Jorge Bichuetti
Corpo nu retalhado,
navalha no chão posta;
como se ali permanecesse
o desejo de uma nova morte...
No asfalto, este sangue... este
sangue que agora se dilui nas
correntes de lágrimas da pobre mãe
que abraço o filho caído... ninando-o
com seu pranto, martírio canibal...
Especialistas declaram
no corre-corre da polícia
que, de antemão, já esqueceu o caso...
A garoa da cidade e a fumaça
das fábricas, nublam,
mas não ocultam
a ira do céu indignado...
No céu, grita por justiça
a vida metamorfoseada
no esplendor de um arco-íris...
E os deuses sofrem calados.
Vendo o amor condenado,
sentem-se da Terra exilados...
Uma flor e uma estrela
solfejam um hino de paz;
esperança que se exalta...
E a vida continua:
a justiça engaveta,
o amor segue envergonhado,
os deuses choram piedosos,
impotentes, pois a turba livre age e se sente:
- pais e filhos da navalha. AMORES TRANSVERSAIS
Jorge Bichuetti
Olhares no infinito; olhos cabisbaixos...
Corpos num cio transversal e a vida
se vê proíbida pelos que armam, na
ordenana da morte, ardis e vilanias:
amar é ilegal; a matança, orgulho e
manchete, brinde e taças nos jornais...
Um pastor de vozerio e terno cru é
a voz que explica e narra o natural;
a natureza humilhada contorne nua,
não consegue ser vista e escutada.
Ela, trêmula, indignada, nada pode
com o fascismo capilarizado e rei
das hordas canibais que desconhecem
que o amor é germinação da vida e
expressão de Deus... puro e angélico,
é caminho e é luz: nu'a aurora boreal...
Assim, caminha o abismo, a desumanidade...
DEUS
Jorge Bichuetti
No bailado da imensidão, Ele
é a música e a alegria, aconchego,
mão, compreensão...
Nos agrestes caminhos, Ele
é a chuva e a flor, um passarin;
cúmplice compaixão...
Verdeja nas matas; venta e dá
ao rio os abraços do mar; assim,
é um só e sempre amar...
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