hoje, despertei-me no silêncio; porém, logo, a Luínha já estava fazendo seu trabalho de vigilante... E la acordou mais cedo os sons do alvorecer...   A vida, assim, aqui, me tem... E ela me tem com a convicção de quem sou um amante destemido que vive seduzido pelos clamores do horizonte...
Não escutei Cartola, nem Noel... Não pude, também, ler meus contos indígenas... Vivi um domingo comum...
Organizando papéis, descansando... Esta é a semana do encontro mensal da Universidade Popular... Minha materialidade de peregrino apaixonado pelas sugestões do horizonte...
O horizonte é uma amigo polivalente: às vezes, o miramos e nos sentimos na quietude serena do aconchego, ele é colo; doutras vezes, vendo-o, sentimo-nos embriagados pela potência dos sonhos e pela vida que clama... clamores do porvir.
O amo nas suas duas faces; e o acolho, auscultando seus dizeres...
Nunca sei se ele sacode meu psiquismo e traz para a superfície o que ali já havia e estava adormecido; ou se, ele me revela na voz do vento sentimentos e pensamentos que chegam de longe...
Ele quebra o meu relógio e impõe no agora um instigante amanhã; como me faz ser paciente degustando o amanhã no agora... Ele é um chamado para o caminho, para a luta... E ele é, igualmente,  a serenidade e a paz com que suporta a fragilidade e a lentidão dos meus passos no caminho.
O horizonte me humaniza: ativo guerreiro que ousa sonhar e lutar por desbravar no hoje o amanhã e resignado caminhante que tolera paciente a vulnerabilidade e a fragilidade do humano que eu carrego e sou...
Que equilíbrio difícil!...  Andar, lutar, resistir, rebelar-me... Contudo, nunca se esquecendo dos meus limites e fragilidades...
Como a vida, eu tenho sede... tenho sede de um novo tempo, um novo mundo, uma nova vida...
E não quero como somente um ideal para um futuro impreciso; a quero já...
Assim, canto-a, mas, também, vou tecendo-a...
Assim, a poetizo, mas, lentamente, vou construindo-a...
Recordo aqui Guattari: Militar é agir...
Com emoção, recordo Dona Hebe de Bonafini, Madre de Plaza de Mayo: revolução se faz, fazendo-a; revolução se faz, partilhando; revolução se faz, se dando...
Ou em Juvenal Arduini: ser da estrada, mas procurar ao ser da estrada tornar-se caminho...
Ou com Gandhi: lutar pelas mudanças sendo, em si própria, a mudança...
Tudo me pareceria impossível, se não fosse a força do horizonte... que nas atribulações, nos acalenta... e sempre nos seduz, clamando por novos passos...

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