segunda-feira, 8 de agosto de 2011

POESIA: AMORES TRANSVERSAIS

                                     ESTE SANGUE...
                                                    Jorge Bichuetti

Corpo nu retalhado,
navalha no chão posta;
como se ali permanecesse 
o desejo de uma nova morte...

No asfalto, este sangue... este
sangue que agora se dilui nas
correntes de lágrimas da pobre mãe
que abraço o filho caído... ninando-o
com seu pranto, martírio canibal...

Especialistas declaram
no corre-corre da polícia
que, de antemão, já esqueceu o caso...

A garoa da cidade e a fumaça
das fábricas, nublam, 
mas não ocultam
a ira do céu indignado...
No céu, grita por justiça
a vida metamorfoseada
no esplendor de um arco-íris...

E os deuses sofrem calados.

Vendo o amor condenado, 
sentem-se da Terra exilados...

Uma flor e uma estrela
solfejam um hino de paz;
esperança que se exalta...

E a vida continua:
a justiça engaveta,
o amor segue envergonhado,
os deuses choram piedosos,
impotentes, pois a turba livre age e se sente:
- pais e filhos da navalha.


                          AMORES TRANSVERSAIS
                                                       Jorge Bichuetti

Olhares no infinito; olhos cabisbaixos...
Corpos num cio transversal e a vida
se vê proíbida pelos que armam, na
ordenana da morte, ardis e vilanias:
amar é ilegal; a matança, orgulho e
manchete, brinde e taças nos jornais...

Um pastor de vozerio e terno cru é
a voz que explica e narra o natural;
a natureza humilhada contorne nua,
não consegue ser vista e escutada.
Ela, trêmula, indignada, nada pode
com o fascismo capilarizado e rei

das hordas canibais que desconhecem 
que o amor  é germinação da vida e
expressão de Deus... puro e angélico,
é caminho e é luz: nu'a aurora boreal...

Assim, caminha  o abismo, a desumanidade...


                               DEUS
                                  Jorge Bichuetti

No bailado da imensidão, Ele
é a música e a alegria, aconchego,
mão, compreensão...

Nos agrestes caminhos, Ele
é a chuva e a flor, um passarin;
cúmplice compaixão...

Verdeja nas matas; venta e dá
ao rio os abraços do mar; assim,
é um só e sempre amar...

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